Continuando na minha saga de clicar em coisas que antigamente não me permitia, resolvi finalmente jogar Moonlighter. Este jogo não me deixou descansar a cabeça durante imenso tempo porque era o único que tinha pedido mas depois não tinha dado a cobertura. Embora não tivesse sido minha responsabilidade, estou agora a compensar a falha. Soubesse eu na altura o quão divertido o jogo era, teria sido eu a jogá-lo.
Moonlighter é um dungeon crawler, roguelite com um componente interessante em que temos uma loja onde no final de cada run podemos vender os itens que ganhamos para adquirir o inestimável ouro, que nos permite comprar imprescindíveis upgrades, que facilitam o nosso progresso. E eis que em duas linhas explico todo o loop do jogo.
Controlamos Will acabado de herdar uma loja do seu pai, mas com o sonho de ser um aventureiro e explorar as masmorras que se encontram ao lado do seu vilarejo, actividade que granjeou fama e reconhecimento a muitos antes dele. O direito ao contraditório é exercido por Zenon, um velhote que constantemente tenta incutir algum juízo na nossa cabeça e nos incentiva a prestar mais atenção à loja que às nossas incursões nocturnas nas masmorras, envoltas em sonhos de heroísmo.
O combate não é complexo e rapidamente apanhamos os padrões dos inimigos gerados em cada uma das 5 diferentes masmorras. A maior parte das minhas mortes deveram-se a dois factores distintos, excesso de confiança ou ao facto de não temporizar bem um rolamento após um ataque, já que há uma temporização própria que temos de fazer para executar bem esse movimento, algo dificultado pelo facto do nosso boneco não ser capaz de atacar ao mesmo tempo que anda. Eu entendo bem essa sensação de não ser capaz de fazer duas coisas ao mesmo tempo…
Falando de forma simplista apenas estamos dependentes do movimento de ataque, rolamento ou uma espécie de bash que fazemos com o escudo, mas que admito nunca ter percebido bem e não usei, alavanquei todo o meu progresso no movimento de ataque e rolamento, e mesmo a díade entre combate à distância e combate corpo-a-corpo não me pareceu equilibrada.
Um dos problemas que tive com o jogo foi apenas permitir movimentos em 4 direcções, o que me fez imediatamente deixar o teclado e rato fora da equação e, indirectamente, dificultou o uso de arco e flecha, arma que necessitava de muito mais precisão que as armas corpo-a-corpo, sem ter o habitual ganho com a segurança de lutar à distância, já que alguns inimigos exigiam mesmo a proximidade e outros conseguiam atacar-nos do outro lado da masmorra. Outra vantagem grande das armas corpo-a-corpo era a de não necessitarem de estar na mesma linha do inimigo, bastava estarem um pouco ao lado para o conseguirem atingir, o que fazia com que alguns inimigos nunca nos conseguissem atingir, no fundo era um exploit que nos ajudava perante alguns inimigos que, doutra forma, seriam bastante mais incómodos de eliminar.
O progresso no jogo é extremamente rápido. Em nenhum momento me senti aborrecido e muito foi por esta sensação de constante evolução, já que o loop do jogo em si é muito repetitivo e o combate não é muito diverso. Muitas vezes os próprios inimigos parecem reinterpretações de inimigos doutras masmorras, usando padrões similares debaixo doutra pele.
Conjugar a escolha entre itens para vender ou itens para guardar e usar na construção de novas armas foi sempre simples, já que Moonlighter não é um daqueles jogos inacessíveis. Se em algum momento a minha prioridade fosse o ouro, eu podia simplesmente vender todo o meu inventário sabendo que num par de runs poderia reaver boa parte dos itens. Usualmente se queria determinado upgrade, este apenas se encontrava à distância duma viagem ou, com azar, de duas.
Há um componente de investimento na loja ou na cidade. Se por um lado investir na nossa loja nos permite guardar muito mais itens ou ganhar muito mais dinheiro, investir na cidade permite-nos ter acesso aos imprescindíveis upgrades. Automaticamente percebemos o equilíbrio entre todos pois os preços de cada comodidade estão bem padronizados e isso de forma sub-reptícia encaminha-nos para uma forma de progredir. Usualmente não gosto disso, mas aqui isso foi importante para vincar aquela sensação constante de progresso.
Investir na cidade faz com que outros mercadores queiram ir para lá e abrir as suas lojas sem necessidade de intervenção directa da nossa parte (vulgo, investimento monetário).
A gestão do inventário a cada run é um bocado esquisita. O jogo tem uma carta de escapar da prisão. Por uma quantidade baixa de ouro podemos sair das masmorras e voltar à cidade com todos os itens que temos no inventário. A alternativa a isto é morrermos e sairmos apenas com o que temos nos bolsos. Não é a perda dos itens que realmente nos chateia, já que bastam mais dois ou três minutos, nem tão pouco nos chateamos com a mecânica em que muitos dos itens têm maldições que nos forçam a colocá-los em determinados locais sob pena de eliminarem outros itens, o que realmente nos chateia é que mal adquirimos a destreza e força para nos mexermos nos níveis com maior facilidade, o espaço é bastante curto na nossa mochila. No fundo é esse o sinal para percebermos que já não somos bem-vindos nessa masmorra e é altura de derrotarmos o boss e avançarmos para a seguinte.
Moonlighter é um jogo muitíssimo interessante. Pegar num conjunto de mecânicas usualmente associadas a jogos mais difíceis e torná-lo mais acessível a pessoas com menos destreza (como eu) é para mim um ponto positivo, ao mesmo tempo em que encontrou uma forma de nos fazer sentir que estamos a progredir de forma constante mantém-nos permanentemente envolvidos e a avançar. Se nesta altura ainda não o jogaram podem aproveitar para irem picar o ponto ao Game Pass, como foi o meu caso, ou esperarem por uma promoção, já que aparece múltiplas vezes a preços muito simpáticos. Adorei o jogo e recomendo vivamente.