FORECLOSED é como aquele nosso amigo em que toda a gente repara porque toda a roupa que veste é fluorescente, mas mal começamos a falar com ele notamos que há pouco na sua conversa que valha realmente a pena.

FORECLOSED tem um estilo visual lindíssimo. Faz lembrar um livro de banda desenhada, quer no estilo, quer mesmo em muitas transições em que passa directamente duma secção jogável que ocupa todo o ecrã para uma vinheta ou tira. Com onomatopeias a aparecer a cada minuto, a espaços fez-me lembrar Void Bastards, embora sem ter qualquer pretensão humorística. Estas transições até eram extensivas a momentos de cinemática, que chegaram a me deixar a olhar para o ecrã antes de perceber que já era eu a jogar.

Infelizmente, e embora não na mesma escala, sofre do mesmo problema de The Ascent, pois o excelente visual não é acompanhado pelos restantes aspectos.

Já na altura dos zombies a temática foi explorada até me deixar a vomitar pelos olhos, e agora parece ser a moda cyberpunk. FORECLOSED é mais um desses e, admito, gostei muito mais desta palete de cores do que habitualmente, se bem que isso é fruto do muito bem conseguido estilo visual. A história é muito medianinha, assente num roubo de identidade, que posteriormente soube ser baseada em factos reais, algo que aconteceu com um dos programadores. Gostava de dizer que não conheço a sensação, mas até imagino.

Não sou muito de mudar as configurações do jogo, mas desta vez impliquei com o facto de não conseguir reprogramar as teclas, num esquema de controlo bastante… original. Realmente faria alguma diferença poder fazê-lo pois há acções em que não conseguia, por inépcia admito, carregar numa das teclas sem mudar a posição da mão esquerda.

Até gostei do início do jogo. Resumidamente jogamos como se joga qualquer jogo de tiros em terceira pessoa, acrescentando também um interessante sistema de cobertura providenciado pela opção de mudarmos o lado pelo qual abordamos uma esquina, algo que usualmente é predefinido pelo próprio jogo. Há também um componente de puzzles e partes de stealth que nunca pareceram enquadrar bem no restante cenário, ora porque é impossível ultrapassar todas as vagas de inimigos dessa forma, o que elimina a sensação de recompensa, ou é forçada em secções que se tornam lentas e pouco motivantes.

Com o passar do tempo vamos ganhando pontos que servem para adquirirmos habilidades para nós e para a nossa arma. Se por um lado as habilidades que vamos adquirindo são extremamente poderosas e imperiosas para a nossa progressão, dando mesmo uma sensação que se inspiraram em Control, fico com a ideia oposta quando penso nas evoluções para a nossa arma. Admitindo que no papel são boas, a maneira como são implementadas faz com que a conjugação da nossa arma sem qualquer upgrade com as nossas habilidades seja a maneira ideal para atravessarmos as sucessivas turbas de inimigos que nos aparecem nos corredores.

A própria inteligência dos inimigos deixa bastante a desejar. Aparentam não estar minimamente programados para nos evitarem ou se esconderem, ou seja, limitam-se a vir direitos a nós ou ficam parados a disparar numa sequência previsível de balas que nos permite avaliar de forma efectiva quando é mais seguro sair detrás de cobertura e disparar sem nos transformarmos num ralador.

Até este ponto, e mesmo considerando que o jogo é curtíssimo (menos de quatro horas), até podia dizer que era divertido, porque efectivamente o é, só que eu tenho de falar no que para mim é, não um elefante, mas um dinossauro na sala. Todas as opções de diálogo são fictícias. Não interessa o que escolhemos porque a resposta é invariavelmente igual. Admito que não testei isto com todos os diálogos, mas pela força da curiosidade testei com meia dúzia deles, inclusive o final da história. Isto é, na minha opinião, um atentado à nossa inteligência e um completo atirar para o lixo de qualquer replay value. Num jogo perfeitamente jogável, não me sinto minimamente compelido a ir jogá-lo novamente. Apresentarem-nos opções múltiplas que depois acabam por ser sempre a mesma é o mesmo que cortarem a eletricidade a meio dum concerto do Jean-Michel Jarre.

Assim chegamos à parte final da análise. Será que FORECLOSED vale a pena? Esta mistura de Control com Void Bastards tem tanto de criativo como de aborrecido e desinteressante. O jogo está ali num limbo peculiar, mas sendo uma experiência bastante curta hesito em recomendá-lo. Imagino que em breve se encontre com um desconto acentuado, e nessa altura talvez seja a altura certa para o jogar.