Não sou minimamente saudosista acerca de qualquer uma das consolas da PlayStation. Tive uma PS2 já em final de vida, para a qual provavelmente nem cheguei a comprar 10 jogos e todos eles do cesto das promoções. Tive também uma PSP, mas na altura, já casado e a trabalhar, o facto da consola ser portátil não me dava qualquer vantagem, e preferi sempre jogar no PC ou mesmo na Wii. Ao jogar Astro’s Playroom não valorizei minimamente a componente emocional logo, será o resto do jogo sustentável para um “não crente”, ou não passa dum tech demo?

Não tinha mais nada para jogar na consola mal a adquiri. Provavelmente acabei por fazer o mesmo que muitos e joguei o que já estava incluído no pacote. Astro’s Playroom faz de Wii Sports na versão PS5, pois mais que um jogo pretende mostrar todo o potencial que o novo DualSense está equipado para oferecer. E como faz bem essa parte…

O jogo está dividido em 4 áreas principais, cada uma delas com alguns minijogos feitos especialmente para cada função do DualSense. Não sou fã do posicionamento simétrico dos analógicos do comando, nunca fui, sempre preferi a colocação assimétrica dos comandos da Xbox e continuo a preferir, mas neste momento passou a ser a única coisa que prefiro nele.

Não vale a pena entrar em grande detalhe com o jogo, o Rui Parreira já o fez anteriormente, mas eu não consigo encarar o jogo da mesma forma que ele. Com Wii Sports, por exemplo, eu tive um jogo que joguei imenso tempo, voltei múltiplas vezes a ele, joguei com diversos amigos. Tornou-se muito mais que uma demonstração do potencial daquele comando esquisito que a Wii trazia consigo. Dadas todas as suas características, Astro’s Playroom não é um desses jogos, não é de todo um party-game, mas é entretido o suficiente para mesmo alguém como eu a quem as múltiplas referências e easter eggs não dizem nada, nem sequer pensar em parar um bocado, dadas as sucessivas novas mecânicas que nos são apresentadas.

E é exactamente isto. A Sony conseguiu juntar este showroom de forma tão coerente e interessante que eu nunca quis parar. Sentei-me uma noite e tive de parar para ir dormir, mas mal recomecei no dia seguinte só parei depois de acabar o jogo. Claro que não é um jogo de 40 horas, serão talvez umas 4, mas mesmo assim nem sempre é fácil juntar as pontas a algo que nem história tem.

O que logo me saltou ao toque foi o feedback háptico. Impressionou-me desde a primeira experiência o quão refinado este é. Estou habituado a vibração bruta e desorganizada mais ou menos espalhada pelo comando, mas isto é como o surround sound da vibração, especialmente quando está a chover no jogo. Estou fã! A certo ponto estava a reparar nas diferenças da vibração consoante as texturas, consoante o lado onde éramos atingidos, consoante a acção. É excelente.

O que também vale a pena é o force feedback dos gatilhos. A força que estes imprimem contra os nossos dedos consoante nós temos de disparar. Este jogo não foi a melhor montra para isso, mas imaginei de imediato as possibilidades, a maneira como poderia lidar com a tensão, a própria mecânica de acelerar ou travar num jogo de condução. Há aqui tanto para explorar.

Melhor do que esperava foi também o motion control. Embora haja lugar a evolução parece até mais preciso que o do Pro Controller da Switch. Posso estar enviesado por não ter jogado nada na consola da Nintendo há algum tempo, mas os minijogos em que este era usado foram facílimos de controlar.

O que continua sem me dizer nada são os comandos tácteis no topo do comando. Parecem-me pouco práticos, obrigando a mão a sair do local, e de aplicação mais limitada. Parece ali colocado para os jogos exclusivos, mas não me parece que vá fazer muito falta. Também não acho que ter o microfone no comando seja necessário, mas não há mal que venha ao mundo em ele estar lá, e pode poupar uns trocos a quem não tem um headset compatível com a consola. A mecânica em que é capaz de reconhecer o sopro é engraçada, mas também não me parece que vá alterar as regras dos jogos.

Então Astro’s Playroom é para mim somente um tech demo, mas um excelente tech demo. Este é feito quase para servir de tutorial ao DualSense e para apelar à nostalgia dos fãs. Volto agora à vaca fria. E para os agnósticos da Sony como é o meu caso? Vale bastante a pena jogar. O jogo é superdivertido e duvido que alguém dê por mal empregue o tempo que estiver a jogá-lo, o mais certo é até voltar atrás e repetir níveis para encontrar e colecionar tudo o que o jogo tem para oferecer. Recomendo vivamente!