Estamos a poucas semanas das eleições autárquicas, o que quer dizer que a grande parte das freguesias daqueles que nos leem estão com mais estaleiros de obras do que a zona que ficava ao final da Avenida de Berlim ali entre 1996 e 1998. Desculpem a referência para todos aqueles que não são dos Olivais: falo de uma zona de literal lixeira que foi reabilitada para albergar a Expo 98, e que transformou por completo (e valorizou, e muito) a zona onde eu nasci e cresci.

Visto que não só não só não candidato autárquico como não apoio oficialmente nenhuma lista (apesar dos muitos e muitos amigos de diversos quadrantes políticos – menos do Chega – que tenho a concorrerem), posso dedicar-me a ser um autarca por vezes despótico num city builder em Early Access. Num ano com bons exemplos do género que tem sido revitalizado, a “sorte” do mês calhou a Patron.

É possível que eu nunca tenha jogado um city builder tão penalizador quanto Patron. Já por 12 vezes tive que fazer New Game porque a minha povoação ficou económica e socialmente inviável com o abandono e morte dos meus aldeões.

Patron é muito streamlined em termos de city building. Utiliza muitas das fórmulas dos seus antecessores, e essa é uma das razões pela qual soa tão familiar a qualquer habitué de jogos de gestão. 

O estúdio Overseer Games diz que a atenção dada às ligações sociais entre os cidadãos é um dos seus pontos fortes, com os gostos e vontades individuais de cada um dos nossos habitantes a necessitar da nossa atenção.

Mas para vos ser sincero, ainda não cheguei a aprofundar e a tirar as teimas dessas enunciadas ligações sociais dado que a run actual é aquela em que o meu aldeamento se mantém intacto há mais tempo (já explico porquê) e o meu foco é em permitir que os meus cidadãos sobrevivam.

Depois de passar cerca de dez horas com Patron – sendo que a maioria dessas horas foi a falhar redondamente – é-me difícil não perceber que este jogo, apesar das suas qualidades, tem graves problemas de ritmo. 

A solução para manter a minha sociedade viável foi a de desacelerar por completo qualquer progresso, tornando-me numa estrutura agro-piscatória. Nada de avanço tecnológico ou de extracção mineral, visto que o reduzido número de habitantes me obriga a direccioná-los quase por inteiro para a produção de comida.

E fi-lo por perceber que nas minhas tentativas anteriores a minha necessidade de progresso e expansão era determinística para a minha corrosão social, com as minhas povoações a sofrerem pela falta de comida e o consequente abandono e morte dos meus habitantes.

Como dizia, Patron tem problemas de ritmo, e um deles é o quão difícil é ter mão-de-obra viável, seja pela imigração, pelo envio de prisioneiros para a nossa colónia sob ordens da Coroa, ou esperando que as nossas crianças atinjam a idade adulta.

Encontrar o equilíbrio entre avanço e sustentabilidade é algo difícil no mundo real, mas que Patron transforma num verdadeiro pesadelo. Não fosse a excelente banda-sonora de Nikola “Nikita” Jeremić e todo este processo seria muito mais penoso do que é.

O outro problema da falta de mão de obra é que Patron nos obriga a escolher entre especializar aldeões a uma profissão – assignando-os a um edifício de produção – ou a tê-los livres como recolectores e construtores. Dada a óbvia falta de aldeões que a nossa aldeia possui para o seu próprio progresso, somos muitas vezes obrigados a deixar edifícios semi-ocupados ou simplesmente a não investir em novos meios de produção visto que não temos gente suficiente para lá trabalhar.

Sendo verdade que este city builder tenta representar as agruras da vida medieval, enganando-nos com uma aparente aura relaxante, onde apenas a fome, a morte a infelicidade dos nossos aldeões são um real perigo. O que – sendo eu um social-democrata – deixa uma ponto ideológico com o qual tenho de concordar: nada, nem a economia nem o progresso se sobrepõem ao valor e à dignidade humanas. Mas do ponto de vista mecânico há muito pouca profundidade neste momento de desenvolvimento de Patron. Não existem missões nem perigos para além de sobreviver. Nem a existência de estações do ano, especialmente o Inverno que costuma ser rigoroso e prejudicar a obtenção de comida, representa um perigo per se. 

Patron tem um longo caminho de equilíbrio e aprofundamento mecânico para fazer, sendo que os seus autores vão ter seriamente de repensar o seu ritmo. Neste momento Patron é interessante como city builder mas tem muito a aprender com outros jogos do género, que souberam encontrar num ambiente medieval o equilíbrio certo onde se colocam os bons jogos.