Não sei quanto a vós, mas eu já jogo há muitos anos. A primeira memória de felicidade que tenho é de receber o Street Racer para a Mega Drive, no meu aniversário (não digam à minha mulher). Ainda hoje o jogo e revivo memórias de tardes bem-passadas. É normal, também, procurar nas minhas revistas por críticas de jogos que, na altura, não consegui comprar e experimentar. Hoje em dia, contudo, é diferente. É fácil encontrar um jogo de computador antigo e voltar àquela época em que não tinha de pagar contas e a única coisa que me preocupava era no que raio de bicharoco o Buu buu se ia transformar desta vez.

Isto traz-nos a um jogo que desenterrei do fundo do armário, perdido no meio de incontáveis bolsas de CD, que os amigos dos amigos atiravam de um lado para o outro, feito Matutolas. Para os nossos leitores mais novos, os Matutolas eram pequenas peças de acrílico rijo “como pedra”, que surgiram a seguir aos Tazos e que faziam as nossas unhas parecer um espetro do roxo ao esverdeado. Diziam, na altura, que os cientistas e engenheiros estudavam as propriedades destes demoníacos destruidores de cutículas para o desenvolvimento de coletes de kevlar.

Esse jogo é o Force 21. O que quer dizer Force 21? Não faço a mínima ideia, mas a internet diz tem a ver com estratégia militar do Estados Unidos… óbvio, sendo este jogo desenvolvido pelos mesmos criadores do Rainbow Six, a Red Storm Entertainment. Se isso vos leva a crer que isto é um certificado de qualidade, calma, pois enquanto Rainbow Six é um jogo que nos cativa em diferentes frentes, Force 21 é aquele primo chato que queres evitar nos jantares de família.

Force 21 é um RTS (real-time strategy) 3D, onde comandamos uma brigada de tanques, helicópteros e outros veículos de artilharia. O jogo retrata o início (extremamente dramático) da Terceira Guerra Mundial, com a China a invadir o Cazaquistão por… razões… e os Estados Unidos a serem a polícia global mais uma vez, porque aparentemente a NATO não se preocupa muito com movimentações globais e os americanos são os maiores. Isto é retratado na épica apresentação inicial, que parece The Sum of All Fears com esteroides, mas que cai por água abaixo quando, no final, temos um super-dramático “Choose sides”…

O gameplay consiste de pesquisar no manual sobre a interface do jogo e tentar descobrir o que acontece quando clicamos no ecrã. Conforme a missão (de umas 30), temos, ao nosso serviço, diversos batalhões, que podemos selecionar rapidamente com a tecla TAB. Numa vista a três dimensões, podemos observar as movimentações dos nossos veículos de destruição iminente. Se carregarmos na barra de espaços, vamos para uma vista topológica do mapa, onde podemos definir rapidamente a movimentação de cada batalhão. Esta é uma funcionalidade muito prática, pois permite ao jogador controlar as tropas rapidamente, em vez de clicar na vista de jogo, pois esta tem uma distância de desenho bastante curta.

“Uma paleta de cores variada”

As nossas unidades têm diferentes particularidades (e também podemos definir o squad leader, para definir as características do batalhão), podendo algumas detetar e atacar os inimigos à distância e outra serem totalmente aniquiladas se decidirmos entrar “à Rambo” na zona onde os inimigos se encontram. É possível definir o método de ataque, mas porque razão não se ativa permanentemente o “fogo à vontade” é algo que me ultrapassa. Embora seja um jogo com bastante espaço, este encontra-se bastante despido. Há missões em que não se passa literalmente nada, podendo as nossas tropas mover-se ao longo de quilómetros sem ver uma árvore.

Mas nem tudo é mau em Force 21. O jogo tem um sistema de pathfinding interessante e responsivo. Controlar os batalhões e definir as rotas é fácil e intuitivo e é um jogo de tanques em que não temos de rebentar um aneurisma para perceber como “mover”. Existe alguma variedade de missões, com diferentes terrenos e para os entusiastas de “destruir coisas com máquinas”, pode ser um ótimo título a experimentar.

Graficamente, para 1999, o jogo é “razoável”, notando-se imediatamente o pormenor da elevação do terreno. Contudo, os mapas são pobres e uma mistura de tons “secos”, que não são visualmente apelativos. Vai daí, é suposto ser um jogo realista e não ter tanques às pintas cor-de-rosa. Quanto à componente sonora, não vou tocar nas vozes nem com uma vara de 5 metros, mas a música do menu é interessante. Isso porque, durante o jogo, a música é bastante silenciosa (diga-se, nenhuma).

“mais do mesmo”

Um dos problemas que encontrei, mas creio ser uma particularidade de estar a emular um jogo antigo num Windows recente, foi o facto de, depois de terminar a primeira missão, os efeitos sonoros e a “fantástica” voz dos personagens desapareceram por completo, conseguindo desta forma fazer de um jogo que mais parece uma sopa sem sal e textura, numa sopa literalmente de pedra. Para quem percebe de sopas, isto é uma referência interessante.

De uma forma geral, Force 21 é um jogo que me lembra a razão de ter ficado no fundo do armário. É uma experiência interessante para quem gosta mesmo muito de conduzir tanques e é um entusiasta de ver tinta a secar, mas a produção deixa muito a desejar. Parece-se com um projeto B que uns desenvolvedores criaram para brincar um pouco e que decidiram lançar para fazer uns trocos. Na minha opinião, Battle City da Nintendo é muito mais divertido!