Parece que eu não vou ter exactamente a mesma opinião que o querido líder. Monster Harvest é uma versão superficial e inconsequente dum qualquer misto de Stardew Valley com Pokémon. Quando entramos no mundo das misturas apanhamos de tudo. Neste caso apanhei um jogo entretido que serve perfeitamente para enterrar umas horas valentes.

Monster Harvest é, na sua essência, um jogo de colheitas com uma componente de dungeon crawler. Uma história nada imaginativa, o nosso avô tem de deixar a quinta e nós temos de tomar conta dela. Deixa a quinta após ter descoberto uma entidade que consegue transformar plantas em animais, os Planimals! Podia ser pior. No meio disto tudo temos de descobrir o papel da corporação malvada na agressividade dessas entidades.

Completamente desenvolvido em 3D com aplicação de pixel art, embora nada na sua concepção artística me tenha chamado à atenção, aliás, até o considero demasiado confuso a espaços, com alguns dos itens a ofuscarem em demasia a visualização de componentes importantes. Os cenários são apresentados em quadros, com sucessivos ecrãs de carregamento entre eles, razão que tornava uma curta travessia duma ponta à outra do cenário aborrecida, sendo que eu ficava piúrso sempre que me esquecia de algo e tinha de voltar atrás.

A música, embora adequada e bem escolhida, pareceu-me que tinha um fim, ou então não percebi o propósito de terminar após um determinado tempo deixando-nos em silêncio sem razão aparente. Não posso dizer o mesmo dos efeitos sonoros, especialmente dos Planimals, uns grunhidos que me pareceram sempre deslocados do restante ambiente.

Deixo já aqui algo que me tira do sério. Programadores pensarem um jogo para se jogar por um batalhão de horas e este não ter cloud saves é ridículo. Isto alterou imenso os meus planos e a capacidade de jogar quando queria. Imaginem isto quando aparecer o Steam Deck!

A parte de gestão de colheitas não tem nada que saber. Temos um terreno que temos que ir limpando ao mesmo tempo que vamos semeando plantas para vender. O loop é essencialmente esse. Com o tempo vamos evoluindo as nossas ferramentas e adquirindo outras. Também podemos ir automatizando a rega, transformando este componente muito próximo dum tycoon. Para ganhar dinheiro, com o tempo, também podemos pescar ou criar animais. Os Planimals que criamos também podem ser vendidos. A certa altura também ficamos com a opção de criar montadas que tornam as nossas travessias muito mais fáceis.

Esta componente pode perfeitamente ser praticamente ignorada. Na verdade o dinheiro não tem qualquer influência para o desenrolar da história, são coisas independentes. A história avança em eventos no jogo e na travessia das masmorras. Bater as masmorras implica compreender uma componente da história, lutar em eventos implica perceber a outra. A única coisa incontornável das colheitas é a necessidade de ir cultivando Planimals, mais nada.

Esta parte do jogo, embora até seja divertida, está claramente mal estruturada. Nas masmorras estamos dependentes dos Planimals para lutar. Funciona um pouco como Pokémon para totós, já que a luta não acarreta qualquer desafio. Todos os Planimals têm 3 acções que podem fazer. Após progredirem de determinado nível todas elas são desbloqueadas. Podemos criar uma party de 6 elementos, sendo que nenhum pode ser repetido. Inicialmente pensei que era aborrecido dar experiência a toda a nossa party, mas rapidamente percebi que a maneira óptima de melhorar a nossa equipa é deixá-los morrer. Cada vez que morre um Planimal recebemos moeda que serve para evoluirmos a nossa quinta. Cada novo nível da quinta implica Planimals de nível superior, até com efeitos retroactivos, isto é, se a nossa quinta subir a nível 5 e tivermos na nossa party Planimals com nível 4, estes sobem automaticamente de nível.

As batalhas embrutecem a alma.

Para além da luta ser pouco interessante, há dois Planimals cujas habilidades são uma espécie de carta de escapar da prisão, aliás, é perfeitamente possível bater todos os níveis das masmorras apenas com um Planimal, tal é o grau de overpower.

De tempos a tempos há festivais na aldeia, mas nada se faz nesses festivais. Só se conversa. Inúteis. Nada!

Como já esperava há um componente de relacionamentos. Não vi nenhum benefício de ir subindo os relacionamentos, nem vos sei dizer para que servem.

Passei por alguns bugs, um dos quais pensei que fosse para me matar o jogo, mas após sair e voltar a entrar estava tudo normal, por isso não encontrei nada de grave.

Assim encaro Monster Harvest como mais um time sinker. Não tem nada de especial em nenhum dos componentes, mas conseguiu manter-me interessado até ao final da história. Se recomendo? Mais ou menos. Gostam do género? Força. Querem experimentar a ver se gostam? Então comecem por um mesmo bom, comecem por Stardew Valley.