Caçada Semanal #286

Se durante a “infância” dos videojogos a sua existência estava muito circunscrita às mecânicas e à diversão/desafio, há muito que o meio se tornou uma privilegiada forma de contar histórias. Com mais ou menos interatividade, estes dois indies de hoje são um bom exemplo de duas formas diferentes como o mercado independente nos tem mergulhado no storytelling.

Greak: Memories of Azur [Switch, PC, Xbox Series, PS5]

Não acredito que exista uma única pessoa que não se tenha enamorado por Greak: Memories of Azur ao primeiro contacto visual. A sua direcção de arte com ilustração tradicional maravilhosa demonstra a qualidade e o talento artístico do estúdio Navegante Entertainment.

Mas não é só o apelo visual que nos leva até Greak: Memories of Azur, já que este conta também com um enredo cativante que nos mantém investidos desde os primeiros segundos de apresentação do mundo onde o jogo se desenrola.

Nele controlamos três irmãos de raça Courine: Greak, Adara e Raydel, cada um com ataques próprios e uma série de habilidades comuns. O próprio jogo impele-nos a ir alternando entre eles, causando, a médio prazo, alguma repetição que acaba por manchar um pouco a qualidade geral de Greak: Memories of Azur.

Com uma aldeia central onde recebemos as nossas quests, vamos desbravando o mundo em side scrolling com resolução de puzzles simples, defrontando inimigos com um combate também ele simples. Só as boss fights nos vão verdadeiramente representar desafio a partir do momento em que passamos a dominar o controlo dos personagens.

Infelizmente, para mim, apesar de o considerar um bom jogo, Greak: Memories of Azur é daqueles casos em que a sua beleza visual e musical se sobrepõe ao interesse mecânico do jogo, que é bem inferior.

 

No Longer Home [Switch, PC, Mac]

Só vivi em duas casas toda a minha vida, e o acto da mudança de uma para outra foi algo difícil de digerir. No Longer Home é uma experiência narrativa muito específica: fala-nos e faz-nos viver os últimos dias de convivência de dois amigos num apartamento de Londres.

Controlamo-los à medida que partilham experiências e pontos de vista em cada uma das divisões. Uma aventura point ‘n click na sua essência, com uma abordagem semelhante a Love, onde vamos rodando o cenário para encontrar pontos de interacção e novos objectos que vão despoletado novas reacções e desabafos dos dois amigos, Ao e Bo.

O próprio jogo é fruto da criação de dois amigos: os dois developers que constituem o estúdio Humble Grove, e que trouxeram as suas próprias experiências e tensões emocionais para dentro deste No Longer Home.

Numa experiência de peito aberto, os personagens levam-nos numa viagem entre tudo aquilo que não disseram um ao outro, a braços que estão com a despedida. As mágoas que ficaram por resolver, os momentos de felicidade e as memórias conjuntas que em breve serão isso mesmo: algo que ficou no passado.

É nesta emocional viagem pelo presente e passado de Ao e Bo que vemos as suas indecisões e receios em relação ao futuro, e que tornam este No Longer Home uma joia escondida em jogos narrativos com laivos surrealistas por vezes, mas com um forte pendor emocional.