Gosto de roguelites. Não é o meu género preferido, mas passo quase sempre um bom bocado com eles. Gosto do loop. Gosto da progressão, de me sentir mais forte, de passar facilmente por inimigos que me faziam a vida negra ao início. Quando Hades saiu não lhe prestei muita atenção. Em acesso antecipado na Epic Store, achei que tinha tempo de jogar o jogo quando estivesse concluído, e nunca me pareceu ter algo que o evidenciasse. As sucessivas nomeações e conversas para jogo do ano na altura surpreenderam-me. O que raio tinha poderia ter o jogo de especial?
Hades não me deu a sensação de satisfação instantânea, bem pelo contrário. A primeira vez que o joguei resmordi entredentes que não percebia o apelo, afinal progredi muito pouco e ganhei ainda menos. A toada é sempre essa, progressão lenta. Ao contrário do template habitual deste tipo de jogos a Supergiant Games programou Hades para que o interesse esteja tanto na morte como no combate. Hades avança de forma tão interessante quando morremos como quando avançamos mais uma masmorra, encontramos um novo inimigo ou ganhamos aquele item que precisamos para desbloquear uma nova arma ou uma melhoria permanente.
Isto pode significar um período de adaptação para o jogador, mas na realidade percebemos bem cedo este cenário. Na terceira tentativa já estava colado ao jogo, já queria saber qual o diálogo que iria encontrar depois de morrer, contudo o progresso é lento. Para um nabo como eu, mesmo com God Mode activo o progresso é assustadoramente lento. Provavelmente se não tivesse dado liberdade ao meu filho para jogar livremente nos 3 dias antes de começarem as aulas teria, pelo menos, alternado este jogo com Death Stranding, outro jogo que, tal como este, me deixa de pé atrás perante tantos elogios. Estive todo o meu tempo disponível nos 4 dias que joguei embrenhado em Hades. Isso talvez tenha aguçado alguns dos meus sentidos e terá certamente acelerado a minha memória muscular perante os diferentes adversários. Curiosamente a morte nunca me fez sentir frustrado, mesmo quando perante uma vitória importante, ou perante um golpe que não vi de onde vinha. Sim, Hades é, por vezes, visualmente confuso e usar crowd control é imperioso.
Outro sinal de progressão é o desbloquear de novas armas. Tinha ficado com a ideia que cada nova arma não dava uma vantagem real, mas sim acesso a um estilo de luta diferente. Não sei se tive a sorte de cada nova arma se adequar cada vez mais a mim, ou se simplesmente aprendi a jogar gradualmente, mas as últimas armas parecem muito mais poderosas que as primeiras. Mal bati o jogo tentei repetir uma run com outra arma apenas para morrer desamparado a meio do jogo.
Certo que a componente sorte desempenha um papel crucial no jogo. Se conseguimos um conjunto de buffs que sejam mais interessantes para o nosso estilo de jogo conseguimos sentir uma diferença enorme na nossa competência. É realmente algo que usualmente me irrita, mas aqui está tão disfarçado que não o faz. O lore também desenvolve nestes encontros com deuses ou personagens acessórios. Vamos sabendo cava vez mais sobre eles cada vez que nos ajudam, e isso faz com que não seja tão importante não termos o bónus que queremos, já que estamos a contribuir para o avançar da história noutros capítulos.
É importante que percebam a genialidade por detrás de todas estas ramificações. Hades encontra um propósito para tudo o que fazemos, e mesmo depois de batermos o jogo encontra um propósito para continuarmos a jogar. Quanto mais jogava mais sublime o jogo me parecia. A forma sub-reptícia como nos viciam, como para cada lado que nos viramos encontramos algo para descobrir, como cada pedrada na cara nos dá uma oportunidade de encontrarmos a dentista.
Repararam como praticamente não falei nada do que é Hades? Deixem-me hoje ser eu o pretensioso do portal e passem pelo artigo da Débora, esse sim vale a pena ler, porém se aqui chegaram já perceberam duas coisas, a primeira que vos enganei até este ponto, pois continuo aos círculos sem concretizar, a segunda que eu considero Hades um jogo especial que merece toda a atenção possível. Está no Game Pass. Se têm o serviço não deixem escapar a oportunidade, e caso não tenham… também não deixem! Recomendadíssimo!