Apesar das múltiplas indirectas do nosso querido líder, houve sempre algo em Recompile que parecia não bater certo. Vi e revi o trailer e, embora normalmente goste imediatamente destes jogos, aqui não senti o chamamento. Aparentemente é o famoso instinto masculino a funcionar…

Recompile deve estar no campo dos metroidvania, mas é mais um action platformer com um grande componente de puzzles, já que é possível jogá-lo sempre a direito se tivermos a sorte de fazer as escolhas certas.

A minha impressão inicial do jogo foi positiva, já que me fez lembrar dois jogos que gostei bastante. Em termos de história juntou um enquadramento bastante bem feito, tal como Narita Boy, com um desenrolar de eventos passados que descobrimos posteriormente como em Deliver Us The Moon.

O combate é desinteressante por mais que uma razão

A música também está perfeitamente adequada a cada momento. Houve cuidado na selecção e, duma forma geral, complementa bastante bem o que está a acontecer no ecrã. É realmente uma pena o gameplay do jogo não acompanhar as componentes técnicas e a sua ideia base.

É no gameplay em si que o jogo começa a desmoronar, embora já me tivesse rido ao reparar que a única expressão que parece estar traduzida para Português é “Barra de Espaço”.

Jogamos como um programa informático dentro dum computador avariado e tentamos reparar todos os sistemas para descobrir o que aconteceu no passado. Gradualmente vamos encontrando upgrades que nos dão novas habilidades, mas para um metroidvania é um jogo muito mal desenhado, já que em nenhum dos níveis olhamos para um obstáculo que nos pareça intransponível. Só fiquei preso já muito perto do fim, e apenas porque só nessa altura me apercebi que tinha um mapa para ler de forma permanente, se tivesse percebido isso antes era provável que nunca tivesse ficado preso.

Os níveis não estão feitos para nos darem a percepção que deixamos coisas por fazer

Não é fácil fazer um jogo de plataformas em 3D e não foi Recompile que o conseguiu. Há um desenho pobre das secções com imensas ilusões de óptica que, se propositadas, apenas servem para nos irritar e nos fazer cair sem necessidade nenhuma. Talvez ainda seja pior se não é de propósito, pois cria imensos locais em que caímos sem necessidade nenhuma, apenas por um capricho de criação que nos obriga a ter a câmara a 31º em vez de 30º para percebermos que há uma folga na plataforma, um ligeiro buraco ou que estamos muito mais perto da beira que inicialmente parecia.

O combate não é melhor, até arrisco dizer que é pior. Embora consigamos desbloquear algumas armas, nenhuma produz uma sensação satisfatória de combate, não sei se pelo desequilíbrio entre os inimigos, se pelo sistema de mira desadequado ou mesmo por algumas das armas parecerem não ter uma relação ideal com as hitboxes. Irritou-me a programação dos inimigos, já que não eram nada espertos na forma de atacar, limitando-se a vir em linha recta em direcção ao nosso boneco. Outra coisa que não gostei foi o desequilíbrio de poder entre inimigos praticamente iguais, já que uns apenas faziam cócegas, outros matavam-nos muito antes de me parecer perigoso estar perto deles.

Os bosses foram a coisa mais estranha que apanhei há muito tempo, parecendo desproporcionalmente fortes para o nosso nível… pelo menos até perceber que dava para fazer cheese, ficando num local onde não nos conseguiam tocar, e sem inteligência para perceberem o que estava a acontecer, parecendo peixes num aquário persistentemente a bater no vidro sem aparentemente perceberem que ele lá está.

O desenho das plataforma leva facilmente ao erro desnecessário

Os puzzles são essencialmente exercícios de lógica envolvendo saltos em interruptores, mas ao início resolvi-os todos ao calhas pois não estava a perceber que os interruptores funcionavam numa determinada sequência. Quando percebi o que estava a acontecer as coisas não melhoraram. Embora percebesse nessa altura o que devia fazer, algumas vezes a mesma acção produzia resultados diferentes, contrariando de viva voz a definição de insanidade.

O jogo é curto e para mim sem qualquer replay value.

É a história interessante para carregar ao colo o resto do jogo? Na minha opinião não. Embora esteja muito bem alicerçado nas vertentes técnicas, falha naquilo que mais interessa, criando uma experiência de jogo desinteressante e aborrecida, que só me manteve por tanto tempo porque estava genuinamente interessado em encontrar mais chapiscos de história, perceber o que se tinha passado, mas a certa altura, já bem perto do fim, disse que não valia a pena sofrer mais. Estava esgotado. Qualquer um dos dois jogos que mencionei inicialmente dá, na minha opinião, quinze a zero a este, e nem o facto de estar no Game Pass me dá grande vontade de o sugerir a alguém.