Caçada Semanal #289
A Fantasia continua a ser – dos géneros da Ficção especulativa – aquela que mais atrai criadores a deambularem pelas suas redes. Os três jogos indie de hoje – com “graus” diferentes de fantasia – são bons exemplos disso.
Seed of Life [PC]
O que dizer de um puzzle platformer que tem muito pouco de puzzling? Ou onde o maior puzzle é saber como é que algum dia Seed of Life vai ter controlos afinados que não destruam por completo a nossa vontade de por lá deambular?
Há tantos jogos que partem de premissas desinteressantes mas que compensam tudo isso com apuradas mecânicas. Seed of Life decide ir no sentido inverso: a partir da ideia de salvar o planeta moribundo Lumina reactivando a semente da vida, numa jornada interessante à priori, mas onde o estúdio MadLight não teve capacidade para cumprir o potencial que imputou ao jogo.
Em Seed of Life tudo parece genérico e sem vida, do protagonista ao ambiente tudo parece “marca branca”, altamente esquecível e fac-similado em mau de coisas melhores. E sim, tantos outros jogos (e não só) provaram que é possível recriar desolação e fazê-la memorável.
As boas ideias parecem morrer na praia, como a simbiose que a nossa protagonista tem com um talismã que lhe vai conferindo poderes à medida que encontra novas cápsulas com novas habilidades.
Mas o movimento lento e os controlos irregulares acabam por destruir qualquer usufruto deste Seed of Life, deixando-no no mesmo estado que o planeta onde a acção se desenrola: desolado.
The Vale: Shadow of the Crown [PC, Xbox One]
Criado em parceria com o Canadian National Institute for the Blind, The Vale: Shadow of the Crow é uma das experiências mais geniais que já pude jogar de tentar passar para videojogo a vivência de um cego.
A forma como dependemos da nossa visão, e o quanto ela nos permite construir o mundo à nossa volta é algo que damos como adquirido. E tantas vezes nos é difícil imaginar o que é este mundo percepcionado por um invisual.
The Vale: Shadow of the Crown é um Audio RPG onde o som tridimensional faz toda a diferença na nossa imersão. Vivemos a pele de uma protagonista cega, herdeira de um reino medieval que o tem de atravessar com as dificuldades que poderíamos esperar que a falta de visão trazem.
Mas a elevada qualidade do voice acting, do sound design e da própria narrativa, elevam esta experiência verdadeiramente única de The Vale: Shadow of the Crown para um patamar de excelência.
Seja a conhecermos os personagens à nossa volta, a encontrarmos armas e feitiços ou a combatermos, é impressionante o que The Vale: Shadow of the Crown atinge sem recurso a qualquer elemento visual.
Para além da excelente mensagem social de nos fazer ver o mundo por outras perspectivas, a mestria de world building de The Vale: Shadow of the Crown com recurso apenas ao som é algo que deveria ser estudado por muitos developers.
Guardians of Hyelore [PC]
Fruto de one man developer, Guardians of Hyelore é um jogo de estratégia interessante mas que invariavelmente me soou a um primo pobre de um grande jogo similar (e que decerto lhe serviu de inspiração – Swords & Soldiers.
Como no famoso jogo da Ronimo, nós não controlamos as unidades, mas limitamo-nos a invocá-las no tabuleiro bidimensional onde decorre o jogo. Uma batalha de atrição onde as nossas unidades e as do adversário tentam chegar à extremidade do nível para atacar as torres que nos servem de base.
Antes de cada nível escolhemos o nosso herói – que diverge dos restantes pela classe – e escolhemos o exército para tentar defrontar cada nível.
Neste RTS bidimensional existe algum grind, já que no pós-nível temos uma tech tree que podemos ir evoluindo à medida que coleccionamos os elementos de “custo” para ir desbloqueando novas habilidades passivas e activas.
Em quase todos os níveis o adversário invoca uma espécie de boss que nos vai obrigar a gastar muitos recursos e muitas unidades para derrotar, que serve sobretudo de elemento de desafio (que em geral, não é muito).
Guardians of Hyelore é um bom jogo para se ir jogando em curtos momentos, e que para todo o seu contexto ficaria perfeito num ambiente mobile.