The World of Darkness tem demonstrado uma tendência prolífica no que toca à produção de conteúdo, desde as várias expansões para a quinta edição de Vampire: The Masquerade, novas edições no jogo de cartas de VTES (Vampire: The Eternal Struggle), um novo LARP (Live Action Role Play) com Vampire: The Masquerade – War of Ages, um videojogo de Werewolf: The Apocalypse, e, mais recente nesta onda, Vampire: The Masquerade – Blood Hunt.
Depois de fazermos uma breve pausa para recuperar o fôlego destes títulos todos, vamos então focar-nos no que nos traz aqui. Vampire: The Masquerade – Blood Hunt é um battle royale que segue as passadas de PUBG e Fortnite, pelo menos no que ao conceito diz respeito. Continuamos a ser colocados contra um determinado número de jogadores (45 jogadores), a solo ou em grupos de três, e de forma mais activa ou menos passiva procurar ser o derradeiro sobrevivente, com os vários recursos e manhas que temos à disposição.
Face a isto, temos um battle royale puro e duro que preenche os requisitos expectáveis. Contudo, não estamos a falar de um clone dos títulos que marcaram o género… ou pelo menos não no sentido literal. A principal diferença, e, discutivelmente, o ponto forte deste título prende-se ao uso do IP de Vampire: The Masquerade, a sua imagética e a sua lore.
Aqui percorremos as ruas de Praga, repelindo o surgimento de um movimento Anarch ao mesmo tempo que a Entity (Segunda Inquisição) tem botas no terreno abrindo fogo contra qualquer presença kindred. Para o efeito temos várias armas à nossa disposição (que vão de pistolas e machados a carabinas e miniguns), mas tais são apenas um complemento à nossa natureza vampírica. Como criaturas da noite sobrenaturais, há uma série de trunfos que temos na manga. Conseguimos trepar e deslizar de prédios sem esforço, saltar grande distâncias, resistir a enormes quedas sem qualquer tipo de dano e deslizar pelo chão, sempre de armas em riste e prontas a usar. Contudo, isto é apenas aquilo que todos temos por igual.
No estado actual do jogo há três clãs à escolha (Brujah, Nosferatu e Toreador), e cada um deles tem dois arquétipos. Ambos partilham a habilidade de clã (Soaring Leap nos Brujah, que permite cobrir maiores distâncias com um salto e mudar de trajectória quando no ar; Vanish nos Nosferatu, que confere invisibilidade temporária, bem como agilidade extra; e Projection nos Toreador, que permite lançar uma projecção “astral” para a qual nos podemos teletransportar ao reactivar a habilidade). As outras duas habilidades (uma passiva e uma activa) são um reflexo do arquétipo em questão.
A título de exemplo, o clã Nosferatu desdobra-se em Saboteur e Prowler. O Saboteur produz minas com a sua habilidade de Sewer Bombs que detonam com a proximidade de inimigos ou quando atingidas, enquanto que o Prowler lança morcegos com a sua habilidade de Scouting Famulus que revelam a localização de inimigos na área em questão, até mesmo através de paredes. Quanto à passiva, enquanto que o primeiro fica quase invisível após alguns segundos agachado, o segundo consegue seguir o rasto de inimigos gravemente feridos.
Como é de vampiros que falamos, há que abordar o nosso sustento: sangue. Uma vez mais, à temática que vemos no universo de Vampire: The Masquerade, aqui contamos com quatro ressonâncias, que podemos encontrar espalhadas no mapa na forma de civis, e que podem ser consumidos para obter vários buffs: Melancholic: Reduz o período de espera de uso da habilidade, de clã; Phlegmatic: Reduz o período de espera de uso da habilidade de arquétipo; Sanguine: Aumenta a frequência com que se recuperam pontos de vida e Choleric: Aumenta a quantidade de dano infligido com armas de combate corpo-a-corpo.
Cada uma destas ressonâncias tem três níveis e não nos é possível obtê-los a todos logo ao início. Quando começamos uma partida, temos disponíveis três slots que podemos preencher com qualquer combinação (três ressonâncias a 1, uma ressonância a 3, etc.). Para desbloquearmos novas slots temos que consumir outros jogadores (a chamada diablery) ou membros da Entity. Com esta dinâmica, que prima uma jogabilidade agressiva de caça constante, vamos abrindo o leque para ficarmos mais fortes com cada alvo que derrotamos e consumimos.
Essencialmente é isto que separa Vampire: The Masquerade – Blood Hunt de outros jogos do género a nível de premissa, contexto e algumas mecânicas.
A nível de estrutura e sequência, é assim que tudo funciona: os jogadores dão entrada num lobby que assume a forma de uma catedral gótica onde podemos treinar as nossas habilidades de parkour, interagir com os vários itens que podemos encontrar espalhados por Praga, bem como “conversar” com algumas celebridades kindred, como os Primogen, Sheriff e Keeper of Elysium locais. Enquanto estamos no lobby podemos também conversar com outros jogadores pelo chat, aceder ao menu de personalização das nossas personagens, e contemplar as recompensas disponíveis no nosso percurso até nível 100 (praticamente todas as recompensas e desbloqueáveis, até ao momento, são cosméticos com a excepção de bónus de xp, que requerem a compra do battle-pass para serem usados; e as tokens que servem de moeda de jogo). Ainda no lobby podemos decidir se queremos jogar a solo ou numa coterie de até três membros.
Com isto decidido, e iniciando a partida, somos encaminhados para o mapa de jogo onde podemos escolher a zona em que queremos aparecer (aqui não caímos dos céus). Enquanto fazemos esta selecção, podemos ter uma percepção, ao estilo de um radar, dos jogadores que estão a escolher aparecer relativamente perto de nós. Quando a contagem decrescente chega ao fim, ficamos então como uma percepção de população de jogadores e onde cada um vai começar. Daqui passamos para o menu onde escolhemos a nossa personagem: com o início da partida compete-nos então seguir com a nossa estratégia, reunir o nosso arsenal bélico, bem como uma quantidade Q.B. de coletes à prova de bala, sacos de sangue e outros consumíveis.
Segue-se o processo de sobrevivência, de forma passiva ou activa, caçando ao mesmo tempo que se evita ser caçado, enquanto se fortalecem as nossas habilidades com o consumo das várias ressonâncias.
Caso sejamos derrotados no nosso percurso ou acabemos victoriosos, iremos ser presenteados com o nosso desempenho (objectivos/desafios cumpridos), e com as várias recompensas associadas a uma potencial subida de nível. Posto isto, somos prontamente enviados para o lobby para depois repetir o ciclo.
Actualmente, o jogo é relativamente rápido, principalmente com a nova actualização, pelo que não é preciso aguardar muito não só para começar todo o processo como entrar numa partida. Contudo, ainda é possível começarmos fora da contagem decrescente oficial e cruzarmo-nos com jogadores que estão demasiado bem equipados para quem começou uma partida há poucos segundos.
Em suma, Vampire: The Masquerade – Blood Hunt traz algumas dinâmicas novas ao género do battle royale e que lhe dão o seu charme próprio, destacando-se a forte dependência pelo IP de Vampire: The Masquerade. Contudo, o tempo o dirá, e com a suposta inclusão de demandas que vão para além dos objectivos de eliminar X jogadores da forma Y, se vai crescer para ser o seu próprio título ou se irá acabar por recair na generalidade do género.
Tanto para os fãs de Vampire: The Masquerade como de battle royale (embora se destaque o foco nos primeiros) fica a recomendação para experimentar o que as noites de Praga têm para oferecer. Contudo, deixa-se o aviso de que nunca serão tão ricas quanto a experiência de uma qualquer mesa de jogo de Vampire: The Masquerade.
Vampire: The Masquerade – Blood Hunt encontra-se disponível para PC via Steam e para a PlayStation 5.