Caçada Semanal #293

São tantos os jogos a chegarem ao mercado em Early Access que por vezes é difícil de contabilizar se chegamos sequer a regressar a cada um deles quando finalmente vêem a luz do dia na sua versão final. Outros ainda teriam algo a aprender se tivessem tido tempo para auscultar a comunidade antes do seu lançamento

Os dois indies de hoje ainda estão em alpha e estão a ser desenvolvidos por uma pessoa só.

SuchArt: Genius Artist Simulator [Switch, PC]

No meu caso pessoal – e ainda que para além da formação académica me considere mais designer que artista – jogar SuchArt: Genius Artist Simulator é o equivalente a um cantoneiro chegar a casa para ir jogar um simulador de limpeza urbana.

Por outro lado tenho uma surpresa com este jogo em Early Access: quem diria que a partir de uma ideia estranha – a de ser um simulador da vida de artista – somado a uma linha narrativa futurista e interessante encontraríamos um bom jogo pelo meio.

SuchArt: Genius Artist Simulator é fruto do one man show Vincent “Voolgi” Delannoy, que nos coloca num atelier algures num futuro próximo, completamente robotizado, onde recebemos comissões para pinturas que podemos, ou não, aceitar.

Respeitando os pedidos mais ou menos genéricos dos clientes, produzimos telas pintando directamente com o nosso rato e enviamos através de um sistema de UPS misturado com teleporte que nos garante entrega e contra-pagamento imediatos.

Temos muitos materiais de pintura diferentes para utilizar num sistema que transforma uma camada deste SuchArt: Genius Artist Simulator num software de pintura digital embutido.

Depois de fazer alguns quadros, fiquei com a sensação que se há jogo que ganharia com VR era certamente este. Quem sabe no futuro poderemos todos ver a vida pelos olhos de um artista? Mesmo que simulado.

 

Kainga: Seed of Civilization [PC, Linux, Mac]

Quem é que não fica conquistado por um jogo em que temos de ir construindo uma cidade nas costas de um animal gigante, enquanto este se locomover pela paisagem. E onde a sobrevivência da nossa comunidade e do colosso que o alberga estão interligados?

Neste roguelite village builder recém-lançado num estado de pré-alpha ainda pejado de placeholders, conseguimos ter alguma ideia da direcção diferente para onde o jogo, um dia, poderá ir. O facto de estarmos a ver por trás da cortina a algo que ainda é pouco mais que um esqueleto de um jogo obriga-nos a focar ainda mais os nossos olhos para “lermos” as intenções de Erik Rempen, o seu criador solitário.

A nossa gigantesca cidade móvel tem outra camada de criaturas para domesticar: podemos, dentro da cidade, domar animais para que eles carreguem alguns dos edifícios às costas, num Inception de animais que carregam cidades que carregam animais que carregam casas. Confuso? Na realidade não é.

A parte mais importante do elemento roguelite é que a nossa sociedade tem peças fundamentais da hierarquia: os pensadores, cuja morte nos obriga a recomeçar tudo do início.

Kainga: Seed of Civilization demonstra muito potencial, mas ainda tem muito trilho para percorrer. Muito dele, acredito, às costas de uma criatura gigante qualquer.