Caçada Semanal #292

Um dos efeitos do desconfinamento é que me sinto cada vez mais confortável para ir às compras presencialmente, afastando-me lentamente das encomendas online que pautaram os últimos 20 meses. 

Viajar por jogos indie mais desconhecidos tem algo de ir desbravando, de encontrar objectos diferentes e colocá-los na mesma cesta. É por isso que destes indies de hoje, um é pão quente e os outros dois são fruta de ontem, mas óptimas para consumo.

Merek’s Market [PS4, PC, Xbox One, Google Stadia]

A porta aberta pelo sucesso de Overcooked veio permitir a chegada ao mercado de uma série de jogos cooperativos com um grande foco em crafting, e que resvalam na ideia de party game tal é o volume de gargalhadas que trazem para qualquer sessão.

Uma dessas últimas propostas chegou há pouco tempo pela mão do estúdio Big Village Games, que, quase como o nome da própria empresa indica, nos quis levar para uma aldeia, desta feita medieval, e tornar-nos empreendedores dos tempos dos senhores feudais.

Este é um simulador de uma pequena aldeia medieval onde somos donos de um pequeno negócio, onde não só criamos mas também vendemos armas e outros objectos e bens para os restantes aldeões.

O sistema de crafting contém uma série de mini-jogos para passarmos pelas várias etapas de produção de um dado objecto. A dificuldade progressiva vai conduzindo a uma maior complexidade das receitas e da exigência dos clientes, onde a memorização das receitas (e a agilidade a que isso implica) vai trazer-nos uma maior pontuação ao final do nível.

Em cooperativo é interessante dividir as tarefas, entre um que produz e outro que gere os clientes, que recolhe os pedidos e que lhes entrega os bens, regateando o preço. 

Desta nouvelle vague de crafting games cooperativos, Merek’s Market é possivelmente um dos mais interessantes e aprimorados, conseguindo reproduzir com humor este ambiente medieval cartoonizado na perfeição.

Metaloid: Origin [PC, Switch, PS4] 

Já disse que gostava de Mega Man? Dez vezes? Trinta? Talvez mais? Mas é verdade. O meu contacto com o primeiro Mega Man na Family Game da minha prima foi um momento-charneira na minha vida, e que influenciou o meu gosto por videojogos até hoje.

Metaloid: Origin é um run and gun 2D platformer com óbvia inspiração nos Mega Man de 16 bits da era SNES, os magníficos Mega Man X que complexificaram a história do famoso androide azul.

De tantas, tantas semelhanças que Metaloid: Origin retira de Mega Man, a principal – absorver os poderes dos inimigos derrotados – não é uma delas. Para substituir este elemento-chave que faz de Mega Man (e de tantos outros clones) um jogo de Mega Man, Metaloid: Origin substituiu tudo por um sistema de upgrades pagos.

As gemas rosa que vamos apanhando pelos níveis e pelos inimigos derrotados têm dois propósitos distintos: comprar upgrades ou pagar revives em casos de extrema necessidade.

Com três personagens jogáveis com estilos e jogabilidades distintos e nove níveis para percorrer, Metaloid: Origin é um bom jogo retro e uma excelente homenagem a Mega Man X, não criando espaço suficiente, ainda assim, para que o consigamos ver para além das inspirações que retira da série de Inafune.

Spelunker HD Deluxe [Switch, PS4]

Lançado originalmente em 2009 na PS3 como um remake do jogo de 1983, Spelunker HD não é uma remasterização do clássico criado por Timothy G. Martin, mas sim um reskin directo do jogo. 

Com um novo aspecto (com 12 anos, entenda-se), e jogabilidade e dificuldade old school, cedo percebemos que pouco foi feito por cima de todo o jogo original, que mantém os problemas de colisão e alguns bugs ou falta de definição mecânica, muito do qual foi sendo “resolvido” pelo mercado nas décadas subsequentes.

O desafio de Spelunker HD Deluxe é elevado, e portanto existem muitas, muitas formas diferentes de morrer. Entre ficarmos com o ecrã pejado de adversários e/ou obstáculos que são muito difíceis de ultrapassar, a quantidade de vezes que vamos perder uma vida é grande.

Uma opção curiosa e que demonstra o quanto este jogo é apenas uma mudança estética sobre o original, é que o menu inicial nos permite jogar a versão de 8 bits que muitos jogaram na década de 1980.

Com um online multiplayer amplamente promovido mas largamente abandonado, o problema de Spelunker HD Deluxe é que Spelunky em 2008 pegou em todos estes elementos e faz algo melhor.