Caçada Semanal #295

Entre o Milton e o Dante, venha, literalmente, o Diabo e escolha. Os três jogos de hoje abordam esse tema explorado desde que os primeiros humanos desenvolveram as suas crenças religiosas: o inferno e o sobrenatural. 

São 3 indies diferentes (e de níveis de qualidade distintos) que nos trazem viagens por diferentes tipos de infernos.

WitchSpring3 Re: Fine [ios, Android, Switch, PC]

WitchSpring é uma série coreana famosa como RPG mobile que, como muitos, chegou agora à Switch e ao PC, que por alguma razão têm sido uma espécie de repositório de jogos móveis de ports com qualidade altamente variável.

Não fosse o título não demonstrar isso mesmo, mas em WitchSpring3 Re: Fine habitamos um mundo de bruxas, onde a nossa protagonista – também ela uma feiticeira de nome Eirudy – tem a capacidade de dar vida a marionetas. Mas para isso tem de absorver a energia vital de outras criaturas.

Numa das suas deambulações pela floresta para colher ingredientes (para a sopa, ou para uma poção mágica, a escolha é vossa), salva Adrian, o filho de um regente de uma terra próxima que é o inimigo visceral das bruxas.

Com uma história que nasce ela mesma a partir de um cliché básico, e onde não só o desenvolvimento do enredo é altamente sofrível e a tradução, coxa, pouco ajuda, WitchSpring3 Re: Fine fica apenas na sua essência como um JRPG demasiado simples quando pensamos em boas propostas que existem no mercado.

No entanto, um elogio: tendo em conta o seu lançamento e sucesso originais no mercado mobile, WitchSpring3 Re: Fine tem uma excelente direcção artística que consegue “aguentar” a transição para Switch e PC sem que lhe vejamos “as costuras”.

Hell Architect [PC, Mac]

Acho que já perdi a conta à quantidade de colony simulators indie que têm saído em corte frontal e bidimensionais, dando-nos uma perspectiva de gestão quase de terrário de formigas. 

Gerir algo do ponto de vista dos vilões não é novidade, já que Peter Molyneux já o tinha criado de forma magistral com Dungeon Keeper, numa fórmula que foi ela mesma melhorada pelo magnífico Dungeons 3

Em Hell Architect, este simulador criado Woodland Games e Leonardo Interactive, os nossos trabalhadores são humanos pecadores condenados a uma eternidade de sofrimento. São eles, em utensílios e pequenas salas de tortura que vão produzindo dor e sofrimento para alimentar o inferno.

Com alguns momentos de humor na criação dos elementos de tycoon infernal, o grande problema de Hell Architect é que se esgota rápido. Um loop muito superficial que leva o interesse do jogo a desaparecer passados os instantes iniciais e a primeira meia hora de jogo.

É uma pena: há aqui uma ideia com potencial que foi amplamente representada de forma sofrível.

 

Jupiter Hell [PC, Mac, Linux]

Desenvolvido pelo estúdio ChaosForgem que passou as últimas décadas a brincar com novas formas de reinventar o jogo Doom, Jupiter Hell, é, na realidade, um descendente directo de DoomRL, ou DOOM Roguelike, como foi conhecido.

Com todos os elementos de DOOM, das armas, à violência, e especialmente às hordas de demónios para derrotar, a grande diferença e o pináculo criativo de Jupiter Hell é o facto de… ser um turn based strategy game

Esta aura de tactical game é misturada com um bom dungeon crawling, que relembra uma versão violenta e sangrenta dos bons jogos do género nipónicos. Onde cada movimento nosso na quadrícula dissimulada faz os inimigos moverem-se também.

O desafio de Jupiter Hell, um roguelike duro de roer onde a permadeath é omnipresente. Sendo um verdadeiro roguelike a morte é definitiva, os mapas proceduralmente gerados e não mantemos nada nem ganhamos nada quando morremos. Um jogo altamente punitivo dos nossos erros, onde cada acção tem um grande impacto na sobrevivência, e onde a utilização das covers e a gestão do inventário são os verdadeiros elementos de dificuldade. 

Jupiter Hell é genial na forma como repensa um clássico dos FPS e o transforma em algo completamente diferente, e sobretudo, bem desenvolvido.