Os videojogos têm duas formas principais de manterem a sua relevância, especialmente aqueles que têm diversos lançamentos em anos subsequentes ou em curtos espaços de tempo. A primeira, e mais óbvia, é a criatividade e a inovação. A capacidade de se reinventarem, de evoluírem criativamente, de surpreenderem. A segunda, mais frequente no mercado AAA, é a demonstrar um novo patamar técnico, tornando questões mais tecnológicas que estéticas o argumentário principal para convencer jogadores e media a investirem o seu tempo e dinheiro no seu produto.

O modelo de Acesso Antecipado não é novo, e nasceu, até, num segmento de mercado mais discreto do que aquele que é habitado por colossos como a EA. Foram os indies que, entre um misto de recolher feedback da comunidade e investimento para progredirem no desenvolvimento dos seus jogos que habituaram o mercado a isto. 

Ter grandes nomes do mercado a adoptarem este modelo não é inovador, e longe vai o choque de vermos companhias multimilionárias a lançarem – propositada e reconhecidamente – jogos inacabados no mercado. 

Depois temos o caso de Battlefield 2042, o 12º título principal da série rival de Call of Duty, que tenta, ano para ano, vencer o duelo de titãs entre as duas companhias dentro do género. Em anos em que ora ganha uma, ora ganha outra, parece que chegámos a 2021 em que se dá um empate técnico entre EA e Activision Blizzard com derrota para os jogadores. Os argumentos para esta conclusão do lado de CoD: Vanguard já foram referidos, basta perceber porque é que Battlefield se junta à festa sem trazer vinho nem confettis.

O Acesso Antecipado de Battlefield 2042 é simultaneamente a demonstração do princípio de algo que poderá um dia vir a ser um título sólido, e ao mesmo tempo um conjunto de problemas técnicos que muitas vezes nos impedem sequer de vislumbrar, pelo meio de falhas de ligação e alguns glitches, se a EA e a DICE decidiram vir realmente “a jogo” neste duelo anual marcado ao amanhecer com a Activision.

As minhas dificuldades de ligação ao jogo foram tremendas e agudizaram-se ontem (ainda sem estarem resolvidas). Um pequeníssimo patch estava identificado pela minha versão (de PC), ainda que a aplicação da EA no meu computador não conseguisses descarregar os míseros centenas de megas de conteúdo que me separaram de acessar ao jogo. Decidi – erradamente – desinstalá-lo, e agora, sem capacidade de me reconectar ao servidor, nem sequer consigo reinstalar Battlefield 2042. E isto foi apenas a granada em forma de cereja no topo de um bolo recheado de cortes de ligação em alguns matches que fui fazendo.

Centremo-nos nos dias anteriores a hoje, quando eram possível ver o conteúdo que Battlefield trouxe em Acesso Antecipado. 

Sem modo campanha, este modo de pseudo-antevisão vem focado naquilo que o público de Battlefield procura: guerra aberta em modos multiplayer. Temos três modos, All-Out Warfare, Hazard Zone e Portal. 

Portal é capaz de ser o modo mais simples de explicar e talvez um dos mais interessantes, já que é o mais customizado e permite personalizar modos de jogos colocando as nossas próprias regras, que podem ir de ideias tresloucadas a ideias amplamente originais e que poderiam ser aplicados ao modo “principal”. Este Portal é uma espécie de modo de recreio onde a DICE nos deixa “brincar” com a forma como encaramos cada partida, com elementos de Battlefield 1942, Battlefield: Bad Company 2 e Battlefield 3.

All-Out Warfare é o aclamado modo onde a vasta maioria dos jogadores mais tempo irá passar, com a promessa de campos de batalha recheados de tudo o que faz um Battlefield clássico: até 128 jogadores num terreno massivo, acidentado, com veículos, tiros, explosões e muita gente, aliados e inimigos por todos os lados. O modo em escala que é o grande selling point de Battlefield e aquele onde cada pequena conquista individual parece ter impacto.

E depois a que é possivelmente a menos interessante destas três opções iniciais: Hazard Zone, num momento a piscar o olho ao competitivo onde cada equipa tenta amealhar o máximo de créditos durante a partida para adquirir o melhor equipamento, e, pelo caminho, dominar a equipa adversária.

Mas para um jogo que quer ser tão massivo, Battlefield tem falta de diversidade de armas. A personalização do equipamento que levamos parece sempre curto quando comparado com títulos anteriores da série. Somando isso à substituição do sistema de classes por especialistas que parecem pouco adicionar, nesta fase pré-lançamento, já que cada um deles parece um canivete-suíço sem identidade.

Tudo isto poderia ser ignorado – ou melhor aceite – não fosse Battlefield 2042 falhar – pelo menos para já – nos dois elementos que referi inicialmente que são os factores principais de relevância de uma nova iteração de uma série recorrente. Não é nem criativo para se distanciar ou criar uma identidade próprio, como não cria uma experiência tecnicamente aprimorada e evoluída que o demonstre como um passo em frente na evolução. Pior: nesta fase os problemas técnicos, gráficos e de conexão que o assombram até o colocam patamares atrás do que se espera de um jogo com orçamento multimilionário, e que almeja, de ano para ano, destronar CoD: Vanguard.

Talvez as correcções e a evolução de Battlefield 2042 aquando e após o lançamento venham a corrigir muitos destes pontos, mas para já, é um título que dificilmente aconselharia no estado actual. Esperar para perceber se a DICE vai conseguir limar as angulosas arestas e introduzir elementos que consigam dar-lhe argumentos que justifiquem o vosso investimento, talvez seja a forma mais sensata de observarem este lançamento. 

Num ano, como dizia, que um Battlefield tão desapontante quanto este só não perde a rivalidade anual porque Call of Duty se encurralou num espaço de desinspiração extrema, de onde parece ter sérias dificuldades para sair.