Se quisesse deixar o meu egocentrismo correr livremente, acreditaria que algures nos lugares de decisão da Bandai Namco estava alguém a querer agradar-me. Não a “mim” enquanto parte da massa de jogadores, mas a “mim”, individualmente, enquanto um tremendo fã de mechas e em especial de Mobile Suit Gundam. Obrigado pela atenção, caro Satoshi Oshita.
Semanas depois de termos Super Robot Wars a chegar oficialmente ao Ocidente como comemoração dos 30 anos da série, é um bom augúrio ver chegar Mobile Suit Gundam: Battle Operation Code Fairy totalmente localizado em inglês.
Um preâmbulo em relação a esta localização. Por favor, senhores e senhoras da Bandai Namco, um pedido. Eu percebo que a grande maioria destes títulos estão regionalmente encerrados na Ásia, mas terem uma primeira pergunta antes do jogo começar a pedir para escolher a língua, ajudava. Se possível com a palavra English com caracteres latinos. É que começar o primeiro capítulo diversas vezes e passar 1 hora às apalpadelas com os menus, a tentar encontrar através de kanjis qual a opção que me permite mudar a língua, e efectivamente mudá-la para inglês.
Recebermos no Ocidente um Mobile Suit Gundam que não sejam um jogo de luta mas que seja um título com um grande pendor narrativo – como referência àquilo que a série de animação e os filmes fazem de melhor, que é contar uma história brilhante e complexa – é uma das razões para sentir que esta abertura de adaptações de videojogos de séries “menos” mainstream em Inglês possa abrir portas a que outros jogos cheguem também na língua inglesa.
Mobile Suit Gundam: Battle Operation Code Fairy tem uma abordagem interessante ao assumir-se como uma espécie de local de intersecção entre videojogo e série de animação. O que recebemos neste pacote é o denominado Volume 1, episódico com o primeiro terço da história (os primeiros cinco episódios de 15) que nos coloca ao comando do primeiro pelotão exclusivamente feminino de pilotos dos chamados mobile suits.
Com sequência de anime excelentes, cujo enredo é continuado por momentos esperados de interacções e diálogos em modo visual novel, onde a equipa Noisy Fairy, liderada pela nossa protagonista Alma vai desenrolando os dramas e as suas motivações ao longo do desenrolar do jogo.
É Alma quem controlamos nos momentos de acção do jogo, acompanhados por Mia e Helena, cada uma no seu mecha, em campo de batalha. Mergulhar nas mecânicas e nos controlos não é difícil, já que Mobile Suit Gundam: Battle Operation Code Fairy se comporta nestas secções com um third person shooter mais táctico.
Cada um dos nossos tiros (ou ataques melee) têm cooldowns, o que nos obriga a fazer com que cada projéctil seja o mais certeiro possível. No caso das armas de fogo temos até de contar com um cooldown prolongado, o de recarregar, que tornam a nossa estratégia e posicionamento algo ainda mais “apertado”.
Apesar da simplicidade dos segmentos de combate, é interessante a dança que os mechas fazem nos campos de batalha. Visto que controlamos os quase descaracterizados mechas da facção – supostamente – inimiga de Zeon (eu sei que o mal e bem em termos bélicos são sempre uma questão de ponto de vista), grande parte do nosso sucesso passa pela nossa eficácia de movimento e destreza a disparar.
Há uma dança interessante dos mechas pelos cenários, onde as casas são minúsculas e funcionam como pseudo-muros de protecção. Esta dança que nos obriga a estar em constante movimento, a fintar e a enganar o adversário a disparar na direcção errada enquanto nos desviamos ilesos, tentando acertar-lhes ao mesmo tempo que entramos neste bailado.
O facto dos tiros não serem spammable torna toda a acção mais interessante e táctica. Obriga-nos a pensar bem no momento em que disparamos e em que recarregamos, e também naqueles em que investimos em direcção ao adversário e desembainhamos a espada para desferir um golpe.
A tudo isto junta-se o facto dos criadores deste Mobile Suit Gundam: Battle Operation Code Fairy terem mimetizado o peso e a óbvia falta de agilidade orgânica de um mecha de algumas toneladas, tornando o movimento propositadamente mais lento. A ideia deste jogo nas suas sequências de acção é o de passar um semi-realismo (tendo em conta que, até onde eu sei, não existem mechas pilotáveis no mundo real) de movimento, de sobreaquecimento das peças e de realimentação das munições até ao momento de estarem prontas para serem disparadas.
Cada um dos mobile suits da nossa equipa (e dos adversários) é de uma diferente tipologia o que aplica uma lógica de pedra-papel-tesoura às resistências e vulnerabilidades de ataques. A isto vão-se somando as habilidades colectivas que as três pilotos vão aprendendo à medida que ficam mais experientes, e que tornam cada missão mais táctica que a anterior.
Apesar de controlarmos apenas o mobile suit de Alma, temos a capacidade para indicar os alvos de Mia e Helena, para além de activarmos as suas habilidades especiais. Aguardemos pelos restantes episódios para compreender qual o destino do pelotão Noisy Fairy.
Com missões diversificadas e desafiantes, é de lamentar que a qualidade das sequências de anime sejam muito superiores aos momentos de acção tridimensional, onde a direcção e qualidade artística deixam muito a desejar, e relembram algo próximo da PS3.
Mobile Suit Gundam: Battle Operation Code Fairy é a primeira parte de uma história mais complexa que demonstra a potencialidade do universo de Gundam. Criando um jogo que nos envolve pela sua história e as suas personagens, e que consegue fazer uma boa tradução bélica dos combates entre mobile suits.