Battlefield 2042 pretendeu ser um regresso às origens da série, um jogo de guerra num palco massivo, exclusivamente online. Muitos poderão ter ficado decepcionados pela DICE ter deixado de lado a campanha narrativa presente em alguns dos títulos da série, mas os verdadeiros fãs queriam era ter o derradeiro sandbox de combate.

Antes do fenómeno dos Battle Royales, com os seus mapas gigantescos que albergam 100 jogadores, Battlefield já oferecia cenários massivos, com espaço para batalhas em terra, mar e nos céus. E se com 64 jogadores os anteriores jogos da série ofereciam um ambiente brutalíssimo de guerras online, imaginem esse número duplicar para 128 jogadores.

Sem dúvida que a escala dos mapas, a quantidade absurda de jogadores a preencher as diferentes zonas do combate, é aquilo que qualquer fã da série, neste que é o 17ª episódio da série, sempre sonhou em ter. E como é difícil manter todos os jogadores no mapa durante a partida, a DICE introduziu um sistema de bots, que assumem os lugares vazios. Ou seja, até 64 bots podem coexistir por partida, caso não haja jogadores suficientes para preencher o mapa.

A premissa é cumprida em grande parte. Começar uma partida e olhar para os lados e ver dezenas de companheiros a correr para tomar os objetivos, obter os melhores veículos e procurar a dianteira do conflito é estonteante. É uma altura de reflexão para aquilo que a produtora sueca imaginou desde o primeiro capítulo, Battlefield 1942, quando propunha exatamente esta premissa há 20 anos atrás. O derradeiro conflito online, realístico e visceral.

O salto de 100 anos no futuro da segunda guerra mundial desde o primeiro jogo, mas apenas a 20 anos da nossa realidade, serve para introduzir algum armamento e gadgets de combate plausíveis, incluindo os drones terrestres e aéreos e veículos mais dinâmicos. O realismo está praticamente intacto.

E esta é a parte romântica de Battlefield 2042. No papel tudo é perfeito. O problema é exatamente a execução. O pré-lançamento do jogo, o período em que a maioria deste teste foi feito, demonstra um longo caminho a percorrer até que o jogo esteja no ponto ideal. Quem comprar este jogo nestas primeiras semanas ou meses, vai servir de beta tester, revelando praticamente os mesmos problemas de Battlefield 5, que do caos se revelou um excelente jogo depois das inúmeras correções e afinações. Sem rodeios, Battlefield 2042 é neste momento uma beta glorificada, um vislumbre daquilo que pode vir a ser um dos melhores jogos online. E este pensamento mantenho, mesmo uma semana depois do seu lançamento oficial.

Mas o que se passa? Em primeiro lugar instabilidade. O net coding parece arrebentar pelas costuras. É impossível jogar sem ter lag, sem termos os símbolos do estado de ligação online a piscar entre o amarelo e laranja. O que significa ter constantes quebras de fluidez e performance. Nenhum jogo competitivo pode ter este tipo de quebras, numa altura em que as ligações à internet são cada vez mais rápidas. Só isso é suficiente para retirar a diversão ao jogo, sairmos rapidamente da partida  para tentar regressar mais tarde, sem resultados melhores.

Depois porque o jogo tem inúmeros bugs gritantes para uma versão final. Problemas que nem nas versões beta deveriam existir, quanto mais num lançamento, que no caso antecipado custou mais dinheiro aos fãs. Estar no topo de um arranha-céus e observar hoovercrafts a trepar pela parede como uma aranha é das coisas mais estranhas que poderia ver neste tipo de jogos.

Mas basta visitar os fóruns dedicados para ver algumas das queixas dos jogadores, que ora acontecem com mais frequência a uns que a outros, alguns são mesmo problemas de design que duvido poderem ser corrigidos nos próximos tempos. Os lobbies persistentes, capazes de manter os jogadores entre as diferentes partidas não existe para já, obrigando a fazer matchmaking constante, demorando a voltar a jogar. Não existe escolha de lobbie manual, somos sempre entregues à sorte. E outros detalhes que sendo um jogo exclusivamente online deveriam ser acautelados.

Depois existem poucas opções de armas e veículos disponíveis para escolha. Nos veículos existe provavelmente um modelo por classe e mesmo as armas por especialista são praticamente idênticas, ficando a sensação que a DICE está a guardar trunfos na manga para futuras expansões. E por falar nos especialistas, é difícil de reconhecer cada um no jogo, parecendo que todos os soldados são semelhantes.

Não tendo uma componente narrativa, esperava-se que o jogo oferecesse mais modos de jogo e conteúdo online variado. E no caso de Battlefield 2042 esperava-se realmente mais. O modo clássico Conquest, o mais jogado da série, mantém-se intacto: duas equipas combatem para capturar pontos de controlo e pontuar, até que a equipa adversária fique sem pontos para reforços, ou seja, respawns. O segundo modo chama-se Breakthrough, em que uma equipa tenta capturar os pontos de controlo e a outra tem de os defender.

O jogo está muito dependente daquilo que chama Battlefield Portal, uma plataforma aberta à contribuição da comunidade para criar mapas e conteúdos, como LittleBigPlanet ou Dreams da Media Molecule. Aqui pode-se encontrar mapas diferentes e modos de jogo, incluindo conteúdos relacionados aos anteriores jogos Battlefield disponibilizados pela produtora. Este poderá ser no futuro uma paragem obrigatória, mas neste início ainda existe pouco conteúdo, pelo que entendi.

Aquilo que se nota neste Battlefield 2042 é uma ambição desmedida da DICE, que tenhamos de salientar, é um dos estúdios mais antigos e experientes, com uma capacidade tecnológica na dianteira da indústria graças ao seu motor Frostbyte, que alimenta a maioria dos jogos da Electronic Arts, incluindo FIFA. E esta nova geração do motor demonstra a sua capacidade de gerar mapas massivos e detalhados. E o jogo ainda faz um show off de uma das características mais badaladas da sua apresentação: as condições metereológicas adversas.

O jogo tem uma mensagem ecológica, um mundo mais instável daqui a 20 anos devido às alterações climatéricas. Isso está presente nos temporais persistentes, nas mudanças constantes entre o sol e a chuva, mas os protagonistas são os furacões que atravessam os mapas. Tudo em redor é sugado, incluindo veículos e soldados que são projetados no ar. Se abrirmos os planadores podemos simplesmente surfar o furacão, numa experiência pouco comum nos videojogos. Estes servem para nos projetar na vertical, mas de resto é apenas um show off técnico como disse, de arregalar o olho. No entanto, devido à escala massiva dos edifícios, estes não são tão demolidos como o anterior jogo da série.

E esse é um exemplo de como é Battlefield de nova geração, um sandbox com uma escala incrível, mas que ao mesmo tempo salienta na mesma escala os “buracos” técnicos. A sensação de disparo, do manuseamento das armas é excelente, mas acertar nos alvos pode ser mais complicado se tivermos drops constantes na latência. De igual forma os veículos parecem demasiado poderosos, limpando tudo por onde passam, sobretudo os tanques.

Battlefield 2042 teve um lançamento desastroso, provavelmente o pior dos últimos capítulos, quando olhamos para jogos como Battlefield 1, por exemplo. O jogo foi lançado cedo demais e a DICE agora tem de ir atrás do prejuízo, corrigindo e recuperando os fãs. E isso só vai acontecer mostrando resultados e introduzindo mais conteúdos, algo que tenho a certeza que vai acontecer, olhando para o passado. Estamos perante um diamante em bruto, com um potencial para ser o melhor sandbox de guerra, mas duvido que isso venha a acontecer nos próximos bons meses.