Quando uma franquia já tem imensas entradas, a pergunta mais óbvia do novo jogador acaba sempre por ser “Dá para jogar sem jogar os anteriores?”. Da franquia Halo só tinha completado Halo Reach, que adorei, mas quando passei para Halo CE não achei grande piada ao jogo e acabei por parar a meio, o que me levou a colocar a mesma questão. Os sucessivos podcasts que ouvia eram tudo menos elucidativos acerca dela, sendo que muitas vezes o mesmo paineleiro tinha uma opinião e a opinião contrária ao mesmo tempo. Tinha alguma curiosidade com o jogo, por isso fui ler a Wikipedia e atirei-me de cabeça.

Duma forma genérica qualquer jogador tem umas luzes da história de Halo, mas ao ler sobre ela percebi que não era bem uma luz que eu tinha, na melhor hipótese tinha o pirilampo vermelho que sinaliza que o alarme do carro está ligado quando o desligamos. Todo o lore da franquia é bastante complexo e cheio de ramificações, que provavelmente resultam muito melhor no jogo que quando se lê a história, já que não ficamos sujeitos à habitual complexificação do documento escrito.

Também me parece claro que Halo Infinite quer ser a porta de entrada para uma nova geração de jogadores, ao mesmo tempo que tenta agradar à enorme legião de fãs já existente, após as entradas 4 e 5 que não foram, por uma razão ou outra, adoradas.

Sempre afirmei que o papel deste jogo no futuro de toda a franquia era fundamental, pois tinha o dificílimo papel de fazer a ponte entre o passado e o futuro, mas, não satisfeito, ainda tentou varrer para debaixo do tapete todos os actos falhados da 343 em Halo 4 e 5. Como a tarefa já não era hercúlea para começar, porque não adicionar mais algumas coisas? Este papel ingrato acabou por deixar o jogo preso num limbo, onde este não podia estupidificar os veteranos e ser críptico demais para os novos jogadores.

Foi aqui que me perdeu.

Halo Infinite não faz bem este papel de explicar ao novo jogador o que a franquia realmente é. Embora eu não seja fã do jogo, sei e admiro o legado deixado por Halo. Provavelmente muito do que hoje são os FPS numa consola a ele se deve. Claro que mais cedo ou mais tarde alguém iria acertar na fórmula, mas é injusto escamotear a sua importância por essa razão. Esse legado também criou fãs acérrimos, que obviamente não podem ser ignorados, e este jogo parece muito mais um tributo a esses resistentes que uma tentativa de introduzir o jogo a muito mais gente.

Há imensos throwbacks na história, aliás, todos os seus pilares estão assentes em eventos que já passaram que nem se tentam explicar em tempo útil e, pelo que percebi da minha pesquisa, mesmo os eventos que aconteceram neste jogo são originais, logo passamos muito tempo a correr atrás do prejuízo… duas vezes!

Entendam que eu também vejo este jogo como um novo jogador. É difícil atingir tudo e mais umas botas.

Obviamente que a equipa não é estúpida, é claramente perceptível esta dificuldade, que foi contrabalançada criando uma história mais simples e linear, como que a criar as bases para o futuro, ignorando um pouco o presente e o passado. Esta opção também pode dissuadir um pouco aqueles jogadores que procuram histórias marcantes. Halo Infinite não é isso. Desde inimigos textbook, cinzentos e com pouco para recordar, opções estranhas de narrativa e uma insistência no reboot da ideia original do romance platónico entre Masterchief e Cortana adorado por todos, nem que isso significasse apagar todo o lore criado pela 343, como uma assumpção de culpa da sua parte.

Mas dá ou não para jogar sem conhecer a história? Ajuda conhecer, mas admito que, se houver paciência para chegar ao fim, as explicações são suficientes para que o jogo se aguente por si mesmo. É um bocado estranho 80% das explicações aparecerem nos últimos 5 minutos, mas nem é a primeira vez que vejo isto, nem deverá ser a última. Foi uma opção.

Pode parecer que me estou a esquecer, mas há um jogo para além da história, e foi isso que me agarrou, quer dizer, o gancho é que me agarrou.

Halo Infinite sem o gancho é um shooter banal. Não vi nada de especial nele, inclusive mudaram aquilo que considerava mais característico com as armas em Halo, o facto de termos de as mudar constantemente e de termos de ir lutando com o que havia. Aqui há algumas armas muito interessantes, que podemos usar em praticamente todas as situações, cuja munição é fácil de encontrar, e mesmo quando não a encontramos, há estações de recarregamento espalhadas por todo o lado que acabam por fazer o jeitinho. Claro que as armas mais fortes são de munição mais curta, essas sim de utilização situacional, mas estrategicamente colocadas para estarem disponíveis nos locais em que são mais úteis, temos é que as saber procurar.

Voltando ao gancho, este representa uma habilidade que serve para tudo. Mobilidade, combate, verticalidade, locomoção, substituição, tudo! Tão desequilibrada que está esta habilidade que nem aloquei pontos de desenvolvimento em nenhuma das outras, até me esqueci deles após o maximizar e à armadura. Neste jogo não podemos aceder a todas as habilidades ao mesmo tempo, como se a 343 nos quisesse dar diversidade no combate, mas ao mesmo tempo deu-nos um gancho que é muito melhor e mais divertido que todas as outras juntas!

Tinha estado a falar sobre isto há uns dias e acabei por ver num vídeo qualquer uma ideia similar. O que interessa ver se há adversários do outro lado da parede se podemos usar o gancho para subir a parede e ver? O que interessa termos uma cobertura se podemos usar o gancho para nos desviarmos para trás de uma cobertura? Mas há mais. O próprio uso de veículos acaba por se tornar obsoleto quando comparado com um gancho, apenas sendo útil em momentos em que queremos levar uma equipa connosco, já que eles não conseguem acompanhar a nossa mobilidade ao usar o gancho. O terreno é bastante acidentado, e com o gancho permanentemente disponível podemos aceder a qualquer local, praticamente sem limitações de forma muito mais rápida. Mesmo os locais aos quais não conseguimos aceder advêm de limitações artificialmente criadas pelo jogo, que são inconsistentes com tudo o resto, pois o que acontece pontualmente é o gancho não agarrar locais sem qualquer motivo para isso, apenas para impedir que o usemos nesse local.

A piada disto é que o gancho é que é o gancho do jogo. É mesmo muito divertido explorar as múltiplas combinações que este nos oferece, que transformam um mundo desinteressante e repetitivo num parque de diversões para explorar.

A história de Halo Infinite deixa espaço para imensas adições e a Xbox já disse que este jogo é a base para imensos anos. Este texto nem é nem quer ser uma análise, para isso espreitem a do Rui Parreira, mas provavelmente esta é a altura certa para o jogarem, antes de estar cheio de mais missões desinteressantes e repetitivas ao estilo Ubisoft. Neste ponto é um jogo equilibrado e divertido que provavelmente vos irá entreter por uma data de horas, embora pareça muito mais feito para os fãs que já criaram uma tonelada de recordações com ele, que para o novato que quer entrar no seu mundo.