Caçada Semanal #300
A primeira caçada semanal de indies de 2022 é duplamente comemorativa: marca a primeira do ano civil e é também o tricentésimo artigo do género que fazemos desde que começámos a desbravar o mercado indie em 2015.
Abrimos o ano com três jogos do ano passado, mas que merecem ser falados, e que mostram a grande diversidade do mercado indie.
Gordian Quest [PC]
Sabem aquela sensação de conhecerem e adorarem algo que vos é muito próximo, mas que a maioria das pessoas ainda mal sabe da existência. Foi assim a minha vida na viragem da primeira para a segunda década deste milénio, desde que descobri em 2007 a magia dos deckbuilders nos jogos de tabuleiro. Foi, aliás, o género, o culpado pelo meu mergulho nos board games, uma piscina sem fim de onde não mais saí.
Até à chegada deste género aos videojogos demoraram anos, mas parece-me que, como tudo no mundo hiper-saturado de lançamentos em que vivemos, os deckbuilders tornaram-se quase endémicos aos videojogos, com o meu favorito de sempre, SteamWorld Quest, no lugar cimeiro desta nova vaga que tem Slay the Spire como ponta de lança.
Gordian Quest, lançado há poucos meses em Early Access, segue a tradição de RPGs clássicos como Ultima e Wizardry, mas adiciona-lhe uma camada de deckbuilding. Um combate táctico e estratégico, onde as nossas unidades partilham pontos de acção, que servem como pagamento para as cartas que vamos recebendo em cada turno.
Para além das cartas que vamos desbloqueando e ganhando acesso, existe também um mapa de desenvolvimento de personagens, com poderes passivos e habilidades que vamos desbloqueando da forma mais clássica possível.
Apesar de ter gostado bastante de Gordian Quest, já joguei muitas abordagens mais interessantes que utilizem o deckbuilding de forma diferente, sendo que Power Chord, um dos finalistas da edição de 2021 do Indie X, é uma delas.
Grow: Song of the Evertree [Switch, PS4, PC, Xbox One]
Um dos problemas do Indie X me consumir tanto tempo, é que normalmente o meu trabalho de quase 2 meses do Rubber Chicken acaba por atrasar-se. Neste caso, sinto que Grow: Song of the Evertree, publicado pela 505 Games em grande parte das plataformas, é daqueles jogos onde regressarei com alguma recorrência para poder explorar tudo aquilo que este atípico jogo tem para nos mostrar.
Um jogo que mistura uma série de elementos e géneros diferentes num título que faz lembrar um Animal Crossing fantasioso com toques de city building (mais distantes dos que o paradisíaco jogo da Nintendo nos traz.
Grow: Song of the Evertree é visualmente brilhante, e traz-nos um mundo profundo, onde somos um alquimista que tem de reconstruir um mundo devastado pelo definhamento. Criamos sementes de mundos que plantamos na Evertree, a árvore que é o eixo de todo o universo do jogo, e que demonstra o tremendo salto que os criadores de Yonder: The Cloud Catcher Chronicles deram em tão poucos anos.
Este Grow: Song of the Evertree é uma jóia que passou nos intervalos da atenção mediática, e um jogo que queremos aprofundar num futuro próximo.
Com uma beleza e um ritmo mecânica exímios, este é o life simulator/town management que precisávamos durante a pandemia, um ano e meio após a companhia que a vida relaxada insular de Animal Crossing nos trouxe.
Word Forward [Switch, Android, iOS, PC, Mac]
Menos Scrabble do que eu imaginei inicialmente, Word Forward é na realidade um puzzle game, complexo, desafiante, e na maioria das vezes duro de roer. Ou de soletrar.
Em grelhas de 5×5 quadrados, temos de encontrar palavras em linha recta, em oblíquas, ziguezagues, ou qualquer forma que nos aprouver, tudo, com um objectivo simples: limpar o ecrã de letras. Cada letra usada numa palavra é automaticamente apagada, o que vai criando as dificuldades óbvias com os espaços vazios a criarem abismos entre a possibilidade de formar novas palavras.
Apesar da sua aparente simplicidade, é mais do que óbvio que cada passo e decisão dadas neste puzzle game condicionam, e muito, todo o jogo. Uma palavra traçada, uma letra que é apagada, e possivelmente deixámos de ter a capacidade de terminar o desafio.
Para isto contribuem ainda os blocos de poderes que temos num friso, que adicionam uma nova camada ao aspecto quase-xadrez de todo o jogo, e que abrilhantam ainda mais os 500 níveis disponíveis desde interessante e inteligente puzzle game baseado em palavras.