Serão os videojogos arte? Uns dizem que sim, outros batalham pelo não.

Foi assim com todas as artes: até a sétima arte teve no seu tempo os seus “negacionistas”, mas com tempo entranhou-se. Um assunto muito similar ao que se discute sobre a cultura (o que é ou não), e já que a arte faz parte dela, na minha opinião tudo o que produzimos e pensamos é cultura.

Há uns bons anos, ainda na infância dos multimédia, surgiram muitas obras mais ou menos interativas que se encaixam não apenas como videojogo, mas como audiovisual e arte digital.

Este jogo que vou falar encaixa-se nos princípios de 3 artes, a 7ª arte que todos conhecemos e amamos, os audiovisuais, a 10ª Arte que são os videojogos e por fim não menos importante a 11ª a arte digital. (Uma nota parelala: em algumas categorizações há quem meta os videojogos como a 11ª sob a arte digital).

Quando o multimédia chegou aos PCs, houve um boom de criatividade na plataforma!

 

A primeira vez que vi Cerimony of Inocence foi por um catálogo de jogos, e a primeira vez que o experimentai foi numa revista espanhola que incluía múltiplas demonstrações. Foi a primeira vez que tive contacto com algo tão peculiar.

Não querendo contar tudo porque merece ser reverenciado, mesmo sendo complexo corrê-lo em hardware moderno (e já lá vamos a esse aspecto), a história é muito linear, mas apaixonante,

Resumindo, o que vamos percorrendo com diversos cliques em sítios específicos é um desvendar da correspondência entre Griffin e a sua musa inspiradora, atestando à sua própria sanidade o constante confronto sobre a sua própria existência. O que é real?

Tanto o jogo (ou como queiram chamar), pode ser CD-ROM interactivo, mas tem o seu charme, não apenas no aspecto da sonoplastia mas também do próprio imaginário apresentado, com um misto de surrealismo e noutros momentos passamos para um pós-modernismo e urbanismo.

Este exótico CD-ROM é um complemento à obra de Nick Bantock, mais precisamente toda a saga The Griffin and Sabine.

Estamos em 1997, um ano que já não é precisamente os primórdios do multimédia – antes disso muitas experiências surgiram – mas ainda assim estamos nos inícios quando os computadores já tinham plena capacidade de conjugar áudio com vídeo, surgindo assim autênticas obras de arte como o aclamado Myst que ajudou a arrancar este género em 1993.

A mecânica é muito simples como referi, quem o produziu não ambicionou que se tornasse algo complexo, como uma experimentação convida-nos a ler a correspondência composta por cartas e postais.

Tudo o que vemos e ouvimos é interactivo, tudo nos aguça a curiosidade por descobrir o que vem a seguir, clicamos num pássaro ele voa e larga uma pena, essa pena arrasta-se para uma frase que activa uma nova animação e por ai, temos desde puzzles básicos, a simples prosseguir, mas deixa-nos usar uma bocado a nossa imaginação a tentar descobrir o que vem a seguir.

O tipo de animação conjugado com diversos estilos de arte ajuda a um ambiente peculiar, misterioso e aconchegante. É completo no sentido que combina um bom ambiente sonoro com uma boa utilização da arte e a sua simbologia que está tão relacionada com a obra como com a mente do protagonista, este narrado na primeira pessoa.

Tecnologicamente é algo já ultrapassado, mas mantém o seu charme inicial, uma narrativa interactiva feita em Flash da Macromedia, com uma grande personalização do motor de jogo em torno do Flash como raramente vimos mesmo em jogos do género mais tardios. Desenvolvido na empresa do mítico Peter Gabriel, Real World Multimedia, e com vozes de Paul McGann, Isabella Rossellini e Ben Kingsley.

Perdoem-me os deuses do colecionismo vou abrir esta copia perfeitamente selada de origem!

Mas deixou o seu legado em jogos actuais por exemplo Gorogoa, jogo que foi aqui analisado. Como podem jogar este jogo ou experiência interactiva tão exótica?

Se conseguirem uma cópia do jogo original, terão que o correr em hardware da época com Windows 95 ou 98. Contudo, como está em estado de abandonware a melhor hipótese é recorrer a virtualização e ai existem dois métodos:

 

O 1º é correr o CD-ROM original ou uma cópia através de virtualização pelo 86Box. A 2ª forma é correr uma build que já inclui o jogo e a configuração virtualizada do Windows 95. Para isso e só seguir as instruções neste link:

https://collectionchamber.blogspot.com/2015/09/ceremony-of-innocence.html

Este é um dos muitos exemplos de como é importante a preservação deste tipo de media, com a tecnologia Dlash descontinuada é muito importante apoiar quem dá nova vida a estas obras, sejam jogos sejam obras interativas.

Recomendo pegar nos livros que estão disponíveis e ainda são comercializados, ambas as obras são complementares, seja o CD-ROM sejam os livros o que fazem parte do design. Já os loiros esses são também um exemplo deste género literário emergente de livros interativos.

Também podem ler mais sobre o assunto por este link, e podem comprar o livro aqui.