Provavelmente há mais de meio ano que não andava a chafurdar nos novos lançamentos para perceber se existia algo que gostaria de mostrar. Sempre gostei de fazer isto, e admito que é uma sensação óptima encontrar algo que gostamos e não conhecemos. O jogo que trago hoje é Watcher Chronicles, que embora não seja a última Coca-Cola no deserto, está muito bem feito.

Guiando-me pelo Steam este é um jogo auto-publicado, e isso nota-se. Nota-se tanto que quando comecei a escrever este texto já nem me lembrava como se chamava. A Third Sphere Game Studios precisava de algumas lições de marketing, pois Watcher Chronicles tem tudo para passar por baixo de todos os radares, já que é um soulslike em 2D, um jogo que baseia todas as suas mecânicas num ataque principal, um ataque secundário, bloquear, esquivar e gerir a resistência. Para além destas 5 mecânicas base há muitas mortes, os tradicionais pontos de save e a possibilidade de recuperarmos a moeda que perdemos ao morrer na run anterior.

Então porque escolher este e não um dos milhentos outros? A minha resposta acaba por ser “e porque não?

Watcher Chronicles não entra de caras na categoria dos jogos bonitos, porque fica uns furos abaixo do tradicional desenho tipo banda desenhada. É inegável que chama a atenção, mas eu acredito que não vou ficar a usá-lo como exemplo.

Admito que tudo está muito bem desenhado dentro do estilo. As personagens são distintas e nítidas, não há confusão com efeitos ou sobreposições sobre o pano de fundo, a palete de cores é bem seleccionada, sem momentos aberrantes e até há partes do cenário que podemos destruir, mas não ganhamos nada com isso. Durante muito tempo andei a destruir as coisas para ver se ganhava alguma coisa, mas depressa percebi que se destruía por destruir, e fiquei sem saber bem qual o propósito daquilo, até porque depois das primeiras 3 ou 4 vezes que acontece, já nem ligamos mais a isso.

Podia dizer que enquadrava com a história, mas não sei muito mais da história que isto: os demónios do Inferno tomaram conta do Purgatório, agora temos de derrotar os mais de 20 bosses para voltar a abrir as portas para o Céu. E pronto.

Esta aparente frugalidade abriu espaço a fazer de tudo no jogo, o que torna o Purgatório indiferenciado da Terra. Talvez aqui pudesse ter sido feito algo diferente, mas imaginação não é o meu forte.

A progressão em Watcher Chronicles acaba por ser muito estratégica. Sempre que jogo algo similar o meu instinto é ir avançando até que dê, mas cedo percebi que tinha de jogar muito mais com os upgrades e comecei a fazer isso mesmo. Sempre que tinha moeda para melhorar o que queria, voltava para trás. Fazer grind também é relativamente simples, já que cada vez que fazemos um save todos os inimigos fazem respawn, então cheguei a andar a saltar entre checkpoints de forma sucessiva quando ficava preso em alguma área e precisava de subir mais um ou dois níveis.

Jogar numa versão anterior ao lançamento nunca me causa grande transtorno, mas aqui acho que podem mexer em algumas percentagens. Cada novo nível traz incrementos apenas numa das nossas 4 características e essa melhoria é bastante baixa, porém acaba por ser muito mais notória do que eu imaginava, ao ponto de um ou dois níveis chegarem para fazer toda a diferença em algumas secções, incentivando e tornando o ganho imediato do grind menos aborrecido, se aborrecido sequer, porque o jogo vive naquele limbo em que parece que é fácil, mas está sempre a navegar num mar entre o requerer perícia ou somente força bruta. Isto é muito difícil de fazer.

O grosso deste tipo de jogos é o combate, se este for mau tudo o resto é irrelevante. Em Watcher Chronicles jogou-se pelo seguro. O combate é bastante eficaz. Todos os inimigos são distintos, com ataques telegrafados, esses que fazem as delícias do jogador com perícia e reflexos. Sendo mais fracos nesse campo, um bocadinho mais de grind e compensamos. Há, no entanto, dois pequenos detalhes que eu mudava. O movimento de rolamento acaba numa pequena pausa que corta um bocado a fluidez do movimento, provavelmente eu mudaria isso. Em combate não se nota, mas ao percorrer o mundo faz muita diferença. As hitboxes das armas estão bastante bem feitas, o que torna algumas muito mais poderosas que outras. Eu percebi a intenção de as tornar situacionais, mas algumas dão para ao mesmo tempo atingir os inimigos no chão e no ar, ou têm velocidade à qual atuam que compensa largamente alguma desvantagem, o que torna muitas das múltiplas armas obsoletas logo à partida.

Watcher Chronicles é um jogo seguro para quem gosta do estilo. Está a um preço aceitável, tem um combate bem desenhado, mecânicas simples, um loop que não aborrece ninguém. Estou bastante contente com o jogo. Certamente não será para toda a gente, mas duvido que quem o compre se arrependa.