Vivemos em tempos estranhos para a compra de placas gráficas. No meio deste caos, vamos analisar o que é a 3080 Ti, para quem é a 3080 Ti e se vale a pena a sua compra. No entanto, comecemos com um pouco de História.

A NVIDIA acrescenta o sufixo Ti às gráficas que representam uma versão mais potente em comparação à variante base. Por exemplo, uma 2070 Ti será superior a uma 2070. Por sua vez, as placas cuja numeração termina em 80 e com o sufixo Ti são (ou eram) consideradas o pináculo daquela geração da NVIDIA para gaming.

A título de exemplo, a 780 Ti, uma gráfica de 2013, ainda hoje aguenta alguns títulos recentes a 1080 low/med settings a 60 Fps. A 980 Ti, que representou um salto de cerca de 40% de performance relativamente à 780 Ti, também merece uma menção honrosa, já a mítica 1080 Ti representou um salto de 70% (!) relativamente à 980 Ti: uma gráfica única e com um salto de performance raro. Também a 2080 Ti deu um salto, embora mais tímido (na casa dos 25%), mas acreditamos que foi apenas por culpa da magnânima 1080 Ti que foi uma verdadeira exceção em termos de performance.

Ou seja, o que a história nos ensina é que comprar uma gráfica NVIDIA terminada em 80 Ti, em princípio, garante-nos longevidade e uma sensação de tranquilidade relativamente às capacidades gráficas do nosso sistema, mas, também, um deserto infindável nas nossas carteiras. Isto porque as gráficas topo de gama da NVIDIA têm tendência a ser caras…

…Muito caras:

780 Ti tinha um MSRP (manufacturer’s suggested retail price, preço de venda ao público recomendado) de $699, a 980 Ti de $649, a 1080 Ti de $699, a 2080 Ti de $999 e a 3080 Ti tem um MSRP de $1199, agora atualizado para €1269 na Europa segundo o Tom’s Hardware. De salientar que todos estes preços de venda recomendados são para a versão base, basta ir para uma versão OC ou com melhor heatsink para os preços dispararem 20, 30 ou 40%.

Dito isto, as 80 Tis nunca foram gráficas para carteiras leves, mas a tendência crescente que se tem verificado desde o lançamento da 2080 Ti, acrescentando ainda a crise dos semicondutores, pandemia, o boom das criptomoedas, scalpers e consequente falta de GPUs nas prateleiras, tudo isto criou a tempestade perfeita para o que eu já apelidei das “dark ages” do PC Gaming.

E isto porque, à data da escrita deste artigo, janeiro de 2022, a única 3080 Ti disponível no site da PCDiga é uma modesta PNY 3080Ti pelo preço proibitivo de 1994,90€.

Tendo acompanhado esta tendência de preços posso afirmar, com alguma certeza, que comprando uma 3080 Ti em loja, esperem sempre gastar entre 1850€ a 2200€ (ou mais), dependendo da versão. No meu caso, a minha caça pela 3080 Ti começou há vários meses no OLX, depois de algumas tentativas frustradas de entrar na lista que a EVGA criou para comprar gráficas pelo MSRP.

Acabei por comprar a gráfica em janeiro de 2022, como nova, em caixa, fatura com 15 dias da PC Componentes, por cerca de 300€ a mais do que o MSRP. Foi uma compra épica, única e sortuda, ainda assim, estupidamente cara. Consequentemente, não pude optar propriamente por uma versão à minha escolha, tendo em consideração que não estava a comprar em loja, mas apenas considerei marcas que confio, nomeadamente, Gigabyte, Asus, MSI, EVGA e equivalentes.

Acabei por ter a sorte de conseguir esta GeForce RTX 3080 Ti Gigabyte Gaming OC, uma versão intermédia entre a “low cost” 3080 Ti Eagle e da topo de gama 3080 Ti Aorus.

Os gloriosos dias de abrir uma caixa de uma placa gráfica nova e ter mil manuais, autocolantes, jogos gratuitos, etc., desapareceram, pelo menos nesta versão da Gigabyte. Uma caixa de cartão modesta com uma sleeveg4m3r yEah boiiiii”, enfim, um clássico packaging de GPU topo de gama.

Retirando a sleeve e abrindo a caixa, encontramos um envelope preto com o símbolo da Gigabyte. A expectativa foi grande, um envelope preto com bom aspecto! Goodies, ofertas?

Não. De forma dececionante apenas encontramos um quick user guide e uma folha (só frente).

Não se enganem, apesar do conteúdo parco esta folha tem informação importantíssima. Com um registo rápido no site da Gigabyte a nossa garantia dispara para 4 anos, sim, 4 anos! Para uma placa gráfica é uma garantia impressionante que nos dá um grande conforto depois de tamanho investimento. Bem jogado, Gigabyte.

Se olharem com atenção podem reparar que a ventoinha da esquerda é mais pequena que as outras e, curiosamente, rodam de forma assimétrica supostamente para reduzir turbulência, ruído e garantir maior estabilidade.

A gráfica é grande, robusta e pesada. A Gigabyte não poupou no alumínio nem no cobre, vemos um número infindável de fins na heatsink que dão um excelente prognóstico relativamente às temperaturas da GPU. No que a Gigabyte poupou foi num suporte para a placa gráfica, o que é um pouco vergonhoso tendo em consideração o quão massiva e cara ela é. Por exemplo, a 3080 Gaming Trio da MSI traz um suporte de GPU incluído e custa na prática menos 600€.

A parte exterior é feita de plástico, de alta qualidade ao toque, enquanto a backplate é de metal. Novamente, nota-se uma preocupação com o arrefecimento tendo em consideração que alguns fabricantes usam backplate de plástico, cujo objetivo é apenas estético (e muitas vezes piora a temperatura). Vemos ainda uma abertura na parte final que segundo a Gigabyte é uma extensão da heatsink, supostamente permitirá temperaturas ainda mais baixas.

Quase de forma microscópica conseguimos reparar ainda num pequeno interruptor que diz “OC/SILENT” permitindo escolher que modo da BIOS pretendemos. GPUs com dual BIOS são sempre bem vindas, dando opções e segurança ao utilizador.

Depois de montada podemos reparar que o look industrial encaixa perfeitamente no tema do meu PC. Escura e com iluminação discreta (RGB mas que eu faço questão de ter num simples branco), linhas retas e pouco folclore. Gosto.

Como a Gigabyte não incluiu um suporte de GPU tomei a liberdade de comprar este na Amazon . Por 14€ é uma solução discreta, de qualidade, eficaz e ajustável. Apesar da minha Z390 Aorus Master ter revestimento de metal nas portas PCI, com recurso a um nível reparei que efetivamente a gráfica estava inclinada 0.8 graus, o que ao fim de 2 anos poderia representar 1.5 ou mais de inclinação.

Pondo a qualidade de construção e a estética de lado, passemos então ao mais importante: performance. A Gigabyte 3080 Ti Gaming OC apresenta-nos um boost clock base de 1710 MHz, dual BIOS (OC e Silent), 12 GB de memória GDDR6X com 912.4 GB/s de bandwith e uns fantásticos 35.02 TFLOPS (FP32 float performance). Para os mineiros mais curiosos o hashrate é de 83.0 MH/S (seus miseráveis, parem de comprar as nossas gráficas %$#$%”#!!!).

Os 12 GB de VRAM não são tão future proof como os 16GB da 6900XT, mas, ainda assim, considero ser um valor que me dá conforto a 1440p. Também será de salientar que a memória da NVIDIA é mais rápida, como já referi a 3080 Ti tem um bandwith de 912 GB/s e bus de 384 bit, comparativamente aos 512 GB/s e bus de 256 bit da 6900XT (GDDR6X versus GDDR6).

Nos dias de hoje os clocks anunciados são sempre inferiores ao que os GPUs conseguem alcançar, assim, quero começar por falar do boost clock e da performance no geral:

Como podem ver, ao correr o donut demoníaco do FurMark (v1.29.0.0) na BIOS silent, a 3080Ti alcança uns simpáticos 1905 MHz, com um consumo energético de 349w. A gráfica nunca ultrapassou os 72°, mesmo a ser torturada. A ventoinha assentou na casa dos 75% a 80% e devo dizer que de fones é virtualmente inaudível: a solução de tripla ventoinha com uma heatsink Ti-tânica (no pun intended) deu frutos e podemos observar valores realmente impressionantes.

Com a OC BIOS ativa a 3080Ti conseguiu, ainda que de forma modesta, levantar as asas e saltar para os 1950 MHz, com picos nos 1980 MHz. As temperaturas foram idênticas, mas as ventoinhas eram audíveis em stress test. Tudo isto à custa de um consumo na casa dos 360w com picos nos 365w.

Pessoalmente eu utilizo a gráfica com a BIOS silent e é dessa forma que continuaremos a nossa análise. A diferença em termos de performance é muito pequena, o consumo é maior, o aumento de barulho é percetível e a performance de topo da 3080 Ti torna desnecessária a utilização da BIOS OC. Talvez uma atualização de firmware no futuro melhore estes valores, mas, para já, é o que temos.

Aproveitamos também para mencionar que com consumos na casa dos 350w, será sempre recomendado uma fonte de alimentação que ronde os 750w, com boa eficiência e de uma marca de reputada (Seasonic, Corsair, EVGA, Silverstone, be quiet!, entre outras). Pessoalmente aproveitei para reformar a minha RM850 da Corsair que já estava nos seus 8 anos de vida e a acusar cansaço, optei por uma Seasonic Prime GX-1000. Os 1000w são overkill, mas fico descansado e não me preocupo com nada.

Vamos a jogos? Todos os testes foram realizados a 1440p no meu sistema e analisados pelo FRAPS: CPU: Intel i9-9900k @ 5.1GHz, Motherboard: AORUS Z390 MASTER, RAM: 32GB DDR4 Corsair Vengeance PRO 3200 CL16, Cooler: Cooler Master Masterliquid 360, PSU: Seasonic PRIME, GX-1000w – 80 PLUS Gold e Caixa: Lian Li PC-O11DW Dynamic Black + Cooler Master MF120R ARGB 120mm 3 pack.

PUBG (DX11). Avg: 172.973 – Min: 152 – Max: 192, Mapa: Taego e Settings: competitivas utilizadas pelo WackyJacky101.

STAR WARS Jedi: Fallen Order. Avg: 125.427 – Min: 123 – Max: 128, Settings: Max.

New World, Cidade: Avg: 65.994 – Min: 61 – Max: 80, Questing: Avg: 84.275 – Min: 61 – Max: 159, Settings: Max.

Apex Legends, Arena: Avg: 156.442 – Min: 151- Max: 166, Settings: Max.

Overwatch, Avg: 290.113 – Min: 260 – Max: 366, Settings: Max.

Não me vou alongar a fazer mais benchmarks, como certamente saberão eles estão disponíveis online, feitos por pessoas com mais capacidade e detalhe do que eu apresento, no entanto, gostei de ter deixado este pequeno contributo para que possam ter um exemplo do que a 3080 Ti é capaz, com os jogos que já tinha instalados e prontos para teste.

Concluindo, na minha opinião acho impossível alguém comprar uma 3080 Ti e dizer: “fiz uma compra inteligente”. Não é. É uma compra irracional, é uma compra de entusiasta, nunca aconselharia ninguém a gastar estes valores numa placa gráfica, especialmente quando existem outras alternativas mais acessíveis onde o preço por fps é bem mais em conta.

A realidade é esta: estamos a pagar por uma gráfica o preço de um sistema completo. Mais, eu mudei de uma 1080 Ti para uma 3080 Ti, sendo que a minha gráfica anterior ainda seria perfeitamente capaz de aguentar até ao final desta geração, e 2+ anos se eu jogasse a 1080p.

Então porque é que comprei? Bom, primeiro porque nos dias que correm foi uma “boa” oportunidade de negócio, segundo porque sou entusiasta e gosto de comprar GPU’s high end, terceiro porque de vez em quando uso VR e preciso de uma gráfica que acompanhe, quarto porque não gosto de me preocupar com settings gráficas.

No final do dia a 3080 Ti só é boa compra para quem pondera uma 3090, mas que não precise de 24 GB de VRAM. Assim, pode-se adquirir uma gráfica que tem performance equivalente (melhor nuns títulos, pior noutros) por menos “mil e qualquer coisa euros” (à data de hoje a única 3090 disponível na PCDiga é Zotac Gaming GeForce RTX 3090 24GB Trinity OC por 3049,00 €).

Vamos esperar que esta crise gigantesca passe e, quem sabe, um dia voltamos a comprar GPUs topo de gama por 600 ou 700€ – aí sim, valerá a pena o investimento. Estou contente com a minha gráfica, muito contente. Simplesmente os valores que pedem por elas são absolutamente inaceitáveis. Aguentem, melhores tempos virão.

Rui Pedro Leite