Quando penso em looter shooter penso imediatamente na franquia Borderlands. Só em 2016 joguei o primeiro, mas agora parece que, mesmo reconhecendo que a sequela é um jogo superior em todos os aspectos, já não se apresenta tão adaptado àquilo que espero do género. Borderlands 2 ainda é bastante jogável, mas…

Andava há anos a dizer que tinha de jogar Borderlands 2. Sempre considerei a subtil alteração gráfica que transformou um estilo completamente cartoon num mashup a meio caminho entre o desenho animado e o cel-shaded um upgrade significativo e que, na altura, parecia dar outra vivacidade ao jogo dentro de um grafismo que, mesmo que intemporal, é capaz de tornar os jogos da mesma franquia completamente indiferenciados entre si, porém o que na altura me parecia fresco, 10 anos depois parece um bocado datado, com as paisagens e inimigos a não parecerem interessantes independentemente da distância a que os vemos.

Acrescento mesmo que este estilo cria uma confusão visual enorme, com muitos inimigos a parecerem indistinguíveis do meio onde estão, bastando para tal terem cores similares com o fundo onde se encontravam, já que não é fácil diferenciar os planos dentro deste estilo. Era perfeitamente comum eu não perceber de onde estava a ser atacado. Para minimizar esse estrago o radar mudou e tornou-se mais completo, o que ajuda imenso a perceber onde anda a malta.

Outro efeito desta confusão gráfica era não ser fácil perceber para onde podíamos ou não saltar. Muitas vezes a diferença era milimétrica, ou era criada uma caixa ilusória que não correspondia, nem de perto nem de longe, ao terreno onde nos encontrávamos. Num jogo de mundo aberto é bastante comum sairmos da estrada, logo não pensem que isto era uma situação pontual, foi mesmo bastante frequente.

Uma das coisas que gostei no primeiro jogo foi a escrita humorística, mas aqui já não me passou tão bem pela goela. Admito que o jogo já não é direccionado para mim, afinal estou longe de ser um adolescente e há humor que precisa de ser bem contextualizado para resultar comigo. Não foi aqui o caso. A maioria das piadas são gratuitas, o que está completamente inserido na série em si, mas falta o propósito. Talvez se a história fosse interessante…

A história… sim, essa mesma. Não esperava nada de transcendente, mas ainda antes do 1º terço já estava aborrecido com as mudanças bruscas de narrativa, as quezílias forçadas e os momentos que pareciam saídos de um qualquer enredo da WWE. Já no primeiro jogo muita coisa não fazia sentido, aqui sobe-se um degrau na minha incredulidade. No entanto, há que o admitir, a história não interessa muito neste jogo, o que interessa é mesmo o gameplay.

O gameplay é o habitual. Borderlands 2 não é avaro no que oferece ao jogador. Como shooter é bonzinho, como looter é claramente generoso ao ponto de até eu, um inveterado hoarder de toda a caixinha que aparece em qualquer mundo e arredores, já deitar pela boca pontinhos verdes a sinalizar mais loot para apanhar. Podia não mexer, mas se vamos jogar este jogo é porque queremos abrir todas as caixinhas, carago! Hoje em dia os jogos são mais contidos ou, pelo menos, mais direccionados no material que fornecem.

Uma das coisas que ainda se mantém sublimemente actual é a gestão de todos os recursos. Muitas vezes me vi a ficar sem munição para a melhor arma para determinada secção, outras vezes a ter de mudar radicalmente o estilo de jogo para aproveitar as armas que havia. Ter as modificações certas para o escudo e granadas também fazia muita diferença, pois nem sempre os números mais altos eram mais úteis.

Com uma progressão imparável é inegável que vemos sempre os números a crescer, e não é só um número, dão-nos múltiplas formas de evoluirmos a personagem, tanto que há pontos que pululam a cada luta no meio de muitos inimigos como se fossem bolas de pachinko a cair pela maquineta. Infelizmente o jogo está programado para ser difícil apenas seguir o enredo principal caso o queiramos fazer. Talvez até ao nível 15 ainda seja possível, mas aí ainda nem vamos a meio do jogo e é esse o momento em que começamos a ficar para trás. O loot deixa de dar para ser usado com o nosso nível e temos de ir fazer outras coisas.

Olhando para isto pelo lado positivo, grande parte das missões acessórias não são piores do que a história, sendo que algumas até enquadram bastante bem as personagens, especialmente as que vêm já do primeiro jogo, porém eu não gosto quando um jogo torna praticamente obrigatório o conteúdo acessório. Ainda fui forçando a barra, mas no nível 16 já andava a ter loot só de nível 19. Era andar a bater com a cabeça contra uma porta que, mesmo abrindo, deixava-me uma dor de cabeça escusada.

Também já era de esperar mas claro, e isto é óbvio, não podemos ir 10 anos depois a contar em ter alguém online para jogar connosco. Eu não vi ninguém por lá e até agradeço isso, porque admito que não estava com grande vontade de arriscar apanhar alguém batido que só quisesse trollar o meu jogo só para se divertir.

Borderlands 2 não envelheceu muito bem, mas também não é um jogo para descartar completamente. O bom destes jogos antigos é que aparecem a preços muito simpáticos, por vezes até oferecidos, e mantêm uma jogabilidade e grafismos interessantes mesmo para os dias actuais. Obviamente que o género evoluiu um bocado, e os jogadores tornaram-se mais gourmet em relação aos jogos. Não tive paciência para o acabar, mas se só tivesse este jogo para jogar, provavelmente até o acabaria sem grande sofrimento.