Diria que o sucesso de Super Mario Maker não apanhou ninguém desprevenido. O sucesso e a qualidade dos jogos do mais famoso canalizador do mundo não deixam ninguém indiferente, mas a capacidade de sermos nós Miyamotos de trazer por casa e de fazermos os nossos próprios níveis de Super Mario Bros são um apelo demasiado elevado para que toda a ideia não fosse um sucesso à nascença.
O sentimento DYI – ou bricolage – se cresceram com a vinda da cadeia AKI para Portugal, é um elemento tão forte na forma como queremos ir para além de jogar um jogo, levando-nos a querer imprimir o nosso cunho ao que estamos a jogar.
À falta de um The Legend of Zelda Maker, o estúdio Firechick decidiu pôr mãos à obra e criar a sua própria abordagem – e interpretação – do que deveria ser um jogo ao estilo de The Link to the Past com capacidade de criação das próprias masmorras.
Utilizando os elementos de level design – de obstáculos a perigos – que A Link to the Past criou e estabeleceu como padrões do género, Super Dungeon Maker impele-nos a sermos criativos na criação de masmorras para explorarmos, e os veteranos dos jogos protagonizados por Link nos anos 1990 (e não só) vão certamente vasculhar as suas memórias para tentar reproduzir aventuras inspiradas em alguns dos momentos mais emblemáticos desse período.
Eu não tinha ideia do quanto queria construir masmorras até pegar em Super Dungeon Maker. E não me estou a referir a construir com as minhas próprias mãos um espaço de S&M em minha casa. Não tendo de me justificar com ninguém, posso esclarecer-vos que não o faria. Não só porque não é a minha onda, como sou um verdadeiro nabo em tudo o que remete para bricolage, e para além disso vivo num T2. Se o espaço para guardar jogos de tabuleiro é reduzido, a capacidade para reservar uma parte da casa para construir uma sala daquelas que fariam as velhas festas de The Gathering orgulhar-se é absolutamente nula.
Mas voltando ao que nos traz aqui, depois de um deslize pela superfície escorregadia da pele e do látex: Super Dungeon Maker, nesta fase de Early Access no Steam, é um melhor construtor de jogos de aventura, do que um real jogo de aventura. E a razão para isso é simples.
Se os elementos de construção – que acredito que vão ser ainda mais vastos à medida que o desenvolvimento progride, já que muito do que existe agora é meramente decorativo – nos dão uma experiência interessante de criarmos aventuras e masmorras desafiantes, jogar essas mesmas criações é possivelmente a parte mais aborrecida.
A nosso protagonista – uma galinha aventureira em pixel art – é lenta a mover-se e a atacar, o que torna o real usufruto das nossas criações uma acção fastidiosa, que nos leva quase de imediato a voltar à componente de bricolage virtual.
Jogos como estes têm o seu sucesso com a alimentação criativa da comunidade, e nesse campo Super Dungeon Maker já leva um bom avanço. Com largas centenas de masmorras criadas pelos jogadores, há espaço de melhoria para este título do estúdio Firechick. Por ironia, muito do que há a melhorar nem sequer se centra no âmago deste jogo, a criação, mas sim a forma como desafortunadamente nos lembramos que há 31 anos o controlo e fluidez de movimentos de Link dadas as limitações técnicas já tinham sido melhor resolvidas.