Jogar é algo fascinante, tanto pela possibilidade de podermos perder-nos em fantásticos mundos, conhecer personagens com personalidades incríveis, e até mesmo para partilhar estas experiências com os pares. Os videojogos têm esta vantagem, incluindo as referidas vertentes num belo pacote, mas mesmo que outros jogos, nomeadamente os de mesa, promovam diferentes níveis de imersão, é inegável aquilo que se sente em redor da mesa (física ou virtual), em que todos os presentes estão focados na cooperação ou competição em acção, banhados pela relatividade do tempo em prol da diversão.
Que todos gostamos de jogar, creio que é inegável. Todos gostamos de ter dopamina e serotonina a correr-nos no sistema. Todos gostamos de nos divertir e de nos sentirmos bem. Quanto muito, os que dizem que não gostam de jogar, dizem-no apenas porque ainda não encontraram o título e/ou a plataforma ideal.
Uma outra questão que é transversal aos jogos (e nem sequer vou entrar no departamento dos jogos violentos e do comportamento violento. Isso fica para outra altura), é que tendem a ser vistos como uma perda de tempo, e um pretexto para garantir que os mais novos estão entretidos enquanto os mais velhos estão a fazer coisas de mais velhos… que por alguma razão descabida acreditam que a partir de uma determinada idade é suposto deixar-se de brincar e de jogar.
Felizmente estes estereótipos têm vindo a cair, em boa parte graças aos vários esforços em prol do conceito de usar os jogos para resolver problemas sérios. Seja em contexto escolar ou laboral, há espaço para usar os jogos na aquisição de competências e na resolução de problemas. Comecemos então com alguns exemplos.
Videojogos
Abrindo as hostilidades com os videojogos, podemos desde logo pegar nos videojogos online. Sejam MMORPGs, MOBAs, ou FPSs, é inegável que há um elemento fulcral em constante desenvolvimento: a comunicação. Seja a coordenar uma guilda ou um raid numa sessão de World of Warcraft, um confronto intenso na mid-lane em League of Legends ou uma emboscada em Overwatch, é necessário um diálogo constante entre todos os participantes. E relativamente a isto, a eficiência em prol do sucesso aumenta quando se conhecem as competências dos membros da própria equipa, em conjugação com a do adversário. Não é por acaso que os E-Sports existem, afinal de contas.
Ainda no domínio dos videojogos, podemos muito bem ir buscar Assassin’s Creed e Civilization como uma nova forma de abordar História. E já que se fala de Civilization tanto esta franquia como outros jogos por turnos e de real time strategy são uma excelente forma de aprender a gerir recursos e a mitigar danos.
Jogos de Tabuleiro
Os jogos de tabuleiro promovem um ambiente mais intimista, nomeadamente por força da envolvência em torno da mesa, o que por si só é uma benesse nela própria.
Aqui temos títulos como Kushi Express que se destacam em estimular a motricidade fina, em conjugação com a atenção, concentração e coordenação. Já Mysterium e MicroMacro – Crime City aprimoram elementos como a dedução e a associação. O Monstro das Cores, por sua vez, serve de pretexto para falar de emoções e de inteligência emocional de forma descontraída e informal. Claro que também temos jogos temáticos, como é o caso de Pessoa, que nos serve de mote para conhecer melhor e explorar os poemas do autor Fernando Pessoa.
É evidente que no meio disto tudo as relações interpessoais também são alvo de atenção, quer os jogos sejam cooperativos ou competitivos. A já referida vertente de comunicação está de novo presente, com o reforço da leitura da linguagem corporal, bem como outras questões relacionadas com o saber-ser e o saber-estar.
Jogos narrativos
Os jogos narrativos são experiências colaborativas das quais resultam histórias contadas pelos participantes. Por norma existe um Mestre de Jogo, um moderador que apresenta um cenário em que os jogadores participam activamente através das personagens que criaram.
A sinergia é importante, já que cada personagem tem as suas características, a sua personalidade e as suas habilidades, distinguindo-se dos demais e preenchendo eventuais lacunas presentes.
O trabalho em equipa é uma constante, seja em combates contra dragões ou quaisquer aberrações dos mais variados planos de existência, ou em resolver um complexo puzzle em torno de runas e charadas. A isto junta-se a capacidade de argumentação, presente em todo o processo e nas várias interacções, não só com as personagens dos outros jogadores mas também nas personagens criadas e apresentadas pelo Mestre de Jogo. E como é da interpretação de personagens que estamos a falar, temos aqui presente um excelente exercício de empatia e de descoberta das perspectivas do outro.
Podia continuar a alongar-me quanto às valências e aos fantásticos potenciais dos jogos. São excelentes complementos para qualquer actividade em contexto de sala de aula ou de mote para uma formação que permitiria não só a aquisição de competências, mas também para deixar os participantes entusiasmados, isto porque toda a gente gosta de se divertir.
Os jogos vieram para ficar, independentemente do seu meio ou formato, e não adianta pintá-los como os culpados de todos os males quando na verdade são um grande aliado que nos permite chegar à melhor versão de nós próprios.