Com o tempo vim a perceber que muitos dos jogos que não conheço e peço acabam por não ser o que pareciam, mas também tenho a noção que se parece cocó, cheira a cocó e sabe a cocó, muito provavelmente é cocó! Outerverse parece Minecraft, cheira a Minecraft e sabe a Minecraft. Dei-lhe o benefício da dúvida, mas era mesmo Minecraft. O jogo é bom, mas tive de pedir ajuda ao meu filho para poder escrever este texto, porque se há jogo com o qual não atino, e não há qualquer razão objectiva para isso, é Minecraft. Vou escrever só mais esta frase porque posso não voltar a ter a oportunidade de escrever 6 vezes Minecraft no mesmo parágrafo. Pronto, troféu conquistado. Siga!

Andei imenso tempo a encher chouriços com jogos antigos e, quando reparei que havia uma data deles à espera de serem analisados acabei por pedir quase tudo, mesmo que mais por peso na consciência que por verdadeiro interesse. Provavelmente não pediria Outerverse se não fosse isso, não porque o jogo fosse mau, mas porque já imaginava que não iria conseguir jogá-lo.

As semelhanças com Minecraft são notórias.

Há imensos jogos a tentarem capitalizar no sucesso de Minecraft, sendo que a maioria deles emula mais o estilo voxel e mais uma ou outra mecânica, produzindo uma experiência bastante diferente da original. Até tenho de dizer que adorei Dragon Quest Builders 2 que tem o seu quê deste estilo. Mal peguei em Outerverse não percebi quais as diferenças para Minecraft. Certo que falavam em automatizar processos, mas numa fase inicial ainda não chegámos a tal feito e para mim os jogos eram iguais.

Nas primeiras duas horas já tinha chegado a algumas conclusões. Graficamente o jogo era mais detalhado, mais vívido. O mundo era muito mais pequeno, ou melhor, mais espalhado, pois havia uma data de mundos para explorar, eu apenas não sabia como. O gameplay estava cheio de glitches e mal optimizado, com quedas de frames enormes durante a execução de algumas acções. Aqui desisti e chamei o meu filho. Pedi-lhe ajuda. Ele tem centenas de horas enfiadas no Minecraft, se havia alguém para perceber as diferenças, era ele.

Outerverse tem imensos mundos para descobrir e explorar.

Há uma barreira invisível entre mim e ele no que toca a jogos. Começámos bem, jogando em conjunto alguns jogos clássicos como a franquia Lego, mas rapidamente percebi que os nossos gostos eram completamente diferentes, dificilmente se intersectando, tudo isto porque eu detesto jogos multijogador e ele adora jogos multijogador, eu tenho pouquíssima paciência para jogar no telemóvel, ele adora jogar no telemóvel, provavelmente porque é aí que todos os amigos conseguem partilhar o mesmo jogo sem haver custos exacerbados ou sem a necessidade de não terem adultos a ocupar a televisão ou o computador.

Foi muito giro perceber que em 5 minutos ele fez o mesmo que eu na primeira hora. Aparentemente muitos dos truques do Minecraft também são aplicáveis em Outerverse. Na primeira máquina que construímos eu andei um tempão a perceber como construir, ele fez em 20 segundos. Mais 15 minutos e já me tinha apanhado em duas horas, mesmo num mundo mais complicado.

O catch de Outerverse são os múltiplos bosses, o sistema de lógica na progressão e a automatização da maquinaria, talvez também uma versão ligeira de Factorio. O meu filho confirmou isso. E foi também nessa automatização que perdeu algum tempo, a perceber como a fazer.

Há imensos bosses para derrotar.

Há que dizer que Outerverse nos guia durante todo o processo, caso seja essa a nossa vontade. Para alguém que não conhece Minecraft, mais do que ser a nossa vontade é quase obrigatório! Sem esse guia o mais certo era ainda andar a procurar cenouras para plantar e fazer comida, ou a construir ferramentas rudimentares. Por exemplo, o primeiro boss é imponente e parece que temos de evoluir horrores para o derrotarmos. Nada mais errado. O sistema de lógica subjacente a grande parte do jogo permite que o derrotemos sem grande esforço, bastando para tal seguirmos a progressão natural do jogo e percebermos a maneira lógica de o derrotar. Há dezenas deles, por isso imagino o que ainda me falta descobrir!

Essa mesma progressão vai acabar por nos permitir contruir meios para chegarmos aos outros planetas, algo que o meu filho conseguiu com “batota”, embora duma forma que exigia mais paciência que aquela que estava disposto a dispensar.

O meu filho também diz que muitas coisas parecem não estar acabadas, o que não me admira já que o jogo está em acesso antecipado.

Perguntei-lhe também se preferia este ou Minecraft. A resposta foi imediata. Minecraft. Diz que os mundos são maiores e mais diversos, além disso há o multijogador. Engraçado, não ter multijogador foi o que mais me chamou a atenção, bem como o que me pareceu uma componente RPG, que depois se traduziu num conjunto de boas intenções e pouco mais, mas lá está, somos muito diferentes.

Outerverse já me parece uma proposta interessante. Não sei bem o que está programado daqui para a frente, mas há aqui uma boa base, a minha questão é, para quem? Provavelmente quem joga Minecraft não vai mudar para este, quem joga Factorio (ou outros similares) não vai sentir que este lhe ofereça mais alguma coisa, e aí é que está. Simplificar dois conceitos e juntá-los muitas vezes cria um jogo interessante, mas não sei ao certo se terá um alvo. Não ter um componente multijogador faz com que o risco do jogo “nos enganar” seja curto. Já há aqui material suficiente para justificar o valor de rosto, por isso se vos agrada o conceito, acho que não se irão desiludir.