Podemos procurar por muitos jogos que possam refletir o que se está a passar agora às portas da Europa. A Europa de Leste tem sido palco de enormes crueldades para com os comuns, aqueles que não se podem defender, aqueles que têm de trabalhar para comer, aqueles que só e apenas querem viver.
A Guerra fria e a ameaça nuclear, e no seu quase fim com o desastre nuclear de Chernobyl originou muita inspiração tanto para a literatura, cinema e neste caso uns quantos videojogos particulares. Nestes jogos particulares o embaixador da criatividade de leste é o jogo S.T.A.L.K.E.R, mas há muitos jogos menos conhecidos e igualmente criativos.
Sempre se disse que “A necessidade aguça o engenho” e isso viu-se e vê-se em jogos cuja criatividade contrabalança outros factores menos conseguidos, sobretudo por falta de recursos para desenvolver algo mais top-notch.
O jogo na Europa é conhecido por Gorky 17 e foi reeditado para o GOG e Steam há relativamente pouco tempo. Este jogo chegou às minhas mãos em 2001, altura que era bem jovem e procurava jogos baratos e pouco exigentes para o meu computador que já era um pouco fraco para a altura. Na altura jogos de estratégia eram o meu género favorito a par dos jogos de Aventura Gráfica, e este jogo estava ali numa prateleira da loja de informática do meu bairro.
Custava 7,5€ valor exato da minha mesada e acabei por levá-lo.
Obviamente que com aquela idade não foi apenas o preço que me apelou mas a capa de jogo e os seu tútulo Particular. O CD numa edição de jogos “budget” tinha um aspeto interessante e um nome intrigante.
Odium, poucos jogos refletem todo o seu significado num só titulo.
Primeiro porque o jogo é imensamente difícil e que pune os erros de cálculo do jogador, segundo porque os obstáculos e inimigos que vamos encontrar são absolutamente odiosos. A história resume-se numa anomalia que criou criaturas horríveis, mutações em humanos e animais absolutamente asquerosas, diabólicas, repugnantes e absolutamente agressivas.
A NATO é chamada a intervir com uma equipa especial que irá até à Polonia investigar a anomalia que apagou do mapa vastas cidades.
A mecânica do jogo é completamente inspirada em jogos como XCOM num role-play e estratégia por turnos, temos uma equipa que teremos que gerir e se algum elemento é morto em combate não sabemos se teremos alguém melhor para substituir e quase sempre o percurso que levamos nos dá margem para descansar e olhar para trás.
Não foi propriamente a minha primeira experiência neste género, já tinha tentado terminar o XCOM original. Devo dizer que na altura e ainda assim eu estando a viver numa casa com Pais que pouco ou nada entendiam de videojogos e tinham uma visão muito tradicionalista, em especial a minha Mãe estava sempre atenta ao que eu andava a jogar.
Quando o jogo apareceu ficou preocupada com o título, mas com o tempo percebeu que aquilo não era pior que muita coisa que passava nos filmes de acção da SIC ou da TVI num sábado à tarde.
O jogo ainda hoje joga-se bem, envelheceu bem, a mecânica é idêntica ao XCOM, andamos pelos cenários a investigar o que se passou nas localidades, temos que ter cuidado com a radiação nalgumas áreas e evitar a exposição prolongada.
Os itens que encontramos no jogo são diversos: desde medicamentos, a comida, peças para fazermos upgrades às armas etc. Os diálogos não são propriamente brilhantes, mas são aceitáveis e chegam para a imersividade do jogo em combinação com uma muito boa banda sonora e sonoplastia.
Os cenários são interessantes e em conjugação com o ambiente sonoro conseguem criar um sentimento de melancolia e insegurança em todo o momento.
Pode hoje ser adquirido no GOG por 5,49€ e é a versão que recomendo pegar, pois a versão original em CD tem uns quantos problemas que necessitam ser resolvidos por patchs e mods não oficiais, alem de não correr muito bem em computadores modernos.
Vale a pena pegar se querem sentir a nostalgia do imaginário “Atomic Age Science Fiction” e que é um exemplo alegórico sobre os fantasmas da guerra e dos invernos nucleares que nos assustam geração sim, geração não.