Stranger of Paradise é mais um spin off da série Final Fantasy, uma tomada de ação completamente diferente daquilo que estamos habituados a ver no universo principal da Square Enix. E a explicação é simples, o jogo foi desenvolvido pela Team Ninja, estúdio experiente em títulos de combate, salientando-se Ninja Gaiden e mais recentemente Nioh. Este último acaba por servir de base à nova aventura, ganhando assim alguns elementos ligeiros de Soulslike.

O jogo foi criado como sendo uma prequela do primeiro Final Fantasy, que tem agora 35 anos, embora seja uma interpretação livre do original. Os quatro guerreiros da luz do original servem de inspiração para o novo grupo que o jogador controla, protagonizado por Jack Garland, um guerreiro obcecado em encontrar e destruir o Chaos. 

Para quem se lembra do jogo original da série Final Fantasy, a Team Ninja faz regressar o sistema de jobs, ou seja, as classes das personagens. O protagonista pode alternar entre duas equipadas em simultâneo, mas pode desenvolver outras, ligadas a armas: espadas, punhais, bastões de magia, e outras. Cada uma tem uma árvore de talentos associada, estilos de abordagem diferentes e claro, os respetivos combos. E é divertido experimentar cada um, não só para determinar qual a melhor para cada jogador, como se torna mais útil usar um sistema ou outro mediante os inimigos mais poderosos. 

Os combates são puro hack ‘n slash, como a Team Ninja já nos tinha oferecido anteriormente. Mas para serem bem-sucedidos na ação, terão de bloquear com eficácia os ataques dos inimigos, com o desviar no último segundo. Mas é aqui que o jogo se torna inicialmente confuso até dominarem as ações. 

A personagem tem o bloqueio tradicional com a arma e outro que utiliza uma barra de energia. Esta é basicamente o staggering, ou seja, se ficarem sem esta energia ficam atordoados e vulneráveis por breves instantes aos inimigos. Mas esse é igualmente o objetivo de quebrar a barra do inimigo e dessa forma executar finalizações brutais.

É preciso dar algum tempo aos combates para começarem a dominar, mas o estúdio poderia ter sido um pouco mais amigável na iniciação. E pode tornar-se caótico as primeiras horas de jogo, mas depois o combate flui de forma mais agradável.

Neste jogo as armas e armaduras são constantemente descartáveis. Todos os inimigos largam loot constante, não deixando margem para procurarem armas mais raras e poderosas. Basicamente vão ao inventário trocar de equipamento no final de cada encontro. E o jogo até oferece um botão de equipamento automático, sabendo dessa cadência. 

No entanto, Stranger of Paradise está longe de ser refinado como Nioh 2. Os inimigos são desinspirados e repetem-se constantemente. Imaginem encontrar uma lagarta num pântano, para de seguida a ver num palácio. E o jogo tem uma variedade muito limitada de inimigos, que surgem às dezenas, entre bolas de fogo, feiticeiros aberrantes, zombies e outros.

Já os bosses requerem um esforço adicional para serem ultrapassados e são mais interessantes, mas não terão grandes problemas em vencê-los em algumas tentativas, depois de descobrirem o seu padrão nas diferentes fases. 

Tal como Nioh, os capítulos da história são selecionados num mapa geral, sendo possível repetir alguns dos cenários para completar missões secundárias, por exemplo. No entanto, os mapas do jogo são igualmente desinspirados, longe de serem bonitos para os padrões atuais. Estes repetem-se, sendo fácil perder-nos não porque são labirínticos, mas porque ficamos com a sensação de já termos percorrido várias vezes os mesmos corredores. 

Os únicos elementos de Souls do jogo dizem respeito aos checkpoints disponíveis ao longo dos mapas, equivalentes às fogueiras. No entanto, a experiência nunca é perdida com a morte, não sendo preciso bancar pontos, porque a personagem vai evoluindo automaticamente, como os RPGs tradicionais. Além disso, quando ativam os checkpoints, os inimigos fazem respawn, servindo para facilmente fazerem grind para evoluir a personagem, caso seja necessário. 

A história deixa um pouco a desejar no seu desenvolvimento, e as personagens cumprem, sem brilhar. Há algo de interessante em Jack, o seu estilo obtuso, mas está longe de ser o mais carismático. Os companheiros que seguem o jogador não podem ser controlados diretamente, mas fazem um bom trabalho na ação, sobretudo criando aggro nos bosses e dão algum dano adicional. Podem equipar os mesmos. 

Stranger of Paradise é realmente um jogo estranho, sem uma identidade muito própria, reunindo elementos de alguns títulos. Não é um jogo hardcore, como a Team ninja nos habituou, talvez esse não fosse o desejo da Square Enix e até existem três dificuldades para todos experienciarem a aventura. Mas o facto é que o jogo é visualmente pobre no geral, os inimigos desinspirados e ação desnecessariamente complexa. E não fosse o nome do jogo, provavelmente não o iriam associar a um Final Fantasy.