Que há muito que os jogos são mais que um simples passatempo já nós sabemos. Que são cada vez mais uma referência lúdica, pedagógica e cultural, isso é cada vez mais certo. Juntando estas três vertentes, eis que surge então no mundo dos jogos de tabuleiro Pessoa, um jogo da autoria de Orlando Sá, lançado em Portugal pela Pythagoras – Games.
Pergunta para queijinho: qual será a premissa por detrás de um jogo sobre Fernando Pessoa? Escrever poesia, pois claro! Mas como é que tudo funciona verdadeiramente?
Em Pessoa cada um dos jogadores assume o papel de um dos mais célebres heterónimos do já referido poeta (Alberto Caeiro, Bernardo Soares, Ricardo Reis e Álvaro de Campos), e devem explorar a mente e a Lisboa do mesmo para recolher inspiração, aprimorar os seus dotes literários, e escrever poesia, ganhando assim Pontos de Vitória.
Cada heterónimo tem as suas preferências, tanto a nível do estilo literário como a nível da composição. Quanto ao estilo, eles são três: Naturalismo, Classicismo, e Futurismo. Enquanto que Bernardo Soares gosta de escrever em todos estilos, Álvaro de Campos só gosta de escrever sobre o Futurismo, por exemplo. Enquanto que alguns heterónimos pontuam sempre que escrevem poemas de 3, 4 ou 5 versos, Ricardo Reis não ganha nada em focar-se em poemas de 5 versos.
O tabuleiro de jogo está dividido em cinco secções: o espaço Metafísico (que é como quem diz, a mente de Fernando Pessoa), o café Martinho da Arcada, o café A Brasileira, a livraria e o Rossio.
Espaço Metafísico – É o ponto de partida dos jogadores, e onde poderão regressar durante o jogo para realizar acções específicas.
Martinho da Arcada e A Brasileira – É nestes cafés que os jogadores poderão recolher inspiração, na forma de cartas que contêm versos dos vários poemas de Fernando Pessoa, divididos pelos vários estilos literários, e com alusões aos signos do zodíaco.
Livraria – É aqui que vamos fazer upgrades aos nossos estilos literários, aumentando a quantidade de pontos que ganhamos nos determinados estilos, ou aumentar a capacidade máxima da nossa energia, bem como a quantidade de cartas que podemos ter na mão.
Rossio – O local em que a magia acontece e a poesia se escreve. Aqui os jogadores tratam de apresentar os seus poemas de 3 a 5 versos (jogando as cartas que vão recolhendo), e ganham pontos mediante a conformidade com os estilos do próprio heterónimo e consistência literária.
Pessoa tem dois módulos que contribuem bastante para a experiência de jogo. Um deles destaca as habilidades especiais de cada heterónimo, com, por exemplo, Alberto Caeiro a ganhar mais pontos se estiver a escrever sozinho no Rossio, ou com Bernardo Soares a ganhar mais pontos se escrever poesia enquanto controla Fernando Pessoa.
Para além disto há também o módulo Mensagem, cartas com excertos da titular obra, e que contêm também elementos que permitem aumentar a quantidade de Pontos de Vitória recebidos se no final do jogo se verificarem as respectivas condições (ser o jogador que escreveu mais poemas de três versos, ser o jogador com mais upgrades sobre o Naturalismo, por exemplo).
Os jogadores começam no Espaço Metafísico e a partir daqui, ao longos dos 12 turnos (de 1913 a 1935), devem movimentar-se pelo tabuleiro de jogo, gastando Energia para adquirir Cartas de Inspiração, ir à livraria para aprimorar as suas competências literárias e as suas reservas de Energia, e por fim escrever poesia no Rossio.
Dois heterónimos não podem estar no mesmo sítio ao mesmo tempo, pelo que os jogadores podem controlar o próprio Fernando Pessoa para garantir esta mesma liberdade… pelo menos até que alguém o volte a controlar.
Em suma, é um jogo de worker placement em que se procura avançar com uma cuidada gestão de recursos. 12 turnos pode parecer muito, mas a partir do momento em que só podemos mover-nos para um local e fazer a acção correspondente, rapidamente tudo muda de figura.
Contudo, isto não passa de uma breve análise de um título com mais nuances. Podia falar também da inclusão do zodíaco, uma predilecção que o próprio Fernando Pessoa detinha, e do quão importante ela pode ser quando jogadas as cartas certas no momento certo, mas fica o desafio para o experimentarem em primeira mão.
Agora, vale a pena jogar Pessoa? Claro que sim. Já dizia o próprio: vale sempre a pena quando a alma não é pequena.