Olhando para Tunic, e basta ver a sua imagem de capa, é inegável a sua inspiração no The Legend of Zelda original, quando o jogamos sentimos a homenagem reverente que ele lhe faz. Usando essa estrutura como pilar principal, Tunic é uma aventura própria, absolutamente deliciosa, em que vale a pena passar todo o tempo possível.
O visual da nossa raposa ser bastante semelhante com o de Link não é uma coincidência, ou na primeira fase do jogo em que temos que procurar uma espada também não. A espada não é só porque é perigoso andar lá fora sozinho, que é. Bastante. Mas porque é uma ferramenta que nos vai permitir chegar a outros locais e automaticamente o jogo transforma-se em metroidvania com uma perspectiva isométrica. Esta descrição muito leve é também um sumário do que o jogo é. Parece superficial e leve mas debaixo existem várias camadas capazes de agradar a vários estilos de jogadores.
Tirando a capa “fofinha” da raposa em low poly e inimigos com aspecto infantilizado encontramos um jogo de exploração no qual necessitamos vários objectos para alcançar alguns locais, um jogo de aventura com pouca enredo contado mas muita história possível com acção e combate muito desafiante. Em particular quando chegamos aos bosses e esta combinação de factores tornam-no muito divertido. Mesmo que quase todos esses aspectos sejam muito inspirados em The Legend of Zelda, no jogo original podíamos ir onde quiséssemos. O mapa estava aberto e existiam apenas alguns locais em masmorras que era necessário um ou outro objecto específico, aqui não. Os inimigos tinham padrões rudimentares de ataque e movimentos que éramos obrigados a decorar e manobrar para vencer, aqui também mas mais complexos. Ou seja, Tunic repete essas fórmulas com várias modernizações. Pode parecer injusto para a obra de Andrew Shouldice estar a fazer uma comparação constante mas por outro lado como uma fã gigante da série da Nintendo é também o maior elogio que lhe posso fazer. Se a imitação é a melhor forma de elogio, é difícil não elogiar a imitação elevada a este padrão de qualidade.
Tunic tem várias coisas que adoro. São maioritariamente detalhes mas foi com eles que me encantou. O facto de encontrar folhas do manual de instruções numa língua escrita indecifrável mas visualmente compreensível, das tabuletas e outras indicações no jogo terem a mesma língua e apenas estarem legíveis em alguns aspectos deu-me a ilusão de ser uma criança numa aventura. Uma criança que está a aprender a ler, e num texto inteiro apenas reconhece umas palavras. Uma criança que pega num pau e vai lutar com monstros imaginários no seu quintal e deixa-se levar pela sua imaginação na exploração de um mundo que apesar de confuso e desafiante é sempre belo e nunca frustrante. Tunic, conseguiu transportar-me no tempo, fez a mesma magia tal como há mais de 30 anos a sua inspiração já o tinha feito.
Tunic não usa muitas palavras. Pensando bem, não usa quase nenhumas e por isso é com poucas que escrevo este artigo que se resume a: joguem Tunic, porque uma sessão de jogo vale mais que umas centenas de palavras.