Curiosos são os olhares que recaem sobre nós quando comentamos que houve uma altura em que se podia desbloquear conteúdo num videojogo simplesmente a jogá-lo. Seja num qualquer Tekken ou Devil May Cry, ora a jogar com novas personagens, modos de jogo diferentes ou com níveis de dificuldade mais desafiantes, havia sempre algo a obter em troca do nosso árduo esforço.

Agora parece ser tudo mais simples e desvirtuado pelo toque de fada dos DLCs e das microtransacções. Estaria longe de ser alarmante, e talvez até mesmo um sinal de progresso se se tratasse apenas de conteúdo criado após o lançamento de um jogo, em jeito de expansões ou similares, que complementariam de alguma maneira a experiência do título original. Tudo muda de figura quando tempos cenários de conteúdo incluído nos próprios jogos e o acesso ao mesmo está bloqueado por uma paywall.

É aqui que vem ao de cima o lado mais negro desta indústria que nos diz tanto. Claro que ao fim do dia tudo é um negócio e as empresas necessitam de ter lucro em prol da sua sustentabilidade, mas há estratégias e estratégias para o fazer.

Temos então o conteúdo bloqueado por paywalls, os cosméticos, e do outro lado mais extremo, temos de par em par os jogos que implementam mecânicas que pisam a linha cinzenta que os separa do gambling (na forma de loot boxes e similares), e os próprios jogos que foram desenhados em torno disto, o que prontamente lhes dá o rótulo de pay to win.

Perante o sucesso que este conteúdo tem, e entenda-se por sucesso o enriquecimento das produtoras, não é de estranhar que os jogos sejam lançados com a sensação de que estão inacabados. Numa generalização desmedida, deixa de fazer sentido alocar recursos para lançar um produto finalizado, quando a maior parte do capital se vai buscar em lançamentos posteriores de conteúdo que não se inclui no título base já com esta condição em mente.

O resultado está à vista, uma indústria de grandes títulos em torno destas dinâmicas, tendo o grind como alternativa, que por sua vez serve de desculpa barata para indicar que não é preciso gastar dinheiro extra. Se enquadrarmos isto no panorama competitivo, em que há sempre quem prefira algo mais imediato em vez de dezenas de horas de tempo e dedicação investidos, perde-se qualquer tipo de equilíbrio.

Seria mais que agradável regressar a uma altura mais simples, em que o mérito próprio tinha algum tipo de valor. Face a este novo paradigma, qualquer tipo de investimento neste sentido parece somente uma perda de tempo.