Caça ao Indie #310
Há muitos anos que desenvolvi uma maneira simpática de me auto-nomear “medricas” sem ter de usar a palavra. Chamo-lhe pomposamente “ter um sentido de auto-preservação elevado”, que é como quem diz: “tenho medo de me magoar, portanto nem sequer vou tentar fazê-lo”.
Por isso, para mim, o desporto mais radical que consigo fazer é pedalar numa bicicleta estática no conforto da minha casa, a ver uma série. Por outro lado, valham-me os videojogos para poder, mesmo de forma virtual, correr alguns riscos. Os dois indies de hoje trazem formas muito próprias de viver desportos radicais.
OlliOlli World [Switch, PS4, Xbox Series, Xbox One, PC, PS5]
Se o mundo ficcional de OlliOlli World, Radlandia, realmente existisse, e os deuses que o observam fossem divindades do skate, decerto que Tony Hawk seria um deles. Com todo o meu desconhecimento em torno da modalidade, admito que é o único atleta cuja nome reconheço, mas apenas porque a famosa série de videojogos aproximou-o de um público que pouco ou nada conhecia de skate, como eu.
Há dez anos (o tempo voa) OlliOlli, dentro da sua simplicidade, conseguiu trazer para o mercado algo que escapava há outra década: um bom jogo de skate. Mas este OlliOlli World, o terceiro da sequência, quis arriscar a fórmula e levar a mais famosa série de jogos de skate dos últimos anos para outro lado, e esse local é um mundo estranho, vibrante, e colorido.
Ao contrário dos seus antecessores, OlliOlli World tem uma história, e um elenco de personagens estranhos, bizarros, igualmente coloridos como o mundo em que habitam, dando algum sentido a esta linha narrativa de fantasia que encapsula todo o jogo. Num título onde os desafios e os diversos níveis têm o objectivo de nos fazer interagir com todos os deuses do skate e atingir o Gnarvana e tornar-nos um Skate Wizard.
O salto artístico deste OlliOlli World é imenso, com uma transição para um 2.D que encaixa na perfeição na sua direcção de arte, onde o cel-shading dos personagens e do cenário ajudam a criar o ambiente que os autores procuram.
Mecanicamente o jogo continua tão ou mais interessante do que alguma vez foi, com a nossa capacidade de reacção a cada um dos obstáculos a pôr à prova a nossa capacidade de levar a cabo o maior número de truques possíveis com o limitado número de botões, ao mesmo tempo que temos de nos manter equilibrados em cima da prancha.
Com toda a sua customização e a nova direcção à série, OlliOlli World rapidamente garantiu, para mim, o lugar de melhor jogo de skate em muitos, muitos anos, e a tarefa de o destronar será difícil para qualquer candidato que o queira fazer.
Grand Mountain Adventure [Switch, PC]
Seguindo o espírito de OlliOlli World, que soube apagar da nossa memória a “fome” por um sucessor condigno de Tony Hawk, regressamos a esse período da primeira PlayStation onde os jogos de desportos radicais pareciam ter argumentos para serem dos maiores lançamentos de cada ano. SSX lá ocupava um lugar especial nas minhas preferências, com o semi-simulador de snowboard a fazer na neve o que Tony Hawk fazia no cenário urbano.
Grand Mountain Adventure quer pegar nesse filão e dar-lhe seguimento, com 10 níveis a trazerem descidas de montanha na neve que podem ser feitas de ski ou de snowboard. Cada montanha é uma espécie de mundo aberto repleto de desafios.
Curiosamente, sendo uma descida de montanha, Grand Mountain Adventure obriga-nos a uma mistura entre corrida (temos até a possibilidade de ir dando encontrões aos nossos adversários se estes se aproximarem demasiado), e fazer truques para melhorar a nossa pontuação.
As corridas não são apenas um exercício de mestria dos nossos skis ou prancha. Temos também de passar por todos os marcadores de pista ou seremos penalizados por não o fazermos.
Com tantos desafios nas 10 montanhas em 10 países diferentes que Grand Mountain Adventure nos traz, os autores deste jogo implementaram um modo zen que nos permite andar apenas a relaxar pelos cenários detalhados que constituem cada uma das pistas. Um elemento interessante que nos permite, por vezes, “respirar” o ar virtual da montanha sem termos de pensar nos desafios que o jogo nos coloca.
Grand Mountain Adventure é uma excelente adaptação a PC e consolas de um bom jogo mobile, adaptando algumas mecânicas para que ele nunca soe, como tantos outros, como um mero port.