Caça ao Indie #311

Estamos em 2022, e o futuro risonho que me foi prometido na adolescência quando tudo parecia estar a encaminhar-se para um local bem mais positivo do que o vivido na Guerra Fria. Mas não. Pandemia, emergência climática, guerra. Se era para vivermos esta versão do futuro que o cinema, a BD, os jogos e a literatura apregoavam, então tragam lá os mechas gigantes, se faz favor. Pelo menos que tenhamos esse regozijo no meio de todo o caos.

Para compensar, os 2 indies desta semana têm robots gigantes como protagonistas.

Uragun [Switch, PS4, Xbox One, PC]

Vivemos uma época em que o mercado tem assistido à chegada de diversos shooters em vista aérea com uma abordagem mais arcade, muitos deles a revisitarem géneros que os próprios indie developers devem ter crescido a jogar. 

Um destes casos é Uragun, publicado pela Kool2Play, e que nos traz um top down twin stick arcade shooter, uma definição com demasiados anglicismos mas ainda mais qualidade, apesar de estar apenas em Early Access neste momento.

Neste jogo controlamos um mecha que procura o seu piloto humano, combatendo no meio de um mundo hostil onde somos a única máquina que não está corrompida por uma IA homicida.

Pelas nossas deambulações pelos mapas labirínticos vamos sentindo uma aura de bullet hell, com os muitos projéteis inimigos que nos preenchem o ecrã, somados aos perigos e obstáculos ambientais que os criadores de Uragun foram espalhando pelo level design.

Tendo em consideração que o jogo está neste momento em alpha, há já muito conteúdo disponível nos 25 níveis que o jogo nos apresenta, com um arsenal ainda curto de 5 armas diferentes, mas com a promessa de maior implementação de tipos de armas e inimigos num futuro próximo.

Uragun é um dos mais promissores jogos do género a chegarem este ano, e temos curiosidade em perceber se todo o potencial do jogo vai ser cumprido aquando do seu lançamento final. Para já, a limitação de armamento é possivelmente o ponto mais fraco deste excelente indie.

Andro Dunos II [Switch, Nintendo 3DS, PS4, Dreamcast, Xbox One, PC]

E quando vemos chegar ao mercado e a consolas já consideradas retro, para além das plataformas actuais, a sequela de um jogo lançado originalmente para a Neo Geo em 1992?

Andro Dunos II surge 30 anos após o seu antecessor e é quase uma cápsula do tempo dos anos 1990, encapsulando, literalmente, o que eram dos schmups arcade da época.

Controlamos uma pequena nave laranja num sistema de side scrolling tão reminiscente das arcadas que a falta de possibilidade de aplicação de filtros de scanlines é ainda mais óbvia, e até agora não consigo perceber como é que os developers não se lembraram de o adicionar.

Em AAndro Dunos II podemos alternar entre 4 tipos de armas diferentes que temos guardadas no nosso inventário, de forma a adaptarmo-nos  aos perigos que estão no ecrã. Só em pena, em termos do quanto a UX evoluiu nestes 30 anos, é que Andro Dunos II não nos permita ver a totalidade das armas para sabermos para onde temos de “circular” o inventário. Para além disso, podemos usar o modo hyper (um modo especial) de cada arma, e incluir essa disponibilidade na nossa estratégia ao longo de cada nível e boss. 

Há uma diferença de dificuldade entre os níveis de Andro Dunos II e os bosses. O pico de desafio que estes constituem em oposição ao trajecto que fazemos é muito abrupto, e obriga-nos a uma masterização superior dos comandos, agilidade e mecânicas do jogo.

A banda-sonora ficou a cargo do histórico compositor Allister Brimble, o que confere ainda mais a carga de viagem retro a este Andro Dunos II.

Podemos ainda apanhar 30 esferas azuis durante os níveis que nos permitem fazer upgrades definitivos entre níveis, o que confere uma carga de coleccionismo imediatamente recompensada.

Andro Dunos II é um excelente schmup, uma sequela 30 anos depois do jogo original e que representa bem o brilhantismo do género nos anos 1990. É apenas de ressalvar que havia ligeiras melhorias de qualidade de vida de jogo que poderiam ser implementadas e que apenas melhorariam Andro Dunos II como um todo, sem o deslocar um pixel que fosse de toda a sua nostalgia.