O mercado dos jogos de tabuleiro tem um elemento curioso que o crescimento dos retalhistas digitais não tem: um jogo esgotar-se por ter esgotado também a sua tiragem. Foi o que aconteceu a Libertalia, um jogo originalmente lançado em 2012 pelo designer Paolo Mori e que, apesar do sucesso crítico (e até comercial, se considerarmos a reduzida tiragem), acabou por desaparecer das lojas, com muitos jogadores a procurarem uma cópia para adquirir.

Sendo um dos jogos favoritos de Jamey Stegmaier acabou por não ser surpresa de vermos as movimentações do histórico game designer e editor norte-americano a procurar um acordo com Paolo Mori para relançar o jogo, agora sob a chancela da Stonemaier.

Libertalia: Winds of Galecrest é a versão repensada de Libertalia, com alguns ajustes mecânicas, a inclusão do sistema solo de Automa, e ainda uma revisão total à arte de todo o jogo, com a introdução de componentes premium, nomeadamente as peças de loot que se assemelha muito às do jogo Azul.

Há uma grande simplicidade mecânicas em Libertalia, onde todos os jogadores partem das mesmas condições mas através das suas escolhas tentam levar a melhor aos adversários.

Cada jogador possui um baralho que é idêntico ao de todos os restantes jogadores, mudando apenas a cor. Este baralho é formado por 40 cartas todas diferentes, numeradas, em que cada carta representa um personagem com poder diferente, onde a hierarquia da tripulação de um navio pirata é feita pela ligação aos números das cartas. À medida que avançamos na numeração, escalamos a hierarquia, de grumete a capitão.

No início do jogo um dos jogadores tira aleatoriamente 6 cartas e anuncia-as, para que os adversários possam retirar as mesmas cartas para a sua mão. É neste pé de igualdade que se jogará a batalha para obter o melhor loot em cada viagem, permitindo alcançar a vitória. 

Libertalia: Winds of Galecrest joga-se em três viagens (rondas), que correspondem, de forma crescente, a jogos de 4, 5 e 6 dias (turnos). É este o elemento que vai desequilibrar cada turno. É que em cada nova viagem escolhemos mais 6 cartas (iguais para todos os jogadores), mas que se vão juntar às restantes que deixámos da viagem anterior, ou seja, teremos sempre mais opções do que rondas.

Em cada turno escolhemos uma das cartas que temos na mão, e revelamo-la em simultâneo com os outros jogadores. Estamos na fase “dia” do turno, e as cartas são então resolvidas por ordem crescente do seu número, permitindo que activemos o seu poder e que recolhamos o loot do dia correspondente. Na fase seguinte, o crepúsculo, os poderes são ativados na ordem inversa, do maior para o menor, e apenas nos personagens que tenham poderes desta fase.

Os desempates são feitos com recurso ao marcador de reputação, permitindo que jogadores que escolheram a mesma carta saibam quem age primeiro (e quem escolher o loot primeiro, obviamente).

Cada carta pode ter habilidades nas diversas fases do dia ou viagem. As diurnas e crepúsculo que decorrem durante o turno, as nocturnas que se ativam quando o turno acaba, e os de âncora quando a ronda termina. 

O loot disponível em cada dia (apenas 3 peças) é escolhido aleatoriamente, sendo que cada peça tem valores e efeitos distintos entre si. E esta gestão do nosso loot (que é convertido para dobrões no final de cada ronda) faz parte do nosso caminho para a vitória num mar habitado por piratas.

Facilíssimo de explicar, e relativamente casual, Libertalia: Winds of Galecrest é daqueles jogos em que qualquer jogador pode ler on the fly o que cada carta faz e estar a competir pelo lugar cimeiro neste desafio de piratas. Da minha parte já fiz várias playthroughs e ainda não me saíram todas as cartas, e quando sai uma nova tenho de reajustar a minha táctica.

Libertalia: Winds of Galecrest é um jogo relativamente casual, uma espécie de palate cleanser para jogar entre jogos mais pesados ou numa noite em que o grupo quer um um desafio mais leve, num jogo com grande rejogabilidade. Num jogo que já senti que funciona bem em praticamente todos os números possíveis de jogadores e onde a simplicidade e o equilíbrio associado são dos seus maiores pontos positivos.