A missão de analisar objectos artísticos e culturais é sempre fundada nos nossos sistemas de valores e nos nossos pontos de vista, e é sempre desafiante o exercício de empatizar e compreender as diferenças culturais dos países de origem dos seus criadores.
A cultura e a produção nipónica globalizou-se o suficiente para conhecermos muitos dos seus estereótipos, e a forma como existe uma sobre-compensação sexual na cultura fruto de uma crescente anti-socialização. A objectificação sexual é um género por si só, com os exageros e bizarrias que conhecemos, respondendo a um público muito específico que vai ganhando adeptos um poucos por todo o mundo.
Em casos como Seven Pirates H o exercício de empatização com as diferenças culturais que tenho com os autores e o público de destino deste jogo passam quase por assentar a sua observação sobre o recurso ao ridículo e ao exagero cómico com que os seus criadores pensaram mecânicas que explorassem a sexualização.
Seven Pirates H não é um jogo novo, mas sim o remake para Switch de Genkai Tokki: Seven Pirates para a Vita, de 2016, o quarto jogo da série, primeiro com a temática de piratas. Não sei se esta vai ser uma tendência do futuro próximo, o de se refazerem alguns bons tactical ou JRPGs exclusivos da Vita para a consola onde esse catálogo mais faz sentido na actualidade, a Switch.
Neste JRPG com temática pirata, temos como protagonista a Capitã Parute, acompanhada por um personagem-tipo do anime: um pervertido que arranja todas as soluções possíveis para pôr em prática os seus desejos e fantasias. Esse pervertido aqui é materializado por uma lontra chamada Otton, que usa um soutien como pala no olho e que tem uma forma muito especial de fazer level up às piratas da tripulação, uma técnica que envolve… seios.
Se sentem que o cúmulo do exagero e da exploração risível da sexualidade já tinham atingido o seu cúmulo neste artigo, preparem-se para o que vem a seguir.
Otton desenvolveu o que apelida de Booby Training, em que, acumulados os pontos devidos, podemos massajar os seios das personagens de forma a melhorar os seus atributos. E não, isto não foi um trocadilho. O jogo quis assumir este double entendre como mecânica: não só as personagens ficam com seios maiores à medida que fazem level up, como as suas estatísticas são melhoradas.
Adicionemos ainda outras camadas de trocadilhos e sexualidade tão on the nose que quase somos obrigados a olhar para este jogo enquanto paródia: o combate por turnos deste JRPG é baseado num sistema de forças e fraquezas de elementos, materializados em feromonas.
Mas não fica por aqui. Temos ainda uma barra de MP – que não, não são Mana Points – mas sim Mura-mura Points, que se ganham quando recebemos ou damos dano. Aos 100 MPs entramos em Excited mode, com boost aos stats, e aos 200 Aroused, com um boost ainda maior.
Seven Pirates H impele-nos a uma grande exploração dos mares do jogo, onde visitamos ilhas que funcionam como dungeons, a combater, a recolher loot, mas também a encontrar e a recrutar novas raparigas para a nossa tripulação.
As boss fights são o elemento mais desafiante deste JRPG, batalhas longas que nos obrigam não só a uma grande preparação da nossa party, dos atributos certos, e da compreensão do desafio que cada boss representa. Em comparação com as lutas comuns, é possível que sintamos que as boss fights sejam excessivamente compridas, mas são sem sombra de dúvida o elemento que coloca à prova a eficácia da nossa tripulação.
Sabendo que os mercados e os públicos são diferentes, admito que apesar da risível originalidade na forma como se incluem estas mecânicas sexualizadas interligadas com aquilo que poderia ser um JRPG marítimo com dungeon crawling, há muito que vai perdendo a piada à medida que o jogo avança. Se a ideia de Booby Training é um dos selling points do jogo, é fácil não só rejeitar a ideia à partida, mas ao mesmo tempo ir sentindo que é uma piada que fica gasta de forma demasiado rápida.