Para quem esteja confuso se o novo capítulo é um remake ou remaster, Saints Row é um jogo totalmente original, um reboot da série criado de raiz sem qualquer ligação aos anteriores. Apresenta uma nova história, a nova origem dos Saints, com novos protagonistas e personagens. Aliás, Gat ou qualquer outra personagem conhecida dos primeiros jogos foi dispensada da nova aventura. 

A Volition decidiu fazer o reboot à série devido à direção absurda que os jogos estavam a seguir, metendo presidentes dos Estados Unidos com superpoderes e invasões extraterrestres e outros elementos paranormais. O objetivo do estúdio é trazer a série às suas origens, mais real, mas sem perder o tom de absurdo no seu humor. 

A série Saints Row é provavelmente aquela que se assumiu como alternativa a Grand Theft Auto, mas mais exagerada e absurda. E o novo capítulo demonstra isso mesmo, embora a Volition se tenha despenhado ao comprido com esta produção. Logo nas primeiras horas a impressão que fica é que o jogo não está polido, com bugs absurdos na física e problemas gerais que denotam mais uma produção lançada de forma inacabada. A Volition tem a experiência necessária para apresentar um verdadeiro sandbox next gen, mas perdeu essa oportunidade com este recomeço. 

O principal problema é que ao cortar com os elementos que tornavam a série absurda e divertida, o jogo revela mecânicas batidas, atividades tão aborrecidas como encontrar contentores do lixo espalhados pela cidade de Santo Ileso para encontrar objetos preciosos ou sabotar as críticas de restaurantes para enfrentar os seus capangas. Ou mesmo, tirar fotografias a pontos de interesse. Existem várias atividades paralelas para completar os 100% da campanha, que mais parecem fillers forçados para preencher uma narrativa que parece curta. Talvez a minha atividade favorita ainda seja os trabalhos de bounty hunter em que temos de encontrar e eliminar alvos específicos. 

A campanha desenrola-se de forma linear, mesmo que permita optar por duas ou três missões diferentes, que são requeridas para avançar. É uma questão de atender primeiro a uma personagem ou outra do gangue. E tudo se desenrola a partir do smartphone do protagonista, que lista todo o conteúdo a fazer. 

De qualquer forma, a história pretende contar como o protagonista, um segurança/mercenário deixa a corporação para qual trabalha para criar o seu próprio gangue, crescer e construir um império criminoso. A escolha do nome Saints, como é que uma igreja se tornou o seu quartel-general e a sua ascensão criminosa fazem parte da história. 

A igreja serve como base, mas também como um pequeno sandbox de gestão, uma vez que vão ter de procurar obras de arte e objetos especiais espalhados pela cidade para decorar o espaço. As reformas e expansão da igreja são feitas ao longo da aventura, certamente para agradar aos fãs de Animal Crossing. Como parte da história também vão aceder a diversos negócios, com missões associadas, o que significa uma entrada constante de dinheiro nos cofres dos Saints, para serem gastos em armas, viaturas, acessórios, e outros.  

Tal como é habitual na série, o jogo apresenta um editor de personagens bastante detalhado, onde podem criar praticamente qualquer estereótipo. Fico satisfeito da Volition manter a voz do protagonista, ajudando a criar mais absurdo durante alguns dos seus diálogos hilariantes. 

Eu queria muito gostar deste título. Depois da enchente de jogos open world nos últimos anos, nos últimos tempos não tem havido muitos, ajudado pelo interregno da Ubisoft. Mas Saints Row tem diversos problemas técnicos que atualmente são imperdoáveis. A cidade é desenhada à nossa frente, com os carros a fazerem pop up do nada. A inteligência artificial dos inimigos é inexistente, remetendo-nos para o tempo da PS3. São praticamente carne para canhão durante as sequências de ação.  

E a física tende a ser exagerada, com as viaturas a comportarem-se como pacotes de leite. GTA 5, com todos os anos que tem em cima, é uma verdadeira bíblia de como representar uma cidade, viva e imersiva. E tudo em Saints Row soa a artificial, sem interesse para explorar.  

Saints Row oferece uma série de veículos para conduzir, as habituais estações de rádio com uma banda sonora variada. A Volition inspirou-se na série Burnout na introdução de mecânicas de Takedown, permitindo desfazer rapidamente os veículos inimigos ou da polícia nas perseguições. O protagonista também pode saltar para o tejadilho do veículo para disparar contra os adversários. São sequências over the top que também piscam o olho a Just Cause, sobretudo pelo uso do wing suit para saltar de um veículo em movimento e planar pela cidade. 

O protagonista ganha experiência ao longo das missões, usando-a para desbloquear habilidades especiais que podem ser atribuídas ao d-pad. Estas funcionam num sistema de recarga, como por exemplo, colocar uma granada nas cuecas do inimigo e empurrá-lo para explodir no grupo. Este tipo de habilidades permite fazer uma pequena build para a ação e elimina a necessidade de procurar munições especiais, por exemplo. 

O jogo tem uma componente cooperativa para dois jogadores, que não tive a oportunidade de testar. Mas segundo queixas de jogadores, há problemas de conexões que podem abortar missões a meio, o que torna a experiência desinteressante. 

Saints Row tinha tudo para ser um sandbox divertido, mesmo que não procurasse inventar nada. Mas além de ser banal, o jogo tem diversos problemas técnicos e de design, assim como uma estrutura de atividades pouco interessantes. A ação é desinspirada e a inteligência artificial torna a experiência aborrecida. Basta jogarem algumas horas para sentirem que já viram este jogo dezenas de vezes, em produções superiores. E ficamos com o sentimento que a Volition já fez melhor e tinha tudo para se superar.