Estão a ver quando está para sair um jogo de uma série que vos é querida, e algumas semanas ou meses antes começam a entrar num ritual preparatório para o lançamento? Bom, se calhar não estão e só eu é que faço isso – encontrar um momento perfeito, cheio de horas livres consecutivas num fim de semana, para entrar num RPG épico como Witcher 3 ou Final Fantasy XV; voltar a picar Forza Horizon 5 e Need for Speed (2015) até que chegue Need for Speed Outrun em Dezembro; ou tentar terminar o meu Pokédex antes que chegue Scarlet e Violet.

Um pouco como o personagem do Leonardo DiCaprio no Lobo de Wall Street, que se desintoxicou e até fez uns clisteres antes de tomar uma droga lendária, para aquilo bater mais.

A minha Living Dex

Desde a quinta geração de Pokémon (Black & White) que tenho conseguido ter um Pokédex completo em cada um dos jogos. Admito que o desânimo para com Sword e Shield me fez ainda não ter conseguido voltar a esse ponto. Agora que vem aí a nona geração (Scarlet e Violet), sinto que quero ter voltar-me a relacionar de fresco com a franquia – venha daí o que vier.

Acontece que completar o Pokédex pode ser muitas coisas, para muita gente. Inicialmente só quis ter todas as criaturas de número diferente registadas. Depois achei que deveria ter um exemplar de cada uma, mesmo com as evoluções pelo meio. Hoje em dia já juntei ter todas as variantes macho e fêmea, bem como as formas alternativas (regionais ou não), que é o ponto que estou actualmente a tentar encerrar. Depois há quem queira tudo isso, mas ainda com as versões shiny (de cor diferente) de cada exemplar. E ainda há quem queira tudo isso, mas com os marcadores de autenticidade de cada jogo em que o Pokémon pode ser obtido (por exemplo um Pikachu por cada jogo em que ele pode ser capturado).

E depois há o Ricardo Correia, que escolhe alguma destas variantes, mas em absoluto triplicado para poder deixar um Pokédex de herança aos filhos.

Tirando a preferência do Querido Líder do Rubber Chicken, a aplicação do Pokémon Home permite acompanhar a evolução de todos estes critérios de coleccionismo. Mesmo para quem, como eu, tem todos os jogos principais da franquia, torna-se imprescindível trocar Pokémons com outras pessoas, estejam elas onde estiverem no Mundo. E é aqui, na Global Trade System (hoje em dia ausente dos jogos, apenas disponível na aplicação), onde caímos na real da Pokéconomia…

Querem um Vivillon ou um T2 em Lisboa?

Nos mercados financeiros reina o capitalismo selvagem. Na GTS, também. Se certas estratégias de investimento monetário se mantêm consistentes para pessoas de menos posses criarem algum património, investir em cripto moeda é demasiado recente para se saber como se sairão esses investidores em 20 ou 30 anos. Na GTS, também – se os Pokémons lendários apenas disponíveis em Sword e Shield são bastante cobiçados (Spectrier, Galastrier, Regieleki e Regidrago por exemplo), essa é uma tendência recente cujo valor de mercado não está ainda tão consolidado como uma certa borboleta que, se fosse classificada pela sua qualidade de investimento, seria AAA: um Vivillon.

Ah, Vivillon, essa borboleta afrancesada que não nos vencerá nenhum combate, mas fará as delícias das visitas quando virem a decoração, do alto das suas 20 belas formas. Adequadamente dentro do tema original do criador Satoshi Tajiri para Pokémon, o coleccionar de insectos (entre aficcionados, as borboletas têm um lugar especial), Vivillon é um dos melhores exemplos de como a Pokémon Company sabe aguçar o interesse pelo seu monopólio do coleccionismo de criaturas digitais.

Não está fácil caçar os últimos Vivillons para a colecção.

Se por estes lados temos sido bastante críticos da forma como os jogos recentes de Pokémon têm sido executados, há que aplaudir a criatividade das formas alternativas de vários Pokémon. Nos jogos em que é possível capturar a forma base de Vivillon, o padrão das suas asas muda conforme a área geográfica onde a Nintendo 3DS estava registada, tal como a informação de GPS do vosso smartphone em Pokemon GO. Isto obriga a comunidade global a ligar-se, ficando com uma colecção de Pokémons de todo o mundo. As formas alternativas de um Pokémon começaram na segunda geração, com Unown, mas só começaram a ter mais expressão na quarta geração, e mais tarde na sétima, com a introdução das variantes regionais.

Acontece que o mundo do GTS é implacável para quem quer acabar a sua colecção. É frequente ver a esmagadora maioria das ofertas disponíveis ser desequilibrada (por exemplo queremos um qualquer Pokémon comum e pedem-nos um Lendário ou Mítico), mas nada se compara a tentar obter as diferentes formas de Vivillon. Ao início tentei ‘comercializar’ alguns lendários duplicados que tinha, mas nem isso se mostrou suficiente. De certa forma, para obter uma nova forma de um Vivillon que não se tenha é preciso desembolsar o mesmo que seria necessário para comprar um T2 em Lisboa. O que, voltando à cripto moeda, me levou a tentar a mineração.

Por onde têm de viajar para obter todos os Vivillons sem trocarem com ninguém.

Com isto quero apenas dizer que voltei a ligar a minha 3DS, fui buscar o cartucho do Pokémon X e fui apanhar 30 Scatterbugs, que prontamente evolui até ter 30 Vivillons. Ainda estou a tentar obter as últimas formas mais esquivas, já que é fácil conseguir as dos jogadores nos Estados Unidos, Europa ou Japão, ao contrário de outras zonas com menos jogadores.
Podia ter aqui destacado outro Pokémon afrancesado, Furfrou, e seus cortes de pêlo que só migram para o Pokémon Home se feitos no Pokémon GO, o que também o tornam bastante raro e apetecido…

…mas o número do Vivillon na Pokédex é #666.

Vivillon, esse demónio que só aceita ser trocado por outro seu semelhante.

Será que Scarlet e Violet serão bons?

Olhem, não sei. Quem foi às previews da Pokémon Company parece acreditar que sim, mas perdoem-me algum cepticismo. Parece certo que a empresa abandonou para já a ideia de voltar a ter todos os Pokémon – o que nem era má ideia, já que decididamente a nona geração vai ter o milésimo Pokémon – num só jogo. O que me vai fazer sempre continuar a andar pelo Home em busca de um Living Dex completo, que só terei já bem depois do lançamento de Scarlet e Violet.

Mas independentemente disso, o que vai continuar a ser sempre mais importante, será apanhá-los todos. E para isso o novo jogo dificilmente chegará.