Muitos jogos passam toda a sua existência sob uma fama de serem clones doutro qualquer jogo mais conhecido. Há alturas em que esse estigma ofusca méritos que os torna únicos. The Entropy Centre vai passar toda a vida a ser chamado de clone de Portal, mas este merece essa fama. Nem vale a pena tentar fugir dela.
Algo que sempre me disseram para não fazer numa análise foi passar todo o tempo a fazer comparações, porém é isso mesmo que vou fazer neste texto. Isto é um aviso prévio para que percebam que, mesmo alguém tão condescendente nas comparações como me considero ser, não consegue fugir a este tema dada as similaridades gritantes entre ambos os títulos.
Para começar a história tenta tocar em pontos comuns, mas dizer isso é o mesmo que dizer que o que eu e o Yahtzee fazemos é essencialmente o mesmo, critica a videojogos. Estamos na Lua, não sabemos o que aconteceu e temos um companheiro passivo-agressivo. Tudo simples e capaz de criar um ambiente propício a um excelente jogo, porém aqui empalidece-o quando comparado à sua inspiração. A história mantém-se estagnada durante boa parte das primeiras horas e a nossa companheira, aqui representada por uma inteligência artificial numa arma, tenta imitar o discurso de Glad0s, mas de forma tão pouco memorável que nem me recordo de como se chama, e as próprias interacções que tem com o nosso personagem resultam múltiplas vezes numa piada que nem o Óscar Morgado se atreveria a fazer.
Graficamente parece que estamos a jogar no motor de jogo da Valve, o Source, mas sem lhe aplicarem as sucessivas actualizações mais recentes. Eu entendo completamente a intenção, já que se copia, copiamos tudo. Há algum problema? De forma geral não. Há que entender o que os criadores tentaram representar, porém tentar representar algo tão antigo preza-se a alguns problemas com as mecânicas próprias do jogo e há locais onde as interacções com o ambiente não são coerentes, pois a forma como as colisões são desenhadas ou permitem que se chegue a locais que presumo não devêssemos chegar, ou não consigamos chegar a locais a que facilmente chegaríamos caso não fosse colocada uma barreira invisível que nos limitasse artificialmente.
Também fica curto na componente musical quando comparado com Portal, o que é uma pena já que tem uma música principal excelente, mas com pouco aproveitamento no jogo em si. Isto são problemas próprios de jogos indie, mas aqui é notório. Isto é compensado pelos bastante apropriados efeitos sonoros, se bem que, mais uma vez, há mecânicas próprias do jogo que quebram a imersão. Por exemplo, não sofremos dano de queda, logo não há qualquer efeito sonoro para as quedas, mas se o nosso dedo mindinho do pé toca numa gota de água morremos afogados. Com efeito sonoro.
Já falei duas vezes das mecânicas, então vamos lá a isso. A genialidade de Portal era que com os seus portais permitia soluções muito criativas para a maioria dos puzzles que continha. The Entropy Centre não permite isso. Vamos admitir que a ideia é bastante boa para que não fiquem a pensar que isto é algo odioso. Controlamos uma arma que nos permite recuar o tempo durante 30 segundos. Todos os puzzles usam esta mecânica. Temos vários objectos com os quais podemos interagir, mais comummente o famoso cubo, com os quais temos de realizar várias acções, mas de forma genérica temos que utilizar a técnica de recuar o tempo para que esses objectos estejam a determinado momento a pressionar a alavanca certa, ou num local onde lhes consigamos aceder. Brilhante! A sério, é mesmo muito boa a ideia! Ou parece boa. Ou soa muito melhor quando explicamos que quando na realidade jogamos.
O que acontece na prática é que os puzzles se acabam por resolver a eles mesmos, sendo que simplesmente temos de perceber onde temos de chegar e depois trabalhar de trás para a frente, percebendo como os objecto com os quais podemos interagir podem chegar ao ponto final da sua viagem e simplesmente começar a recuá-los no tempo a partir daí.
Claro que a equipa da Stubby Games percebeu isso perfeitamente e são muito generosos com a quantidade de mecânicas que vão introduzindo ao longo da história, mecânicas essas que introduzem a tal variabilidade que tenta tirar-nos da nossa zona de conforto, e a verdade é que cada uma delas nos deixa a pensar quando é introduzida, mas mal percebemos o seu gancho é business as usual. Mesmo assim não posso dizer que o jogo estagna nos puzzles, apenas me pareceu que todos usavam a mesma metodologia para serem resolvidos.
Pelo meio das secções de puzzles há algumas secções de acção interactiva em que tudo se desmorona à nossa volta e temos de perceber rapidamente como interagir com todo o ambiente para chegarmos ao fim dessa secção. Creio que nunca passei nenhuma delas na primeira tentativa, mas o jogo é bastante generoso com as falhas, nunca nos penalizando por errar, simplesmente temos que recomeçar do início da secção. Estes momentos são muito mais dinâmicos e, consoante o jogo vai avançando, também se vão tornando mais complexos na solução.
A certa altura também começamos a ter secções com combate. Afinal temos uma arma e seria uma pena não a aproveitarmos. Para ser honesto, não achei esses momentos interessantes e, não fosse a sua gradual importância para a história, nem via grande motivo para serem incluídas.
E isto vai ser a vida de The Entropy Centre. Viver sempre na sombra de Portal e perder. Sabermos que somos um excelente arquitecto, mas o nosso irmão é engenheiro aeroespacial a trabalhar na NASA e que mesmo que estejamos só nós numa sala, a nossa mãe apresenta sempre o nosso irmão primeiro à pessoa que está à nossa frente, mesmo sem ele lá estar…