(se as categorias do artigo não forem elucidativas, esta não é uma análise ao jogo, antes uma opinião que fala de alguns aspectos do jogo)

Se há lugares-comuns quando se fala em casamento (heterossexual), é que a mulher tem sempre razão. Admito que no que toca a videojogos, sou o teimoso e o snobe cá de casa – gosto de acreditar que jogo de tudo um pouco, enquanto ela em tempos já jogou Sims e hoje em dia (desde há anos) fica-se por Harry Potter: Hogwarts Mystery para iOS (não confundir com Hogwarts Legacy que sai em 2023).

Face a isto, claro que a tentei trazer para mais perto da minha (outra) paixão. Mas nunca fui bem-sucedido. O motivo é simples: estes dias, não lhe passa pela cabeça algum videojogo que não seja do universo de Harry Potter (o que me dá esperança para Hogwarts Legacy…). Não importa que seja um jogo mobile recheado de microtransações e tempo limitado para jogar sem elas – é uma questão de gosto.

Isto leva-me a Plague Tale: Requiem. Podia estar aqui a fingir que tinha legitimidade para fazer uma análise ao jogo, mas não o farei. Abandonei-o algures a meio e não pretendo lá voltar. Sendo um jogo bastante narrativo, deixar essa mesma narrativa a meio e assumir uma review seria desonesto. Fui ler um pouco sobre o desfecho da narrativa, bem como a do jogo que a precedeu, e acho que está bem escrita. Acontece que…

…não é para mim.

Se calhar não gosto de coisas boas

Há várias coisas das quais não gosto. Não gosto de queijo. Não gosto de me deitar tarde. Não gosto de jogar futebol. Não gosto da Apple. Odeio, de morte, a cor roxa. E não gosto de terror.

Gosto de suspense, não de terror. E terror nas suas várias vertentes – obviamente na realidade, mas também na ficção. Não gosto de jump scares. Nem de terror psicológico. Nem de gore. Poder-se-ia dizer que eu já ia a contar com o que seria Plague Tale: Requiem. Mas não. O jogo da Asobo Studio, amplamente bem recebido pela crítica, segue a história de Amicia e o seu irmão Hugo, este afectado por uma doença que, entre dores e alguma loucura, leva o paciente a controlar hordas absurdas de ratos.

OK, ratos. O jogo passa-se numa França medieval, a história faz uma ótima analogia com o período da Peste Negra e os personagens têm bastante profundidade. OK, mas ratos. Milhões.

A maneira como Plague Tale: Requiem se joga é através de uma progressão bastante linear da personagem principal, Amicia, ao longo de níveis em torno das áreas afectadas. Com pequenas secções furtivas, um mínimo de colecionáveis e desvios secundários e vários puzzles que normalmente envolvem atrair ou afastar grupos de ratos consoante estão afastados ou próximos do fogo, os elementos vão-se acumulando de forma a nos guiar através da narrativa.

E importa referir que é disso que se trata. Da narrativa. Haja engenho nos puzzles e secções mais furtivas, sim, mas nenhuma é mais do que um pretexto mecânico para avançarmos, maioritariamente em frente, com Amicia, em direcção ao nosso objectivo: salvar o irmão da praga que o aflige. Os puzzles são bons, admito: mas o avançar tão linear implicava que eu tivesse de estar genuinamente interessado na história para se motivar em avançar.

E eu não me interessei.

Não me senti imerso no mundo de Plague Tale. Até mudei as vozes para francês, para ver se me sentia mais imerso. Ajudou um pouco, treinei o ouvido, mas não chegou. Já estava farto de ver ratos. E gente doente. E cenários desoladores. Mesmo que tenha sido o jogo visualmente mais espantoso que joguei este ano, nada me convidava a voltar, capítulo após capítulo.

Se com Plague Tale: Requiem ainda experimentei o jogo – possivelmente não lhe tinha preconceito antes de o jogar – com outros o caso fica mais difícil. Até hoje não tive vontade de jogar The Last of Us, pese repetidas acções de charme de várias pessoas para que o faça. Falam-me em zombies, tchau. Ser um dos jogos mais aclamados pela crítica de sempre, não me faz querer jogar isso em vez de outra coisa – que até pode ser pior.

Não estou a comparar os dois jogos, antes que desatem aos berros para o vosso ecrã ao ler isto. Mas se alguém não gosta nada de futebol, vai ter vontade de jogar FIFA? Ou, para um exemplo menos polarizador, alguém que não tem tempo para enterrar num AAA de mais de 60 horas, vai comprar esse jogo? Tudo me parece legítimo.

Quanto a Plague Tale: Requiem, procurem uma verdadeira review noutro lado. Ou instalem só o jogo, que está no Game Pass, e experimentem. Vou só ali fazer outra coisa qualquer, que possivelmente também vai dar razão à minha mulher.