Há mais de dez anos que o estúdio Rooster Teeth tem vivido o sucesso da sua série de animação RWBY, um projecto que rapidamente se estendeu para lá dos limites do hype do trailer original. Poderia estar aqui armado em grande connoisseur de webseries, mas a realidade é que foi mesmo o João Machado a falar-me da série pela primeira vez. E admito que logo aos primeiros segundos de visionamento, dada a espetacularidade das animações e da acção, é fácil perceber o estado de graça de RWBY para milhões de pessoas em todo o mundo.

Mas se a série de animação é um sucesso indiscutível, por alguma razão as tentativas de adaptar Ruby e as suas três amigas e heroínas tem resultado em experiências menos conseguidas. Dada a imensa qualidade e experiência da WayForward e da Arc System Works em reinterpretar e adaptar em cenários 2.5D de forma exímia algumas séries de animação, a expectativa sobre RWBY: Arrowfell tornou-se elevada.

Mas infelizmente, mais uma vez, esta não é a adaptação que RWBY merece.

RWBY: Arrowfell acompanha os acontecimentos da sétima temporada em que Ruby, Weiss, Blake e Yang recebem a licença de Huntress, e no qual são confrontadas com a Team BRIR, uma equipa exclusiva do jogo. No momento em que se passa a acção existe um aumento no ritmo de actividade dos Grimms, os monstros antagonistas da série.

Dada a experiência da WayForward com Shantae, não é surpresa para ninguém que RWBY: Arrowfell seja um action platformer que podemos considerar até um metroidvania-lite. E digo metroidvania-lite porque cada uma das 4 personagens tem habilidades diferentes, que nos permitem passar os ligeiros obstáculos que nos são apresentados, e podemos alternar entre a equipa com o pressionar de um botão.

Ruby, por exemplo, consegue fazer um dash que lhe permite passar abismos e alcançar plataformas inacessíveis às restantes heroínas, ao passo que Yang consegue destruir pedras que se encontram a bloquear o caminho.

O problema deste sistema é que é muito situacional, e cedo vamos perceber qual das 4 se ajusta ao nosso estilo de jogo e iremos apostar todos os pontos de upgrades a melhorar exclusivamente essa personagem. Não fossem os ocasionais momentos de obstáculos em que temos de utilizar uma personagem específica para ultrapassar as barreiras, e estaríamos sempre a jogar com a mesma personagem, do início ao fim do jogo.

O level design de RWBY: Arrowfell é muito conservador e altamente esquecível. O nível de desinspiração de cada um dos segmentos leva a uma sensação excessiva de déjà vu de cada vez que temos de entrar num pedaço do mundo. E temos de o fazer inúmeras vezes. É que outro pecado que RWBY: Arrowfell comete é o de justificar a sua pseudo-deambulação num world hub com uma série de diálogos que eventualmente nos vão direccionar em fetch quests esquecíveis. E isso é algo que acontece demasiadas vezes.

Para o sistema de progressão simplificado, onde derrotamos um boss no final de cada capítulo, penso que o melhor que RWBY: Arrowfell poderia ter feito era ter abraçado a simplicidade e ter-se tornado um side scrolling beat’em up, com pouco ou nenhum enredo, centrando a atenção no que a série tem de melhor, as suas protagonistas e a magia da acção e combate.

A decisão de colocar uma barra como elemento comum entre HP e o custo dos projéteis é outra decisão mecânica que eu não consigo perceber, um elemento de game design que se auto-sabota ao primeiro encontro mais desafiante (possivelmente uma emboscada – uma sequência de waves de inimigos sucessivos que temos de derrotar).

O problema de RWBY: Arrowfell não é a sua simplicidade mecânica, é sentirmos que é, como um todo, uma oportunidade perdida. Arrowfell fica a meio caminho de tudo e não chega, na realidade, a lugar nenhum. A sua versão light de action platformer – a lembrar um Trine fraco – está longe de demonstrar toda a acção da série, e ao mesmo tempo está a anos-luz do equilíbrio perfeito de simplicidade e desafio de Shantae. Não faz um bom serviço como gateway para o universo, e ao mesmo tempo não é profundo o suficiente para entreter os fãs. O João Machado vende melhor a joia da coroa dos Rooster Teeth do que RWBY: Arrowfell.