O primeiro título de Mario + Rabbids representou um estranho e improvável crossover, muito diferente de um Sonic and Mario, nos diversos jogos em torno dos Jogos Olímpicos. O jogo misturou os dois universos numa aventura divertida, assente num sistema de combate por turnos. Os combates, embora tivessem uma premissa familiar, ofereciam mecânicas únicas que o tornavam acessível aos menos experientes, sem perder uma profundidade tática dos melhores jogos do género. 

O impressionante é que não foi a Nintendo a produzir o jogo, ou qualquer um dos seus experientes estúdios, como a Intelligent System de Fire Emblem, mas sim a própria Ubisoft. E agora a sequela, Sparks of Hope, mantém a mesma base, mas aprofunda o sistema de combate, numa nova aventura. E o melhor elogio que poderíamos fazer a este novo título é que em termos de design, apresentação e grafismo, se não soubéssemos que foi produzido pela Ubisoft, nunca pensaríamos que este tivesse sido feito fora do seio da editora nipónica. 

A nova aventura transporta Mario, Luigi, Peach e os Rabbids para uma jornada intergaláctica para salvar as simpáticas estrelas Sparks e derrotar uma misteriosa entidade cósmica que está a invadir os vários planetas com uma gosma preta. Cabe ao jogador compor uma equipa ativa de três elementos para explorar os planetas em grupo, num total de nove que são guardadas no banco de suplentes. A flexibilidade para trocar rapidamente cada elemento antes de cada batalha, considerando que cada um tem armas e habilidades únicas, abre um variado leque de estratégias. E este jogo não oferece problemas na troca constante de personagem, pois todas elas, mesmo as não utilizadas, sobem de nível, estando sempre prontas para entrar na equipa. 

As habilidades especiais são concedidas pelas próprias Sparks, que são colecionadas ao longo da aventura. Cada personagem pode ter duas equipadas para usar nas batalhas, aplicando buffs, debuffs ou ataques diretos, como disparar meteoros de fogo numa área marcada ou dar mais dano com eletricidade aos inimigos. E mesmo as Sparks sobem de nível, se as decidirem alimentar com uns cristais, tornando-se mais eficazes nas suas habilidades. 

O interessante é que cada personagem, com os Sparks equipados e as suas armas, são completamente diferentes de jogar. Peach tem um trabuco fazendo dano dentro do seu cone de visão; Mario tem duas pistolas, podendo disparar para dois alvos diferentes; Luigi tem uma sniper, pronto para atingir a grande distância. As armas podem depois ser combinadas com as sparks para receberem um boost adicional, como adicionar fogo ou eletricidade às munições. 

Os combates obedecem ao clássico sistema por turnos, mas é muito versátil e dinâmico. Tem como base sistemas como XCom, mas tem tantas variações que acabarão por não o conhecer.  No seu turno, cada personagem pode andar livremente pela área limitada, ficando apenas imobilizada após fazer o seu ataque com a arma. Sistema modificado do primeiro jogo, que utilizava uma grelha fixa. Até lá pode-se alternar livremente entre as personagens, fazer rasteiras a inimigos dentro da sua área de efeito, utilizar Sparks e habilidades especiais, até ao seu ataque principal. Este detalhe abre uma componente estratégia bem mais complexa e divertida. Mesmo quando estão no limite do espaço de movimento, ainda é possível saltar em cima de um companheiro e avançar um pouco mais. 

E depois existem inimigos igualmente com o tipo de ataque e mecânicas especiais. Por exemplo, as bombas podem ser anuladas e devolvidas contra os inimigos sem perder a ação principal do turno. As proteções do cenário, que podem ser destruídas e elementos como os ângulos da altura, são outras das estratégias a considerar. 

E os objetivos de cada combate podem mudar, não estando fixos na eliminação de todos os inimigos. Pode ser a quantidade pedida de certas personagens, o confronto com um boss, destruir alvos específicos no mapa ou simplesmente, conseguir chegar com pelo menos uma personagem à meta designada. Esta variação torna a ação divertida e menos repetitiva. 

Fora dos combates, o grupo tem de explorar os diferentes planetas temáticos. Os cenários estão repletos de personagens que dão quests secundárias, há puzzles para resolver, colecionáveis e muitos segredos, para quem deseja completar a 100% o planeta. Certas coisas não são possíveis de fazer numa primeira visita, pela falta de alguma habilidade especial de interação com o cenário, convidando a regressar mais tarde. 

E estes cenários são verdadeiramente interessantes, com um design intrincado e labiríntico, desafiando constantemente a procurar atalhos ou caminhos secretos. Todos os elementos transpiram ao design característico da Nintendo, num trabalho excelente feito pela Ubisoft. 

O melhor é que os Rabbids ganharam personalidade, muitos deles têm diálogos falados e mesmo os “clones” de Mario e amigos revelam-se muito interessantes. Nem todos são os patéticos Rabbids que conhecemos das aventuras originais, quando surgiram para atormentar Rayman. 

Seja pelo seu sentido de humor, um design impressionante e diversão dos combates, repleto de elementos táticos, a nova aventura de Mario e Rabbids expande o conceito do jogo original a todos os níveis. Pena que tenha sucessivos carregamentos entre os combates e mesmo sequências animadas, quebrando um pouco o ritmo. É uma aventura a explorar com tempo, sendo um dos melhores spin offs de Super Mario