The Callisto Protocol é o primeiro jogo da Striking Distance Games, um novo estúdio composto por veteranos da indústria, incluindo o seu líder Glen Schofield. O diretor é um dos nomes ligados à série Dead Space, como responsável da Visceral Games e depois formou o estúdio Sledgehammer Games onde trabalhou em diversos jogos da série Call of Duty para a Activision. 

O novo jogo prometia ser o sucessor espiritual de Dead Space, mas apesar das semelhanças temáticas, ambos são bastante diferentes. Como experiência que pretendia redefinir o survival horror falhou redondamente. Dead Space é muito mais claustrofóbico, bem mais acutilante e até tem mais horror. 

The Callisto Protocol é um jogo bem mais focado na ação, mesmo que tenha os seus momentos bastante tensos e com alguns “jump scares” bem realizados. Mas ao contrário do jogo que lhe serviu de inspiração, que obrigava a explorar os cenários para avançar, a nova aventura de horror é dos títulos mais lineares que joguei nos últimos anos, à semelhança de Evil West. Diria mesmo que se trata de um jogo que cruza os elementos clássicos de Doom 3 com Dead Space, incluindo a temática de ficção científica. 

Mas sendo linear, é ao mesmo tempo uma jornada com um ambiente cinematográfico interessante, mesmo que esteja limitado a uma longevidade a rondar as 10, sem qualquer motivo ou incentivo para começar de novo. Apesar de ser um estúdio relativamente pequeno, com cerca de 60 elementos, a equipa foi ambiciosa em tentar criar uma experiência AAA. E isso nota-se nos valores de produção das personagens, no sistema de combate e nos gráficos excelentes, mesmo que recorra aos clichés habituais dos cenários inspirados em Aliens, dos complexos industriais, os laboratórios, instalações espaciais e claro, caves repletas de ovos das aberrações. O meu favorito foi uma colónia de mineiros, há muito abandonado, com uma atmosfera acutilante e envolvente.

Não estamos perante o jogo mais fluído de sempre, e à semelhança de Dead Space a personagem é pesada de controlar, com movimentos mais lentos do que os habituais jogos de ação. É transferido para o jogador a sensação de sobreviver a ataques dos inimigos, focado sobretudo em combate corpo-a-corpo. E aqui o sistema de combate é bastante interessante, ainda que possa não agradar a todos os jogadores.

É que não existem os habituais botões de bloqueio ou esquiva, mas sim tudo é focado no analógico esquerdo, que dentro de uma janela de tempo permite desviar dos ataques dos inimigos, abrindo formas de contra-ataque. É estranho inicialmente, mas depois torna-se altamente intuitivo, ajudando a antecipar golpes de inimigos que até estejam fora da nossa câmara de visão. É que muitas vezes não os vemos, mas o excelente som espacial deixa-nos sentir ao detalhe a direção de onde se aproximam. 

Apesar da personagem ter uma pistola e mais tarde uma caçadeira, rifle de assalto e outras, este não é o típico shooter. Podem abater inimigos à distância, mas vão estar a jogar da forma errada, significando que vão ficar rapidamente sem munições. O que o jogo faz, e bem, é executar combos que misturam ataques com as armas melee, neste caso um tubo e depois um bastão eletrificado, salientando oportunidades de ataque rápido com as armas de fogo para finalizações ou enfraquecimento do inimigo. E essa mistura funciona muito bem. O facto de podermos fazer um ataque mais rápido ou mais forte para atacar grupos, juntamente com o sistema de esquiva, torna-se divertido de combater. 

Mas os combates não são fáceis, podendo mesmo ser frustrantes em algumas situações, sobretudo na fase inicial quando ainda se estão a ambientar às mecânicas. E isso é criticável, porque em vez da dificuldade escalar com a experiência e a ambientação ao gameplay, o jogo é inicialmente mais difícil. Mas o balanço de poder altera-se muito rapidamente. E quando se derem conta, em vez de tentarem passar despercebidos em stealth pelos monstros, vão querer ir para cima deles. A personagem fica mais forte com as armas que recolhe e melhora, e com o fato espacial também se torna mais resistente. 

Ao longo da aventura vão recolher créditos para investir na construção e melhoria das armas numa máquina de impressão 3D. Fazer mais dano com o bastão ou ajustar o recoil e capacidade de dano e mais munições das armas de fogo. Há sempre upgrades para fazer. O inventário é escasso, por isso têm de gerir medikits e munições, assim como baterias para a luva. Tal como a Gravity Gun de Dead Space, a luva concede à personagem poderes telecinéticos, permitindo agarrar e arremessar inimigos para picos, torturadores e outras armadilhas disponíveis no cenário. E até podem agarrar em extintores e arremessá-los, explodindo os inimigos. 

Ainda relativamente ao som, e no caso desta versão PS5, jogado com os Pulse 3D, o sistema Tempest de áudio faz um excelente trabalho a criar uma atmosfera envolvente e assustadora. O estúdio joga com isso para criar momentos de tensão mesmo sem inimigos presentes visualmente. Sentimo-los a percorrer condutas de ar ou mesmo túneis no chão, nem sempre aparecendo para nos atacar, mas o suficiente para nos colocar em alerta constante. 

E se algo que o estúdio herdou dos seus projetos anteriores foi mesmo a componente audiovisual, criando uma imersão excelente, a nível de iluminação, onde cada foco de luz ganha derradeira importância em muitos momentos de breu. As partículas, as sombras e as texturas são igualmente excelentes. E mesmo o detalhe das personagens, as suas expressões faciais também são bastante boas. Obviamente que as finalizações, sejam dos inimigos ou de nós próprios são do mais gore que temos visto nos videojogos, com desmembramentos e golpes sucessivos que fazem saltar as órbitas. 

E sendo um jogo altamente narrativo, o estúdio reuniu um grupo de atores bastante conhecidos, ajudando a realçar o papel das personagens. O protagonista, Jacob Lee, é assumido por Josh Duhamel, conhecido pela recente série Jupiter’s Legacy e dos filmes de Transformers; e Karen Fukuhara, a Kimiko de The Boys. 

O jogo tem alguns momentos de cortar à faca, uma história interessante que nos coloca na pele de um capitão de uma nave cargueira que acaba num planeta-prisão onde se dá um outbreak e onde se fazem experiências com aberrações. De salientar o voice acting dos atores que é excelente, mesmo as expressões faciais dos atores são de topo. 

The Callisto Protocol não será um jogo para agradar a todos e peca sobretudo por ser demasiado curto, com oito capítulos com mais ou menos uma hora de duração. Vão acabar o jogo com cerca de 8 ou 9 horas, dependendo da dificuldade que encontrarem em alguns dos encontros. Pedia-se um pouco de mais ambição ao estúdio, mas fica a ideia de que a Striking Distance Games poderá continuar a puxar o género de terror. Isto se o jogo for realmente lucrativo para manter as peças no lugar…