Confesso que escrevi este título apenas como chamariz para um jogo que o merece, não que fosse algo que encapsulasse na perfeição Grid Force. Mas agora que penso melhor nisso, vejam lá:

Grid Force é todo um twist e uma reimaginação de muitas mecânicas de Megaman Battle Network;
– Não há Megaman, claro, mas um plantel apenas composto por senhoras;
– O fundador da Dreamnauts Studios, Dan Bernardo, é brasileiro;
– Passamos o jogo com estas ‘Megamanas‘ a saltitar pela grelha de combate a desferir golpes em monstros, ou outras inimigas;

Convenci-me: o título encapsula perfeitamente Grid Force – Mask of the Goddess.

Atropelado pela enxurrada de talento dos restantes 49 finalistas do Indie X, este jogo do estúdio britânico Dreamnauts Studios pega no pouco explorado formato de combate da saga Megaman Battle Network: temos uma grelha dividida ao meio, metade ocupada por uma das nossas personagens, metade ocupada pelos inimigos. Para uma saga tão bem sucedida – seis lançamentos com algumas versões duplas sucedida por um desapontante Megaman Star Force – não sei como não houve mais estúdios a pegar na ideia. Descreve-se como um tactical bullet-hell RPG.

Desenganem-se, contudo: isto não é clone nenhum. A estética é simples, inspirada em pósteres gráficos dos anos 1960 e 1970, mas muito diferenciada nas secções de gameplay. Já a narrativa é contada não só nos diálogos entre combates, mas também num interessante conjunto de vinhetas de manga, com umas lufadas de voice acting parcial aqui e ali.


Mecanicamente o ritmo é frenético. Temos um ataque básico para descarregar até à exaustão, um ataque poderoso que gasta energia e mais tarde desbloqueamos uma habilidade especial e um devastador ‘summon‘ que só podemos usar muito de vez em quando. Estamos sempre a disparar, a desviarmo-nos de ataques e a bloquear esses ataques, a principal ferramenta para sobreviver aos bosses mais fortes, que levam com o seu ataque devolvido. Essencial é também o sistema de forças e fraquezas elementais, sendo que cada uma das nossas personagens desfere ataques num e é especialmente vulnerável a outro. Rapidamente, mesmo no primeiro capítulo, é fácil morrermos se não tivermos atenção a estes pormenores – construir a nossa party de quatro contando com os elementos mais comuns entre os inimigos do nível é essencial.

A narrativa mantém-nos interessados em descobrir a identidade de Donna, a protagonista que não tem memória mas sofre um reset frequente para tentar salvar o mundo, pelo que de cada vez se reencontra com as suas companheiras. Não posso dizer que me cativou sempre a atenção (há até muitas partes mais secundárias que podemos passar à frente), mas a jogabilidade é boa e variada o suficiente para o jogo não cheirar a mofo. A frustração de querer avançar mais rapidamente no desenvolvimento dos atributos de mais personagens sem algum grind é o meu principal ponto de melhoria, já que gosto de dar igual destaque a todos os personagens quando tenho vastos plantéis à minha disposição.

Grid Force – Mask of the Goddess é uma refrescante evolução de um estilo de jogo que poucos estúdios aproveitaram depois da saga da Capcom (One Step from Eden é uma das exceções, mas num estilo bem mais retro). Até a própria Capcom vai lançar uma colectânea de todos os jogos da série, mas sem entrar pelo caminho de lhes dar um completo remake. Mostra-nos uma colecção de heroínas longe da estética tradicional, com mais ou menos peso ou curvas e tão fixes como outras quaisquer.