O ciclo de inspiração dos videojogos, da música e das séries é interessante de se observar, a frio. É curioso, por exemplo, ver que há muitos developers hoje a prestarem homenagem criativa aos jogos de plataformas da geração de 32 bits, a emular o seu level design e a linguagem desse período.
Veja-se o caso de Balan Wonderworld, o terrível jogo de Yoji Naka que vem, de uma certa forma, revitalizar os platformers desse período específico. A diferença entre Naka e muitos dos criadores indie que se têm aventurado a criar jogos de plataformas de 3D retro é simples: é que ao contrário do célebre game designer que tem sido notícia apenas pelas piores razões, muitos destes estúdios indie têm produzido excelentes jogos repletos de nostalgia.
Um dos melhores exemplos disso é Lunistice, desenvolvido pelo estúdio A Grumpy Fox e publicado pela editora Deck13. Um jogo que mantém o seu foco no essencial: uma grande experiência de platforming por labirintos tridimensionais, onde tudo o que é acessório é depurado em prol da melhor execução mecânica possível.
Lunistice não tem a velocidade de um Sonic, mas por vezes parece ter. Aliás, em muitos aspectos comporta-se melhor, na sua jogabilidade altamente dinâmica, do que algumas das abordagens tridimensionais do ouriço azul.
Os níveis estão desenhados de forma a que os façamos em modo quasi-speedrun, se a nossa eficácia e domínio do salto e do botão de ataque forem exímios o suficiente. O próprio contador de tempo despendido sempre presente no ecrã ajuda nesta missão: temos a ideia do quão longe (ou perto) poderemos estar de bater a nossa marca.
Em Lunistice não existem as habituais “vidas”. Uma queda não nos vai levar ao Game Over, mas irá contar para um desconto da nossa classificação final do nível. A avaliação que temos quando chegamos à meta, e que é subdividida em três classes distintas, é o verdadeiro elemento que nos faz esforçar para superarmos os nossos limites. Seja o tempo demorado, o número de vezes que “morremos” ou o números de origamis que apanhámos (o colecionável de Lunistice, equivalente às moedas de Mario, existindo centenas espalhadas pelo nível), são estes os verdadeiros factores de avaliação deste platformer nostálgico.
Terminar os níveis não é o desafio. O desafio é conseguir ter a nota máxima: apanhar todos os origamis, no menor espaço de tempo possível, sem morrer. Essa é a perfect run de cada nível que nos dará classificação máxima, umas 5 estrelas metafóricas que representam o nível como completado.
Ainda que a variedade de inimigos seja curta, Lunistice compensa tudo isso com um manancial de níveis distintos entre si, coloridos e altamente memoráveis, trazendo elementos das melhores inspirações dos grandes jogos de plataformas da PlayStation e da Saturn.
É curioso que facilmente poderíamos pensar que Lunistice é um produto desse tempo, em especial com a série de personalizações que os autores adicionaram para emular a experiência de jogar num CRT. São muitos os filtros e configurações que podemos alterar para encontrar aquele ponto perfeito, para o nosso gosto, para fazer Lunistice brilhar em toda a sua qualidade.
Lunistice podia ter caído na tentação de adicionar uma série de elementos contemporâneos ao género que quer prestar homenagem, mas é possível que a sua simplicidade e foco nos ingredientes essenciais sejam o maior segredo para a qualidade que apresenta no seu resultado final, tornando-se num dos melhores jogos de plataforma com inspirações nos títulos das consolas de 32 bits.