A Nintendo Switch é uma das consolas mais impressionantes de sempre. Tanto o é que a Valve se inspirou na consola híbrida da casa de Quioto para conceber a sua Steam Deck que é, no fundo, uma consola muito similar à Switch, mas muito mais capaz e (obviamente) bem mais cara que a consola da Nintendo. A Switch tanto pode ser usada como uma portátil, ou como uma tradicional consola doméstica; há tanto potencial que ficou por aproveitar que é triste refletir sobre o que a Nintendo poderia ou não ter feito e não fez. Pessoalmente, acho que é uma pena a Nintendo não oferecer muito mais com o seu serviço de subscrição Nintendo Switch Online, ou entregar o Virtual Console como estava na Wii, Wii U e 3DS.
Atualmente, o serviço Nintendo Switch Online + Pack de Expansão tem vários jogos vindos dos catálogos da NES, SNES, Sega Mega Drive e Nintendo 64. Só os jogos destas quatro consolas, que ainda têm títulos por lançar, têm um total de cento e setenta e um jogos disponíveis no serviço (incluindo as versões especiais de alguns jogos). É muito jogo pela quantia pedida pela subscrição mas, se por um lado temos quantidade, falta qualidade. Portanto só posso concluir que a curadoria dos jogos escolhidos é questionável, ou então está castrada pela validade expirada das licenças de jogos como os da Disney Interactive ou de títulos de produtoras que já não existem ou não querem investir numa forma de tornar os seus clássicos disponíveis para uma nova audiência.
A Nintendo também precisaria de reformular o conceito de entrega dos títulos que vão parar às aplicações das consolas da sua subscrição. Não há um calendário ou uma meta definida de entrega de conteúdos (bem sei que na indústria dos videojogos é difícil manter um compromisso com uma data pré-definida), faltam consolas clássicas (nomeadamente as três portáteis Game Boy) e há, por isso, uma ausência de obras que marcaram gerações de jogadores que começaram antes da Super Nintendo a gastar pilhas e a comprar periféricos de qualidade duvidosa para sessões mais confortáveis a jogar títulos como Super Mario Land, Tetris, The Legend of Zelda e Metroid II: The Return of Samus.
Sinceramente, uma fórmula que funcionaria muito melhor seria incluir a Santíssima Trindade de consolas Game Boy, com a original (ou a Pocket que tinha um grafismo a preto em vez de tons verdes), a Color e a Advance – estas três juntas numa única aplicação. O conjunto destas três consolas formam um catálogo sublime de obras vindas de todo o mundo mas, obviamente, as que foram produzidas no Japão têm um encanto especial. Há jogos que todos deviam conhecer, vindas das mentes de lendários produtores como Masahiro Sakurai, Gunpei Yokoi, Shigeru Miyamoto, Junichi Masuda e, claro, sem esquecer o saudoso Satoru Iwata. Nenhuma consola Game Boy estar no serviço de subscrição Nintendo Switch Online é uma falha gravíssima, afinal a Switch é uma consola híbrida com características de consola doméstica e de portátil. A meu ver seria mais lógico termos duas consolas domésticas e duas portáteis, como por exemplo a Nintendo 64 e SNES e o par Game Boy Color e Game Boy Advance. Porém, esta é uma vontade minha, mais um indivíduo na internet a expressar o seu descontentamento com a casa de Quioto.
Como é óbvio, este meu desejo em ver a Game Boy na Switch deve-se ao sentimento nostálgico que tenho com as experiências que tive com as consolas. Adoraria revisitar o jogo Who Framed Roger Rabbit? (tenho de rever o filme, pois está no Disney+), joguei horas a fio com um título que tinha algumas similaridades com os point’n’click que estavam apenas no PC. As minhas primeiras dores de cabeça com jogos de plataformas foram com os fantásticos Astérix, DuckTales e Bart Simpson: Escape from Camp Deadly. Contudo, também tive muitas frustrações com Double Dragon, Nemesis e Motocross Maniacs, porque nessa altura a filosofia de game design ainda vinha com o ADN dos jogos das máquinas arcade dos salões de jogos (ou seja, haver uma dificuldade acrescida para a experiência durar mais tempo). Foi com os Game Boy que cresci e absorvi uma cultura que ainda hoje adoro.
É claro que tenho preferência por jogar e descobrir indies que me despertam a curiosidade e, consequentemente, o interesse. Todavia, tal como os produtores gostam de espreitar ao passado para se inspirarem, também gosto de passar pelo pretérito para perceber o quê que já me fez feliz e moldou o gosto que tenho por passar longas sessões com uma consola nas mãos. Apesar da vinda de jogos Game Boy seja uma vontade pessoal, tenho a certeza que a Nintendo continuaria na beneficiar bastante com esta adição, até mesmo se incluíssem jogos mauzinhos como Godzilla.
Além de querer voltar onde já fui feliz, também quero experimentar os clássicos que perdi e que tantos críticos e jogadores dizem ser tão bons. Tenho, por exemplo, um grande interesse em jogar os vários Castlevania que passaram pelos Game Boy. Porém, lançamentos como Castlevania Anniversary Collection, que contém oito jogos da série da Konami, entre eles Castlevania: The Adventure e Castlevania II: Belmont’s Revenge, limita significativamente esta possibilidade. Tenho, igualmente, um grande desejo por jogar outra vez a intemporal série onde nasceu Wario – Super Mario Land. Esta série teve que inovar com a mascote da casa de Quioto pelas capacidades limitadas da portátil, o que resultou em jogos fenomenais. Infelizmente, Wario, que foi a estrela dos seus próprios jogos de plataformas, foi relegado para um papel cómico nos jogos da série WarioWare – um autêntico desperdício de talento.
Chego ao oitavo parágrafo deste texto e sinto que sabotei a minha própria argumentação em querer ver, pelo menos, uma das consolas Game Boy, se revelou numa desejo pessoal do que propriamente algo que beneficiaria a casa de Quioto – mas continuo a acreditar mais vantajoso em colocar jogos do seu catálogo do que de uma consola que já foi concorrência. Provavelmente, só sou eu a não querer comprar uma consola específica para correr jogos clássicos em emulação. A emulação é algo que evito ,apesar de reconhecer a sua comodidade, porque não é algo que resulta sempre e gosto das opções que me são entregues na Nintendo Switch, como por exemplo, de gravar quando quiser e bem me apetecer ou de retroceder segundos após ter falhado um salto num difícil jogo de plataformas. Preferia, sem sombra de dúvidas, comprar uma ANBERNIC RG552, ou a requintada Analogue Pocket – duas consolas para jogar títulos antigos com filosofias completamente distintas para reproduzi-los.
Este é um texto carregado de emoções da nostalgia que sinto de uma infância e adolescência felizes pelos jogos que joguei nas minhas portáteis; é um pretérito que quero ver no presente. A Nintendo deve ter todas as razões e mais algumas para não levar a Game Boy, Game Boy Color e Game Boy Advance à sua consola híbrida, contudo era algo absolutamente fenomenal se acontecesse. A presença destas três consolas tem um custo, que pode ser insignificante para a casa de Mario e Luigi, mas estas não dariam um lucro substancialmente elevado e imediato nos bolsos dos executivos da Nintendo – e é possivelmente por isso que não se dão ao trabalho de tornar isto uma realidade. Porém, se por milagre, num futuro próximo, poderei jogar Who Framed Roger Rabbit? ou o clássico absoluto que é Wario Land: Super Mario Land 3, mesmo que seja através do regresso do Virtual Console que esteve na Wii, Wii U e 3DS, ficaria bastante feliz.