Caçada Semanal #316
Esta caçada traz-vos um jogo e um software, ambos disponíveis no Steam, que propõem abordagens opostas sobre como usarem o vosso tempo: um quer providenciar-vos um momento de escape, de esvaziamento cerebral, após um dia cansativo; o outro propõe-vos usarem o mesmo tempo para se enriquecerem ao dominar uma capacidade.
Receio que ambos vos esvaziem o coração.
HELL DUNGEONS: THE LOST SOUL (PC)
Um one-man show e primeiro jogo da Ronin GS, Hell Dungeons: The Lost Soul é um dungeon crawler roguelike de acção. Tem “soul” e “roguelike” a si associados, mas o chamariz fica-se por aí.
Ao longo de mais de cem masmorras que se tornam gradualmente mais desafiantes, pegamos num cavaleiro completamente coberto de armadura, munido apenas de uma espada e algumas poções, e vamos dando cabo dos maus. Cada masmorra tem áreas que nos são fechadas até limparmos as ondas de inimigos da área em que estamos, para depois se abrirem as restantes, divididas entre salas principais e secundárias, onde normalmente só encontramos baús de itens.
Consigo perceber a ideia do criador de um jogo super linear, com visuais muito simples, em que só temos de brandir a nossa espada e ir de área em área, à medida que nos são dados mais inimigos e armadilhas para ultrapassar. Mas se nos visuais até fiquei relativamente rendido ao love child entre Runescape e Minecraft – e é um jogo bastante fluído – já não posso dizer o mesmo da perspectiva de repetir isto ao final de todos os dias extenuantes, pois há opções melhores, seguramente mais relaxantes. Sinto falta de mais formas de ataque que não a espada, embora o comando de defesa seja simples e intuitivo. A câmera é um pouco estranha e o lock-on aos inimigos risível, sendo preferível andar por ali a dançar com o rato.
Para primeiro projeto, sem dúvida há margem para o criador crescer e voltar com um jogo mais variado e apelativo. Caso contrário não vejo os €6,89 justificarem-se.
COMPUTER KEYBOARD (PC)
Numa proposta completamente diferente – e admito que fiz batota pois este é um software na Steam e não um jogo – Computer Keyboard propõe-se como uma ferramenta de aprendizagem de como escrever ao computador sem olhar para o teclado.
Para os leitores mais jovens – e isto certamente já nem sequer é do meu tempo – a ideia de aprender a escrever num teclado deve soar ridícula, uma vez que é tão natural para qualquer nativo digital, seja ele mais ou menos proficiente. Antigamente, cursos de dactilografia eram populares para pessoas em busca de empregos de escritório, já que havia muita cópia ou redacção de conversas que exigia profissionais rápidos e eficientes a debitar caracteres.
Hoje em dia, sendo a vertente de cópia e simples redacção muito menos preponderante, a maioria das pessoas pensa e cria aquilo que escreve, à medida que escreve, pelo que a diferença de rapidez entre um tipo de profissional e outro não é tão preponderante, como um estudo (não tão) recente descobriu. Ainda assim, Gracius Sosa desenvolveu este software que procura reintroduzir a intuição e o reflexo muscular no quotidiano moderno.
Admito que a maneira como o programa está previsto não me é intuitiva à maneira como acabei por analisar como escrevo num teclado: são-nos dadas poucas teclas no ecrã, que nos obrigam a posicionar as mãos da forma mais correcta. Os comandos apresentados são de pressionar uma das teclas apresentadas no conjunto das que são visíveis (aleatoriamente), com um tempo limite. Esse tempo vai diminuindo à medida que o número de teclas no ecrã aumenta, obrigando-nos a treinar repetitivamente essa memória muscular.
Escrevi uma boa parte das linhas até aqui sem olhar para o teclado, porque pensei nas palavras e sei onde devo ir com os dedos. Experimentei o mesmo a copiar palavras inteiras, o que ainda é natural. Reparei que uso maioritariamente sete dedos a teclar, mas por vezes o mindinho esquerdo lá aparece também. Não sei se cientificamente é o mais correcto – a verdade é que ver-me obrigado a pressionar apenas uma letra de cada vez foi frustrante e muitas vezes falhei. Quiçá não me treinei o suficiente – mas a verdade é que só muito esporadicamente necessito de olhar para o teclado, salvo para fazer alguma acentuação.
Computer Keyboard pega numa muito boa ideia, a meu ver, mas ainda está muito limitado. Com muitas versões de teclado disponíveis (QUERTY, AZERTY, ambos em várias línguas e não só), senti falta do teclado PT-PT e de mais modos de aprendizagem que não a obediência cega à tecla no ecrã.