É muito raro começar um texto com ideias pretensiosas, mas de vez em quando alguém tem de tirar o lugar ao nosso querido líder e ser o pretensioso da casa. O template padrão da SONY, aventura em terceira pessoa, não resulta bem comigo. Claro que God of War é dos meus jogos preferidos, mas, até agora, é o único que considero verdadeiramente excepcional, sendo que todos os outros, apesar de gostar deles, não ia “daqui ali” para os jogar. Pedi Sackboy: A Big Adventure (doravante somente Sackboy), mas o jogo ficou perdido nos meandros duma infindável lista de emails durante o Indie X. Esqueci-o um pouco pelo entusiasmo do evento, mas também porque pouco se falou nele neste lançamento para PC. Começo já pelo pior, os ecrãs de lançamento do jogo sofrem duma optimização terrível, e o jogo nem arrancou no meu PC, tive de o jogar somente no portátil, mas mal arrancou percebi que estava perante uma pérola que estranhamente poucos falaram.
Como faço habitualmente este texto não é uma análise, para isso espreitem o texto do grande Rui Parreira, muito mais abalizado nessa área que eu.
O mercado nacional de consolas está completamente dominado pelas marcas nipónicas, ambas com um portefólio poderosíssimo de jogos first party. A malta da SONY há muito se vai intitulando de jogador hard core e tem um apego gigante à sua caixinha de plástico, endeusando todos os jogos que por lá saem, e votando na sua reconhecida qualidade jogando quase todos. Este facto faz com que os relançamentos destes jogos para PC não tenham no nosso país grande eco, dado que a maioria das pessoas já os conhece e nem há grande interesse de um redactor o rejogar e escrever sobre ele, nem de um portal perder o seu tempo com um artigo que poucos cliques lhes irá render.
Somando a isso, Sackboy não é um jogo para jogadores a sério. Sackboy é um joguinho de plataformas onde pontificam e são protagonistas bonequinhos de trapos… tão fofinhos… Sackboy é apenas a tentativa da SONY de alargar o seu portefólio a mais géneros e tentar puxar um bocadinho da malta da Nintendo, esses é que jogam jogos para crianças como o Super Smash Bros Ultimate ou o Zelda Breath of the Wild. Sackboy não é para se levar a sério, é para se comprar no Natal e dar a um filho… e depois acabarmos por ficar viciados às escondidas.
Sackboy sofrerá desse estigma. Não é do género certo para o “gamer a sério”, e o seu nome ainda não tem o peso comercial que tem, por exemplo, Crash Bandicoot, o que o torna um produto periférico, mas quem me dera que todos os produtos periféricos fossem como este, ou ainda melhor, que todos os jogos da Xbox tivessem, pelo menos, esta qualidade.
A atenção dada ao detalhe em Sackboy é espantosa. Está tudo no seu devido lugar, os cenários movem-se de forma coordenada com a música, a dificuldade escala muuuuito devagarinho, para nem nos apercebermos que estamos cada vez mais proficientes nas plataformas e puzzles que vão sendo introduzidos a uma velocidade constante, mas não de forma a que apareça tudo de uma vez, aliás, é mesmo este tempo que nos é dado para apreciarmos tudo o que de novo o jogo nos dá que me agarrou de imediato, já que não se cedeu à tentação de mostrar a mão de forma demasiado rápida. Tudo é feito no seu tempo, e dificilmente ficamos a olhar para o ecrã a ver se nos lembramos como se fazia determinado movimento que apenas nos foi explicado no início do jogo e nunca mais foi usado durante 5 horas.
Mesmo o detalhe gráfico é sublime. Parece que conseguimos ver cada fio que aparece em todos os bonequinhos. São lindos! Os inimigos são diversos e actuam de maneiras diferentes, os níveis são todos bem distintos, como se tivessem separado todos os criadores e lhes tivessem dado liberdade total para prosseguirem as suas ideias mais inconvencionais. Em nenhum momento me senti aborrecido, algo a que ajudou o facto da maioria dos níveis serem pequenos, permitindo que conseguisse saltar de um para outro num piscar de olhos. E tantos, mas tantos níveis que nos dão…
Não imagino a quantidade de dinheiro que se investiu na banda sonora do jogo. Assim de cabeça lembro-me de músicas com Bruno Mars, The Chemical Brothers, Spoonbill, Brandt Brauer Frick, Kool and The Gang, David Bowie, The Go! Team, e tantos outros que me esqueci. Esta banda sonora é digna duma publicação. Quem dera nos anos 1990 terem tudo isto quando as compilações eram moda.
Sackboy foi o jogo de plataformas em 3D que mais gostei de jogar, incluindo Super Mario Odyssey, do qual me aborreci de forma relativamente rápida. Não entendo como passou ao lado da luz dos holofotes, mas se estas palavras servirem para alguma coisa, espero que seja para comprarem este jogo. Duvido que alguém se arrependa disso.