Como sabem, passo algum tempo a viajar na nostalgia, a pegar em consolas e cartuchos antigos e tentar reencontrar alguns momentos da minha infância através dos jogos que a compuseram. A minha abertura (e procura) de jogos novos que de alguma forma mimetizam esse sentimento pela sua abordagem nostálgica tem-me levado, ao longo de anos, a descobrir verdadeiras gemas do que apelido de novo-retro.
Blazing Chrome, desenvolvido a quatro mãos pelo estúdio brasileiro JoyMasher, foi um desses casos. O anúncio do seu novo jogo, Vengeful Guardian: Moonrider deixou-me instantaneamente curioso para perceber o novo patamar de qualidade atingido pelo estúdio de Curitiba, já que desde que joguei o primeiro jogo, Oniken, que percebi essa onda progressiva de crescimento que os dois criadores imprimem nos seus jogos.
Antes de o descrever em detalhe, é um enorme elogio que teço ao afirmar que Vengeful Guardian: Moonrider conseguiu levar-me de volta ao Verão de 1994, quando o meu vizinho me emprestou a sua Mega Drive para eu jogar nas férias. Há um risco em olhar para os jogos retro e mimetizá-los como se estivéssemos a utilizar papel-químico. E existem muitos estúdios que se limitam a fazer isso mesmo, um exercício de emulação criativa. Mas o estúdio JoyMasher sempre foi, e vai, muito mais longe do que isso.
A forma como Vengeful Guardian: Moonrider representa um olhar inteligente e talentoso sobre um período específico da criação de videojogos, e utiliza essa sua observação de jogos como Shinobi, em especial o terceiro, para nos brindar com um jogo brilhante.
As semelhanças com Shinobi III: Return of the Ninja Master não só são óbvias, como não são escondidas ou disfarçadas pelos seus autores. Mas essa inspiração base não é limitadora ao que Vengeful Guardian: Moonrider nos entrega: a acção é coesa, os movimentos orgânicos (apesar de paradoxalmente estarmos a controlar um ninja ciborgue), e a qualidade artística – visual e musical – é do melhor que encontramos numa experiência revivalista.
O nível de detalhe na utilização de pixel art em Vengeful Guardian: Moonrider é do melhor que podemos encontrar em novos jogos ao estilo de 16 bits. A mestria artística visual do estúdio JoyMasher assume aqui um patamar de qualidade difícil de alcançar na maioria dos jogos lançados com esta aura revivalista.
É curioso que para além da óbvia inspiração em Shinobi e Strider, que exista também um mecanismo herdado do Mega Man. Cada boss, depois de derrotado, confere-nos uma nova habilidade, e, à semelhança da grande série da Capcom, temos 6 bosses diferentes para derrotar, e podemos fazê-lo cumprindo qualquer ordem que escolhermos.
Se Joe Musashi ficou marcado na nossa memória colectiva também por níveis a cavalo, que diferem ligeiramente a jogabilidade, Moonrider, o titular protagonista, leva-nos numa outra perspectiva em segmentos motorizados de shoot’em up pelas estradas da sua cidade cyberpunk. Segmentos que, admito, não são os meus favoritos, onde o salto e os tiros estão presos a algumas memórias – para mim – menos bem conseguidas no passado, mas que ao mesmo tempo conseguem diversificar o tom e o sabor de um jogo que sabe o que quer fazer, e que o faz de uma forma soberba.
Apesar de ser um jogo curto, Vengeful Guardian: Moonrider é uma das melhores experiências que vivi nos últimos tempos a jogar algo que tem uma sensação clássica de arcada, mas que ao mesmo tempo soube aprender e inovar com tantos exemplos do passado. Para todos aqueles que querem reviver os tempos áureos da Mega Drive três décadas mais tarde, ou apenas para quem quer jogar um bom jogo bidimensional de acção, Vengeful Guardian: Moonrider é uma viagem cyberpunk obrigatória.