Não tinha reparado em Hitman: Freelancer, e seguramente não repararia não fosse um rio de felizes coincidências. A verdade é que há pouco interesse em falar de DLCs de jogos, especialmente quando são gratuitos e provavelmente eu teria feito o mesmo não fosse ter considerado duas situações, primeiro a excelente acção realizada pela IO Interactive após se ter lançado a solo, de ter juntado a última trilogia Hitman em apenas um jogo, Hitman World of Assassination tornando o jogo uma excelente proposta para o jogador, e em segundo porque Hitman: Freelancer é um twist muitíssimo engraçado na fórmula de Hitman.

Admito que fiquei algum tempo a ler o press release só para tentar perceber se Hitman: Freelancer era um jogo à parte ou se era um DLC. Nem tinha ouvido falar dele, o que é estranho para um jogo desta dimensão, nem aparecia muita coisa online a explicar o que era, mas depois percebi, neste mundo tudo gira em torno de cliques e estes pequenos artigos de opinião já geram muito poucos para um jogo novinho em folha, logo ainda menos gerarão para um DLC gratuito para um jogo com mais de um ano de idade.

Esta é mais uma das muitas peculiaridades dos portais que me custa a entender, já que tirando um punhado de redactores, todos nós fazemos isto porque gostamos de o fazer, não por recebermos qualquer contrapartida (excepto uma quantidade anormal de jogos, e mesmo nesse caso nem sempre é verdade), é uma ajuda para alguém que possa eventualmente ter alguma dúvida.

Então, mas qual a ajuda a dar neste caso se o jogador já tem o jogo e este DLC entra directo? Bem, primeiro porque podem nem ter reparado nele, e depois porque vale mesmo a pena ir experimentar.

Hitman: Freelancer, no fundo, introduz um componente roguelite a Hitman. Há que o admitir, faz sentido.

À superfície pode parecer que pouco mudou, mas ao jogarmos percebemos que muito mais está em jogo, porque um erro faz-nos voltar ao início de múltiplas missões com muito pouco para nos oferecer nessa altura.

Durante o jogo temos sucessivos blocos de 3 missões que temos que bater para conseguirmos concluir esta “história”. Nas primeiras duas missões temos que eliminar líderes intermédios de carteis para na última utilizarmos a informação recolhida para, com base em descrições físicas, identificarmos e eliminarmos o líder.

Parece mais Hitman, mas tirando o Agente 47, Diana Burnwood (outro esteio da franquia) e dos icónicos disfarces, tudo no jogo sabe muito diferente.

Há uma sensação de tensão praticamente permanente já que desaparece do nosso menu a opção de recomeçar a missão, cada erro dói mesmo, e nem a perda em si representa algum ganho como noutros roguelites, já que perdemos imediatamente um bloco de missões, e dado que cada cenário é proceduralmente gerado, a memorização de padrões torna-se inútil nas tentativas futuras.

E o que ganhamos quando fazemos tudo certo? O jogo tem um hub central. Uma espécie de caverna do Batman, mas com mais classe. Consoante vamos concluindo missões vamos ganhando itens e armas que nos ajudam em missões futuras, mas sempre com um jogo de risco e recompensa, já que se não formos bem sucedidos perdemos todos os itens que temos e metade da moeda.

Não sermos bem sucedidos não representa que somos apanhados, pode também significar que não apanhámos o nosso alvo. Nesses casos conseguimos voltar ao nosso esconderijo e, aí, diz a lógica que devíamos manter todos os itens que tínhamos connosco, mas não. Até pensei que fosse um bug qualquer que tinha apanhado na primeira vez que aconteceu. Chegar ao esconderijo e itens que tinha lá guardados terem desaparecido, mas aparentemente é mesmo assim e com isso não concordo. Talvez um pouco para nos incentivar a experimentar e não a juntar todos os itens sem os usar. Não sei explicar a razão e não concordo com ela, mas isto apenas acrescenta mais peso à importância de cada missão.

Como é habitual o sistema de recompensa está muito ligado à forma como concluímos a missão e não ao facto de a concluirmos. De forma genérica, quanto mais criativos formos a apanhar o nosso alvo, mais recompensados somos, mas até aqui o risco é enorme, já que se agitarmos muito as águas numa missão, levantamos suspeitas nas seguintes, tornando-as desnecessariamente mais difíceis do que seriam.

Cada bloco de missões concluído com sucesso torna o seguinte mais difícil. Eu nunca consegui passar do terceiro bloco, mas estou muito longe de ser um especialista neste tipo de jogos. A certo ponto só me apetece disparar para todas as direcções, especialmente porque o jogo não é isento de problemas. De repente lembro-me de um que me irritou imenso. Numa das missões para eliminar o líder de um dos carteis havia 4 suspeitos que teria de descartar baseando-me nas suas descrições físicas. Quando comecei vi esses quatro suspeitos, e logo o primeiro me pareceu o certo, mas como não tinha visto os outros, procurei-os para os descartar. A certo ponto, e sem me aperceber, desaparece um. Eu sabia que ele existia porque já o havia visto, e porque a missão dizia que eram 4 e nenhum dos que restava correspondia exactamente à descrição. Quando me irritei cometi um erro qualquer, um dos elementos fugiu e falhei a missão. Era essa a pessoa que devia ter eliminado? Aparentemente sim, mas não correspondia à descrição. Enfim, é uma dúvida que mantenho.

Hitman: Freelancer é como jogar dados. São os mesmos dados, é o mesmo jogo, mas o resultado acaba por ser diferente, embora nós consigamos perceber que é a mesma coisa. Pronto, eu sei que esta descrição fica confusa, mas é mesmo assim, e considerando que é gratuito, merece que voltem a meter o disco na consola para jogarem umas missões.