Nem sempre a qualidade é suficiente para que um jogo indie vingue. Como tem sido comum ultimamente, apenas me apercebo de alguns excelentes projectos quando estão prestes a ser lançados, ou mesmo depois disso acontecer. Strayed Lights está a ser um desses casos. Vi-o, fui pesquisar se tinha alguma demo, joguei-a e agora estou a escrever. Isso mesmo, tudo de enfiada!
Strayed Lights junta um estilo gráfico que me lembrou imediatamente uma muito bonita versão a três dimensões de Ori, mas que se joga muito num estilo souls-like, embora numa versão muito alterada, onde temos de combinar o nosso parry com a cor que o inimigo tem, ao mesmo tempo que temos de nos desviar de golpes que não podem ser bloqueados.
Para além de ser um jogo lindo de morrer, este twist na luta deu-me cada nó no cérebro que, por vezes, este acabou a bater nos calcanhares, porém nem o jogo nos prega partidas nem a luta é de alguma forma injusta, já que nos dá a capacidade de memorizar as sequências de golpes e cores dos inimigos, algo que compensa imenso a minha lentidão de reflexos. Isso aliado a pontos de save automático muito generosos retira grande parte da frustração que jogos neste estilo costumam oferecer. Também generosa é a forma de recuperarmos vida, que está associada a cada parry perfeito, o que nos permite uma longevidade assinalável.
Como é bonito o mundo de Strayed Lights, um mundo em que jogamos como um ser de luz e, ao que parece, estamos a lutar contra os nossos demónios. Curiosamente isso fica claro no jogo, já que percebemos que, muitas vezes, o nosso inimigo é bondoso e sentimos mesmo que somos o mau da fita até percebermos o que resulta de cada confronto com um boss. Bem, não sei se isso vai acontecer com todos os bosses, aconteceu com o da demo, e esse estava muito bem caracterizado.
Tiro o chapéu a quem imaginou o cenário em que o jogo decorre, onde a cada minuto nos dá vontade de parar e apreciar a vista. Há também uma componente de exploração, embora um pouco limitada já que o jogo é linear, não é um mundo aberto, mas nos permite alguns desvios para encontrarmos orbs que nos aumentam algo que não tive tempo de perceber.
Cada inimigo derrotado não nos dá somente um novo ponto de vista sobre a beleza do que estamos a admirar, também nos dá pontos para desbloquearmos habilidades. Sim, há uma árvore de habilidades que aparenta dar-nos mais opções para nos defendermos ou permitir o contra-ataque num jogo que doutra forma seria marcadamente defensivo, embora tenha de admitir que, na prática, não percebi bem o ganho que tive com a habilidade ofensiva que desbloqueei.
Com uma musicalidade marcadamente tranquila, há uma clara demarcação do espírito try-hard deste tipo de jogos, quase que nos levando ao colo em velocidade de cruzeiro a observar o excelente cenário que nos oferece.
Só para acabar, e já esquecia esta parte, Strayed Lights é um jogo duma beleza assinalável, mas não aparenta ser apenas uma cara bonita, já que parece ter uma interpretação muito criativa do que pode ser um souls-like. No meu radar e wishlist já conseguiu entrar.